oioi, boa leitura <3
(à dois anos)
Estive pensando sobre o amor, mais do que já pensei durante toda a minha vida, enquanto caminho apressado em meio a uma multidão após mais um roubo bem sucedido.
Na minha conta, muito mais dinheiro do que o de qualquer estudante que passa correndo por mim, e na minha mente, muito mais pensamentos sobre amor do que qualquer casal almoçando no restaurante à minha esquerda.
Penso sobre amor verdadeiro, sabe? Aquele que chega quando você menos espera e é teimoso demais para simplesmente ir embora, como se olhasse pra você e dissesse "você não vai conseguir me tirar daqui".
Pensar que alguém pode te fazer feliz só por existir, sorrir pelo simples ato de pensar na pessoa, dançar sozinho cantando músicas clichês de romance que, por algum motivo, fazem você querer chorar. Isso é o amor. E toda teoria sobre ele que aprendi na faculdade se mostra ridícula ao perceber que o que eu sinto é tão diferente.
O que sinto é o amor que se esforça para transformar ligações de minutos em horas, e a distância de semanas em dias, torcendo para que seja o suficiente. O amor que faz você aceitar ouvir o silêncio por horas enquanto o outro se recusa a desligar a chamada e você também não o faz, porque assim, quando ele chegar em casa, vocês poderão conversar mais um pouco até a exaustão o levar.
É sobre o meu tipo de amor que estou falando.
Amor é pagar oito reais em um café expresso que você nem vai tomar, apenas porque não permitem assistir a televisão se não for cliente e você foi atraído pela voz dele até o estabelecimento.
Amor é você saber que a frase "pode não ser hoje, mas eu vou pegá-lo" foi pra você e anotar mentalmente para fazer piada sobre o duplo sentido da frase daqui a sete minutos, quando você ligar pra ele.
Amor é você assistir ele atender a sua ligação pela tv e ver seus lábios lutarem contra um sorriso quando você disser "você está tão bonito com essa roupa que eu quase me deixei ser preso de propósito" apenas para ver suas bochechas ficarem coradas em frente a câmera.
Amor é você saber que ele vai fingir não saber que é você quem está falando para a câmera e depois vai passar vinte minutos contando coisas que você não se importa mas que vai prestar atenção de qualquer jeito porque é ele quem está falando.
Você pergunta "como você descobriu isso?" quando ele conta algo que ele e sua equipe descobriram sobre você e ele diz "um bom detetive não revela seus segredos". Você revira os olhos, mas no fundo deseja que ele descubra mais, mesmo que isso te leve pra cadeia.
Algumas noites depois você não consegue se segurar e liga para ele do nada, sem ser após um roubo. Ele atende perguntando se você está bem, mas você se arrepende e troca de número dando uma desculpa ruim quando ele perguntar o que aconteceu.
Nessa noite você não dorme pensando sobre ele e qual será o futuro de vocês. Quando você não vê nenhuma maneira de fazer as coisas acabarem bem entre os dois, você chora até dormir e na manhã seguinte começa a planejar o próximo roubo secretamente torcendo para que ele te prenda logo apenas para que possa te visitar na cadeia.
E aí você percebe que talvez ele não te visite, e então passa dias lutando contra o amor que sente por ele mesmo sabendo que essa guerra acabará no mesmo momento em que ele atender a próxima ligação.
Porque quando você começa a lutar contra o amor, já é tarde demais. Você demorou demais para perceber ou talvez o amor tenha acontecido muito rápido. Não importa. Ninguém pode culpar você por isso. O amor já está aí.
E o amor… ele tem muito mais força do que você pode enfrentar. Ele te derruba e te destrói apenas para ter a chance de te construir de novo no próximo "oi, ladrãozinho" que seu amor falar.
— Descobrimos algo sobre você — ele sussurra antes mesmo que você tenha a chance de dizer algo — Niall está indo com tudo em cima disso, e tem poucas coisas que eu possa fazer agora, não importa de qual lado eu decida jogar.
— Não estou entendendo você — eu estava me preparando para o vigésimo sexto roubo, estava quase acabando as preparações, então fiquei extremamente confuso quando Harry me ligou diversas vezes.
Nós tínhamos concordado que ele não me ligaria nunca, da mesma forma que não falaríamos sobre detalhes do caso. Fiquei preocupado quando ele me ligou mais de cinquenta vezes às dez da manhã de uma quarta-feira.
— Eu venho me questionando sobre o que vai acontecer quando isso acabar, quer dizer, uma hora vai acabar, você livre ou preso não importa, um dia vai acabar, e aí o que será de nós? — Harry falava rápido — eu preciso priorizar meu trabalho e minha família, mas eu não quero perder você por causa disso. Não quero olhar para trás no futuro e me perguntar se eu seria mais feliz se tivesse feito diferente.
— Do que você tá falando? — eu sabia exatamente o que ele queria dizer com tudo aquilo, mas precisava da confirmação, precisava que ele me dissesse.
— Eu sei seu nome.
O silêncio após isso foi assustador. Mil perguntas, nenhuma resposta. Como sempre.
— Louis.
Mais silêncio.
Eu podia ouvir a respiração pesada dele. Suspeitava que se prestasse atenção suficiente poderia ouvir seu coração batendo forte dentro do peito.
— Meu nome soa tão lindo na sua voz.
Lágrimas escorreram pelas minha bochechas enquanto as palavras escorriam pelos meus lábios. O que aconteceria agora?
Ouço uma risada estrangulada pelo telefone.
— Louis William Tomlinson, nome de príncipe — sua voz denunciava seu choro mas eu tinha certeza de que estava sorrindo também — o que acontece agora?
— O mesmo de sempre. Você vai atrás do ladrão, e eu tento não ser pego.
Meu coração doía.
— Finja me odiar se conseguir me prender — digo em tom zombeteiro.
— Não me odeie quando eu conseguir, por favor — ele sussurra quebrado.
Nós dois sabíamos que ele conseguiria. Era só questão de tempo. Eu não tinha medo de terminar na cadeia, sempre soube que era um risco a correr.
— Nem se eu quisesse muito.
Era verdade. Eu poderia tentar me convencer de que o odeio caso ele não vá me ver, mas no fundo eu sempre saberia que o amo. Porque lutei contra o amor e perdi.
Perdi feio. Fui totalmente derrotado.
E agora estou sorrindo pensando nele. Porque ele me ligou do nada. Porque se importou em me contar o que descobriu. Porque ele me disse que iria atrás da minha família e acreditou em mim quando eu disse que seria bom ele seguir a pista para ver se minha mãe está bem, mas que não encontraria nada indo atrás dela.
Porque ele acredita no que digo. Porque nunca menti pra ele e ele não mente pra mim. Porque eu amo ele e ele…
Ele não disse se vai me visitar, mas disse que posso ligar para ele se eu conseguir um celular, então vai ficar tudo bem.
Nós vamos ficar bem. Um dia.
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Rose Who Smells Like Whisky
Mystery / ThrillerTrabalhando para o FBI, Harry sabia como usar armas e como inverstigar a vida de alguém, até conhecer a pessoa melhor que ela mesma. Ele está acostumado a demorar alguns meses para prender alguém, e é realmente bom em seu trabalho, tão eficiente qua...