Kim Taehyung | Uma caçada para nós (A hunt For Us)

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Encarei a janela vendo os flocos de neve caírem como pequenos pedaços de papel, senti o mal humor se alojar dentro de mim. Não que eu já não tivesse passado parte do dia carrancuda e procrastinado como uma boa ansiosa que deixa tudo para em cima da hora, mas quem ligava? Eu estava fadada a falhar daquela vez, pintar não adiantaria, escrever sobre meus sentimentos muito menos e bem, se eu não queria escrever sobre eles, muito menos desejava falar sobre. Irritada comigo mesma suspirei alto. Se ao menos Taehyung tivesse chegado, poderia encontrar alguma inspiração, mas estar sozinha em uma chácara no meio do nada não havia sido como eu imaginava. Quando decidi passar a semana naquele lugar romantizei e visualizei toda uma cena de filme, bem, até poderia estar sendo uma, mas de um filme chato.

A chaleira apitou quando a água ferveu e eu a encarei por alguns segundos até me levantar e seguir até a cozinha pequena, coloquei a água na xícara e mergulhei o sachê do chá e encarei novamente a janela, decidida vesti o casaco e as botas, mas não sai sem antes colocar um pires sobre a xícara. Algo teria de me aquecer quando eu voltasse. 

Calcei as botas e abotoei o casaco grosso para então sair na imensidão branca, ri sozinha do pensamento e dei alguns passos, boa parte das árvores estava coberta de neve e não havia nem mesmo algum pássaro para me fazer companhia, a campina estava completamente vazia. Dei mais alguns passos e xinguei baixo quando no passo seguinte afundei na neve até os joelhos.

- Mas que merda! – resmunguei quando dei outro passo e cai no mesmo lugar, a neve estava cedendo com facilidade e eu senti minhas bochechas corarem com o frio e o esforço. Parei por alguns segundos e então senti meu corpo tensionar ao ouvir um estalo como de madeira se partindo. Parei de me movimentar e olhei ao redor, não havia nada, cuidadosamente estiquei meu corpo e rastejei na neve até alcançar o solo firme, mas novamente ouvi um estampido alto e então me senti observada.

Olhei ao redor outra vez sentindo o medo crescer dentro de mim, e se fosse um lobo? Um urso talvez? De frente para a origem do barulho dei passadas de costas e então o barulho soou atrás de mim, me virei novamente em um ângulo de cento e oitenta graus, minhas mãos tremeram e mirei na direção da chácara, não conseguia vê-la, mas podia ver a fumaça que a casa liberava pela chaminé, com outra olhada ao redor corri em direção ao local, mas como se estivesse em meu encalço eu podia ouvir passadas atrás de mim, correndo tanto quanto eu. Meu coração batia tão forte que eu o escutava em meus ouvidos, mas não ousei olhar para trás, não ousei desviar das árvores e seguir na corrida para meu abrigo, os músculos das minhas coxas gritaram com o esforço e eu parei atrás de uma grande árvore. Ofeguei e algo fervilhou dentro de mim, fechei os olhos e abri a boca buscando o ar e então ali estava; a excitação atraída pelo medo. Merda! Qual era o meu problema? Não olhei para trás e calculei quanto mais gastaria até a casa, dessa vez eu não pararia, bati com as mãos em punhos nas coxas doloridas e então corri.

Corri e corri até finalmente alcançar a chácara, meus pés batendo com força nos degraus de madeira. Bati a porta com força e encostei contra ela, minha respiração alta e ofegante, meu nariz ardia e eu sentia minha garganta seca, tentei engoli mas não tinha saliva. Meu coração batia forte como um tambor e eu ainda sentia o medo pairando ali, ao meu redor, a janela ao lado da porta parecia chamar por meu nome, mas não conseguia a olhar e precisei de alguns minutos para recuperar a ciência de que eu estava dentro da chácara. Que animal poderia entrar ali? A ideia de estar em perigo despertou meus sentidos. Ri de mim mesma ainda um tanto nervosa e então relaxei os ombros, ao dar um passo e bisbilhotar o quadrado vi que não havia nada lá fora, nem mesmo um esquilo mas mesmo assim puxei a cortina clara tapando a visão do lado de fora. Soltei o ar pela boca e tirei o casaco o pendurando e então as botas cobertas de neve formando uma pequena poça no chão, mas não ousei as colocar do lado de fora, beberiquei da xícara no balcão sentindo o chá me aquecer por dentro e umedecer minha garganta seca, minhas pernas ainda doíam e meu coração bateu forte novamente quando ouvi o farfalhar do lado de fora ao passo que sentia a umidade entre minhas pernas aumentar. Porra! Sabia que minha mente me pregaria peças, mas não sabia que chegaria aquele ponto.

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