2.

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As primeiras luzes da madrugada infiltravam-se timidamente pelas frestas das janelas sujas, trazendo consigo um silêncio pesado e um senso angustiante de solidão. Meu corpo, marcado por hematomas e dor, testemunhava a brutalidade da noite anterior. Cada memória daquele cliente, um eco doloroso da minha realidade, parecia queimar em minha mente como brasas incandescentes.

Já havia se passado umas duas longas horas desde que o cliente havia partido, deixando para trás um rastro de degradação e abuso. Meu corpo estava marcado, não apenas fisicamente, mas também emocionalmente. As lembranças daquela noite de servidão pesavam como uma âncora, puxando-me para o fundo de um oceano sombrio de desespero.

Eu estava sentado, com as pernas coladas ao meu peito, em uma tentativa de me encolher, como se pudesse me esconder da terrível realidade que me cercava. Minha mente era uma tempestade de emoções conflitantes, uma mistura de raiva, vergonha e desespero.

A decisão de escapar daquele pesadelo havia finalmente tomado conta de mim. Mesmo sentindo uma dor insuportável reverberando por todo o meu corpo, cada movimento era como uma luta contra as correntes que me prendiam àquele lugar de tormento. Era a minha última esperança, a única chance de reaver minha liberdade.

Ao levantar rapidamente da cama, minhas pernas trêmulas mal conseguiam sustentar meu peso. Cada passo era uma agonia, como se meu corpo estivesse em chamas. Mas eu me recusei a ser derrotado, meu desejo de escapar sobrepujando a dor.

Chegando à janela, minhas mãos trêmulas tentaram desesperadamente abri-la, mas ela permaneceu inamovível, como se zombasse da minha fraqueza. Então, com todas as forças que me restavam, comecei a bater na janela com punhos cerrados, o desespero sendo minha única motivação.

A janela, finalmente, cedeu com um estilhaçar de vidro que ecoou como um grito de libertação. Alguns cacos me cortaram, mas aquelas feridas eram insignificantes comparadas àquelas que eu havia acumulado ao longo dos anos. Sem hesitação, passei para o outro lado, adentrando a noite escura como um fugitivo, correndo pela minha vida, enquanto o medo, a dor e a incerteza me acompanhavam, como sombras implacáveis.

Minha fuga era uma corrida desenfreada, como se minha vida dependesse disso, e, na verdade, era exatamente o que estava em jogo. A cada passo, a dor em meu corpo ainda ecoava, mas eu me recusava a parar. Cada esquina, cada esquina escura, era um ponto de decisão, onde eu tinha que escolher o caminho que poderia me levar à liberdade.

De tanto correr, minhas pernas pareciam queimar em agonia, como se estivessem prestes a ceder a qualquer momento. Minha respiração estava entrecortada, meu coração martelava em meu peito, e minha mente estava saturada de medo e desespero. Eu sabia que não havia retorno, que eu não podia mais voltar para aquele lugar de tormento.

E então, enquanto eu continuava minha corrida desesperada, comecei a ver os primeiros raios do sol surgindo no horizonte. Era um espetáculo de beleza que contrastava de forma dramática com a escuridão que eu estava deixando para trás. O nascer do sol, com sua luz dourada, era como um lembrete de que havia esperança, de que a escuridão podia ser vencida, e de que a liberdade estava ao alcance.

A exaustão tomava conta de mim, cada passo pesado como uma carga que eu carregava desde muito tempo. Enquanto seguia pelas ruas desoladas, meus olhos cansados encontraram um beco sombrio e abandonado. Era um lugar onde a sociedade havia virado as costas, e parecia um refúgio temporário no meu caminho incerto.

Quando me aproximei do beco, notei alguns papelões espalhados pelo chão. Uma ideia desesperada tomou conta de mim, uma tentativa de encontrar um momento de alívio e descanso, mesmo que efêmero. Com passos trôpegos, me aproximei dos papelões e me deitei sobre eles, como se aquele gesto simples pudesse acalmar a tempestade de emoções que me assolava.

O frio do concreto e a dureza do papelão não eram importantes naquele momento. Aquela era minha cama improvisada, e eu fechei os olhos, permitindo-me cair em um sono fugaz. Era um sono agitado, cheio de pesadelos, mas também de um breve refúgio da realidade.

Enquanto eu descansava, a vida continuava lá fora, indiferente ao meu sofrimento. Aquela pausa fugaz era apenas um pequeno respiro em meio ao turbilhão de desespero que era minha existência. Mas naquele breve momento, eu me permiti sonhar com um futuro onde a liberdade e a dignidade não fossem apenas quimeras distantes.

Eu cuido de você - Bakudeku Onde histórias criam vida. Descubra agora