Pássaros

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Estava um dia quente. Mesmo que se banhasse o quanto quisesse, o calor persistia em trazer o desconforto. Mégara não aguentava mais ficar naquela casa, parada e quieta, sempre fora do tipo que não conseguia ficar parada por muito tempo, ainda mais sentada perto daquela janela, sem fazer nada, apenas observando o mar. Não que não gostasse, apreciava e admirava incansavelmente a vastidão azul, sempre amou inexplicavelmente o mar.

Suspirou mais uma vez, se abanando com um pequeno pedaço de madeira - foi o que achou para tentar remediar o calor e um pouco da maresia que lhe grudava à pele.

Desde o acontecimento que mudou a sua vida alguns meses atrás, estava estagnada nos dias que se passavam, vendo constantemente o nascer do sol e o cair da noite. Parecia que vivia no automático, sua mente ainda estava em estado de torpor, evitando memórias pelo seu próprio bem. Seu peito, pelo contrário, parecia sempre querer lembrá-la da dor, se corroendo em um sentimento de angústia aflorando cada vez mais.

Precisava sair daquela rotina.

Passos se fazem audíveis, ao virar, pôde ver a figura grisalha de Hanzel parado à porta, com roupas leves.

– Vou à vila. Tenho que resolver um assunto e comprar algumas coisas.

Mégara assentiu. Havia uma vila depois do matagal e da praia que cercava a casa em que estava, a última vez que tinha ido lá foi quando veio pela primeira vez.

Quando a fechadura se destrancou, a morena saltou da cadeira, com uma ideia em mente.

– Posso ir com o senhor?

Hanzel se surpreendeu. A menor nunca tinha pedido para sair desde que veio, ele não sabia o que lhe acometia, mas era comovido pela figura da garota sentada diante da janela, parecendo estar em uma batalha interna inquietante.

– Pode. – sorriu pequeno, destacando as linhas que rodeavam os olhos.

Mégara rapidamente calçou os sapatos e pegou seu lenço roxo de bordados brancos, amarrando-o desde o topo da cabeça até a nuca e seguindo o mais velho.

...

Hamaville era agitada a essa hora da manhã, com pessoas andando, comerciantes com suas barracas de vendas e até crianças correndo e brincando. Como se para "proteger-se" de qualquer interação humana consigo, Mégara agarrava firmemente na barra da blusa de Hanzel, com o corpo inteiramente tenso. O homem, mesmo quieto, achou graça dos olhos curiosos e medrosos da jovem rodeando a agitação.

– Não fique com medo. Com a minha presença, será difícil algo lhe acontecer. - tentou tranquilizá-la.

– Não estou com medo. – contrariando o que afirmava tão firmemente, Mégara chegou mais próxima de suas costas quando algumas crianças passaram correndo perto de si, com os olhos espantados seguindo as pequenas figuras.

Hanzel riu audivelmente, causando irritação na garota, ainda que estivesse envergonhada.

Andaram por alguns momentos, até que algo chama a atenção da morena. Um homem correndo, com algo na mão, e umas gritaria logo atrás. Alguém tinha sido roubado.

Sem perceber, pela distração tinha soltado a mão que lhe prendia em segurança a Hanzel. O procurou com os olhos, mas sem sucesso. Tentava não ficar em pânico enquanto rodava incessantemente, procurando o homem com inquietação.

Ocupada em andar e procurar o mais velho, ficando cada vez mais desesperada no processo, não percebeu alguém atrás de si, apenas quando esbarrou na pessoa ao virar. Mesmo que pega de surpresa, o baque não foi o suficiente para lhe levar ao chão.

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⏰ Última atualização: Apr 03 ⏰

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