10.

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Ao voltarmos para casa carregados de sacolas, a noite começava a avançar. O clima estava leve, e a surpresa da manhã ainda ecoava em nossos sorrisos. Entretanto, algo na atmosfera mudou quando chegamos à porta de entrada. Um vento gelado pareceu cortar o ar, fazendo-me tremer involuntariamente.

Kaachan, normalmente destemido, franziu a testa levemente, como se também tivesse sentido a mudança no ambiente. Ignorando a sensação desconfortável, entramos em casa e dispusemos as sacolas no chão.

-Deku, sentiu isso? - perguntou Kaachan, olhando em volta como se esperasse encontrar algo.

-Sim... é estranho, não é? - respondi, sentindo um arrepio percorrer minha espinha.

Decidimos não dar muita importância ao desconforto momentâneo e seguimos para o quarto. No entanto, ao adentrarmos o ambiente, algo parecia estar diferente. Uma sombra inusitada dançava nas paredes, alimentada apenas pela luz fraca do abajur.

-Kaachan, você acha que... - comecei a dizer, mas antes que pudesse terminar, as luzes piscaram e se apagaram completamente.

O silêncio tomou conta do quarto, rompido apenas pelos nossos suspiros cautelosos. Kaachan, normalmente imperturbável, não pôde esconder um lampejo de incerteza em seus olhos.

-O que tá acontecendo? - indagou ele, sua voz mais séria do que o habitual.

De repente, um som estranho ecoou pelo quarto, algo entre um arranhar de garras e um murmúrio distante. Olhamos um para o outro, a tensão crescendo. Kaachan, sem hesitar, puxou-me para mais perto dele.

-Fique perto, Deku - sussurrou ele, como se temesse que algo pudesse nos ouvir.

A escuridão tornou-se mais densa, quase palpável. Uma lufada de vento fez as cortinas se agitarem, e o frio pareceu penetrar até nossos ossos. Em um impulso, Kaachan acendeu a lanterna do celular, iluminando o ambiente somente para descobrirmos que estávamos sozinhos.

O som sinistro continuava, tornando-se mais próximo, como se se movimentasse pela sala. Kaachan, normalmente cético, não pôde evitar uma expressão de desconforto. Eu, por outro lado, apertei o moletom que agora usava, buscando alguma segurança.

-E se... e se for um fantasma? - murmurei, olhando ao redor com cautela.

-Fantasma? Não sejamos ridículos, Deku. Deve ser alguma coisa caindo ou... - Kaachan tentava manter a racionalidade, mas um estrondo repentino cortou suas palavras.

Nesse momento, o pânico pareceu se instalar. Kaachan, sem hesitar, agarrou minha mão e nos dirigimos para fora do quarto. Ainda com a lanterna iluminando o caminho, a sensação de que algo nos observava pairava no ar.

Descemos as escadas, cada rangido ecoando como um sinal de perigo. O som continuava, às vezes mais próximo, às vezes mais distante, mas sempre presente. Ao chegarmos à sala de estar, a lanterna capturou uma sombra escura que parecia se movimentar, como se tivesse vida própria.

-Kaachan, o que é isso? - sussurrei, minha voz mal audível.

Ele franziu a testa, seus olhos estreitando-se enquanto tentava entender a cena à nossa frente. Foi então que a sombra se dissipou, e as luzes se acenderam, revelando nada além de móveis e objetos inanimados.

-Mas o que diabos... - começou Kaachan, perplexo, quando fomos interrompidos por uma risada ecoante que parecia vir de lugar nenhum.

-Surpresa! - exclamou uma voz familiar, e a luz iluminou o rosto sorridente de Momo, uma amiga de longa data de Kaachan.

-Momo?! O que você tá fazendo aqui? - perguntou Kaachan, ainda em estado de choque.

Ela riu, explicando que tinha decidido nos pregar uma peça, criando sons e sombras para nos assustar. O susto inicial foi substituído por risadas nervosas, e Kaachan, após o choque inicial, não pôde evitar um sorriso.

-Isso foi uma brincadeira sem graça, Momo. Poderia ter nos matado de susto! - reclamou ele, embora a raiva fosse mascarada por um leve tom de diversão.

-Desculpe, eu não imaginei que vocês levariam tão a sério. Pensei que Kaachan, o Herói Explodente, não tinha medo de nada! - provocou ela, provocando um olhar indignado do mesmo.Depois de um tempo Momo foi embora e ficou eu e Kaachan na casa

A noite começava a envolver tudo em uma escuridão densa. Apesar da casa estar iluminada, uma sensação estranha pairava no ar. Kaachan percebeu minha expressão apreensiva.

- Tá com medo, Deku? - provocou ele, mas seu olhar revelava uma pitada de divertimento.

- B-bom, não exatamente... - respondi, tentando disfarçar meu desconforto.

Kaachan, sempre o destemido, resolveu fazer um programa noturno. Ele sugeriu assistir a um filme de terror para "animar" a noite. Concordei meio relutante, tentando manter a compostura.

Escolhemos um filme que parecia promissor e nos acomodamos no sofá, cada um com sua pipoca. A tensão começou a se intensificar à medida que a trama se desenrolava. Cada sombra na tela parecia se projetar pela sala, e eu me encolhia involuntariamente a cada susto.

Kaachan, por outro lado, parecia se divertir com minha reação. Ele soltava risadas ocasionais e comentários sarcásticos sobre os clichês do filme. No entanto, percebi que até mesmo ele ficava mais atento quando a atmosfera do terror se intensificava.

Em um momento particularmente assustador, involuntariamente agarrei o braço de Kaachan, buscando algum conforto. Surpreendentemente, ele não retrucou, apenas lançou-me um olhar de canto de olho, talvez mais ameno do que eu esperava.

O filme alcançou seu clímax, e uma cena especialmente assustadora fez-me pular no sofá. Sem pensar duas vezes, atirei-me em direção a Kaachan, abraçando-o de forma quase desesperada.

- Deku, você tá bem? - perguntou ele, surpreso com minha atitude.

- E-eu só... achei melhor ficar mais perto - gaguejei, sem conseguir olhar diretamente para a tela.

Para minha surpresa, Kaachan não me afastou. Em vez disso, ele envolveu seus braços ao redor de mim de maneira protetora. Aquele abraço, que antes poderia ter sido apenas uma resposta instintiva, tornou-se algo reconfortante.

- Não precisa ter vergonha, Deku. Filmes de terror são chatos mesmo - disse ele, tentando parecer indiferente, mas eu pude perceber um leve tom de carinho em sua voz.

Assim, assistimos ao restante do filme, comigo escondendo meu rosto em seu peito em momentos particularmente assustadores. Kaachan, surpreendentemente, não pareceu se importar. Pelo contrário, ele acariciava meus cabelos como se quisesse transmitir tranquilidade.

Ao término do filme, a atmosfera tensa começou a dissipar-se, e Kaachan soltou uma risada descontraída.

- Viu só? Não foi tão ruim assim.

Agradeci mentalmente por termos superado aquela experiência. Não só pelo filme, mas por perceber que, mesmo nas situações mais aterrorizantes, Kaachan poderia ser uma fonte inesperada de apoio e conforto.

Decidimos encerrar a noite, e enquanto nos dirigíamos para o quarto, Kaachan murmurou:

- Se ficar com medo de novo, pode vir dormir comigo. Eu não ligo.

Aquelas palavras, embora típicas de Kaachan, trouxeram um calor reconfortante. Adormecemos naquela noite, ambos protegendo-nos mutuamente de qualquer coisa que pudesse nos assustar, mesmo que fosse apenas a sombra de um filme de terror.

Eu cuido de você - Bakudeku Onde histórias criam vida. Descubra agora