* * *
Segurava firme a lâmina em suas mãos, procurando ao máximo manter a precisão nos cortes. Aquilo parecia mais difícil do que achou.
- Vira um pouco a faca na horizontal, vai facilitar. - o homem ao seu lado aconselhou.
Tentando novamente, Raven raspou uma fina camada de madeira com mais facilidade, olhando para Gaspar em expectativa, que o fez sorrir. O que era esse clima amigável de repente? Acontece que Gaspar resolveu ensinar Raven a esculpir em madeira em agradecimento por tê-lo salvo de se afogar - esse fora o pedido da loira.
Naquele momento, se encontravam sentados no chão do convés, rodeados de raspas de madeira. O homem tinha um totem quase perfeitamente esculpido em suas mãos, enquanto Raven lutava para moldar um simples pássaro, chegando a suar um pouco. E, falando em pássaro, Fawk acompanhava atentamente o sofrimento de sua companheira, ao seu lado.
- É muito difícil! - exclamou em dado momento.
Gaspar riu.
- Exige muita prática. Você pega o jeito.
Suspirando, a loira desistiu de tentar por ora, apenas guardando o pássaro malfeito no pequeno bolso do vestido e agradecendo o carpinteiro pelos ensinamentos – mesmo que não tenha absorvido muito.
Andando pelo andar de baixo do navio, ouviu um praguejar vindo diretamente do que parecia ser a cozinha. Seguiu as vozes – e principalmente o cheiro bom – e pôs a cabeça na entrada, podendo ver Viviene rindo de braços cruzados encostada no balcão e um homem, que parecia ser o cozinheiro responsável, xingando uma pobre panela no fogão.
Ele era alto e forte, tinha pouco cabelo barba abundante no queixo, sua pele era escura assim como o cabelo, parecia ter por volta de uns quarenta anos. Na sua opinião, ele era amedrontador, mesmo vestido com um avental de cozinhar.
- Mas por que você não faz um doce comum? - Viviene pergunta, e imediatamente o homem vira para ela como se estivesse escutado a maior barbaridade já proferida.
- Eu não faço receitas comuns. - revira os olhos, como se fosse óbvio - Sempre tirei elogios dos meus consumidores, e não vai ser diferente agora. Fora que... - contrariando toda a sua postura estóica, sua face se torna temerosa -... um doce diferente seria bom para adoçar o humor da capitã.
A mulher no cômodo concorda. Mégara estava com um gênio terrível nos últimos dias - mais do que o normal -, ninguém sabia se era por algo a mais ou pelos ferimentos que lhe impediam de exercer sua função normalmente - principalmente por Delilah pegar no seu pé constantemente para ficar em repouso.
No fim, o mau humor da capitã botava medo até no mais gigante homem da tripulação.
- Ei, Raven. - tomou um susto ao ter seu nome proferido pela de cabelos curtos, sua face se colorindo em vermelho por ser pega escutando - Entra aí. Você sabe fazer algum doce?
- Viviene, o que eu falei sobre pessoas na minha cozinha? - o homem falou, parecendo ainda mais ameaçador com as mãos na cintura, lhe olhando atenta e seriamente.
- Se acalma aí, grandão. Ela pode saber ajudar.
- Er... você perguntou se eu sei fazer doce? - sua postura era a menor possível, parecia um gatinho assustado e encolhido.
- Sim, o Rogh não tá com muita inspiração pra doces ultimamente. - Viviene não parecia se incomodar com os olhares fulminantes do dito cujo em suas costas.
- B-bem... eu sei uma receita, se eu puder ajudar... - a presença dos dois ainda a intimidava.
- Claro que pode! - aos protestos de Rogh, Vivi empurrou gentilmente Raven ao balcão, a ajudando a realizar a receita.
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Águas Escarlates
RomanceVingança. É para isso que Mégara Umiko, uma pirata temida por todas as ilhas do reino de Altaron, acorda todos os dias. Vivendo em um dilema interno que somente ela sabe, Mégara rapta Raven, primogênita do homem que lhe provocou um trauma terrível...