Máfia Mexicana - Simone e Soraya

Chapter 04

O homem à minha frente me lançou um olhar de desdém, e uma súbita vontade de atirar bem na testa dele se apossou de mim. Certamente, seu ego deve estar nas alturas, apenas por eu estar recorrendo a ele. Eu também não desejava estar nessa situação, porém, não tenho alternativa, ele é minha única opção.

- Por favor, sente-se, Tebet.

- Heitor, peço-lhe desculpas, mas podemos evitar a enrolação e ir diretamente ao ponto? O tédio já me consumia, e a impaciência percorria meu corpo.

- Estou completamente à sua disposição.

- Supostamente, você está ciente de que um mafioso necessita de uma companheira, correto? Pois bem, tenho um prazo de duas semanas para encontrar uma noiva, e só me ocorreu procurar por você. O senhor tem três filhas, todas elas são moças comportadas, e gostaria de saber se alguma está disponível - falei aflita.

- Ora, ora, ora - o homem soltou uma risadinha sarcástica - Vejamos o que temos aqui: a poderosa Simone Tebet, a temida filha de Mariano Tebet, procurando ajuda de alguém. Isso é algo novo, devo admitir - ele parecia surpreso, e acredite, eu também ficaria.

- Eu não estou aqui para brincadeiras, portanto, se não está disposto a negociar, irei buscar outras opções.

O sujeito limpou a garganta e se remexeu na cadeira.

- Simone, você deve entender que tudo tem um preço, certo?

- Você pretende vender uma de suas filhas? - perguntei incrédula. Era de se esperar algo assim de um homem como ele.

- O que você acha? - perguntou despreocupado.

- Meu Deus! - eu não podia acreditar no que ouvia de um suposto "pai", porém não tenho escolha - Primeiramente, preciso conhecê-las. Encontrei as duas mais velhas na festa de inauguração, mas recordo-me de que você tem três filhas. Onde está a terceira?

- Soraya - Heitor falou com um certo incômodo.

- Ela está?

- A mesma não costuma sair de casa, sempre preferiu ficar em seu quarto. É bem provável que esteja lá. Deseja que eu a chame?

- Não acho que este seja o momento apropriado para isso. Que tal marcarmos um jantar em algum restaurante?

- Acho uma excelente ideia - seus dentes amarelados ficaram visíveis, e ali constatei que ele era exatamente como o descreviam.

- Enviarei as próximas informações por e-mail. Fique atento.

Ele concordou com um gesto, e eu saí dali, pois já estava sufocando. O mesmo me acompanhou até a porta, e fui embora sem dizer mais nada. Aquilo pouco me agradava.

Soraya

Cheguei em casa com as sacolas cheias de compras, sabendo que precisava ser rápida para evitar que meu pai percebesse que eu tinha ficado ausente por algumas horas. Subi as escadas o mais silenciosamente possível, segurando as sacolas com cuidado para não fazer barulho.

Enquanto subia, meu coração batia rápido. Sabia que meu pai não gostava que eu saísse sem avisar, principalmente por tanto tempo. Mas eu precisava daquelas compras. Ao chegar em meu quarto, fechei a porta suavemente e respirei aliviada. Agora era hora de agir rápido.

Desfiz as sacolas com cuidado, colocando cada item em seu lugar designado. As roupas novas foram para o armário, os livros para a estante e os produtos de beleza para o banheiro. Eu estava determinada a deixar tudo organizado antes que meu pai desconfiasse de algo.

Enquanto guardava as compras, minha mente vagava pelos momentos que passei fora de casa. Eu sabia que tinha que ser mais cuidadosa, mas às vezes a vontade de explorar o mundo fora dos limites do meu quarto era irresistível. Afinal, eu era jovem e queria experimentar coisas novas.
Terminando de guardar as compras, respirei fundo e me olhei no espelho. Tudo estava em ordem. Agora, era só esperar que meu pai não percebesse nada de estranho. Eu tinha aprendido a ser rápida e discreta, mas sabia que não podia abusar da sorte.

Satisfeita com meu trabalho, respirei fundo mais uma vez e saí do meu quarto, descendo as escadas com cuidado. Estava pronta para enfrentar qualquer pergunta que meu pai pudesse fazer. Afinal, eu era uma mestra em inventar desculpas convincentes.

Depois de um tempo, eu optei por ficar no meu quarto lendo livros até que a noite caísse, quando ouço três batidinhas na porta e um "entre" sai dos meus lábios.

- Minha menina ainda não tomou banho? - Teresa me pergunta. Ela era muito especial para mim, pois foi a única que esteve comigo quando o mundo me virou as costas.

- Ah, Nana, eu me perdi novamente no meu mundo e esqueci da minha realidade. A gente nem se viu hoje - falei segurando um travesseiro e uma almofada entre minhas pernas. A senhora de idade me lançou um olhar doce, como sempre fez.

- Minha menina nunca muda - soltou uma risadinha linda, que eu tanto amava ouvir. - Bom, eu vim avisar que o jantar está quase sendo servido, portanto, trate de tomar um banho e desça - aproximou-se e depositou um beijo na minha testa e logo depois saiu.
Após terminar meu banho, desço as escadas e me deparo com meu genitor e minhas irmãs, todos animados em uma conversa. Mas, sinceramente, não me importo em participar. Já sei que serei ignorada, como sempre acontece.

Observo-os por um instante, enquanto suas risadas preenchem o ambiente. Mas, por algum motivo, sinto-me distante, como se não fizesse parte daquela cena. A tristeza toma conta de mim, mas mantenho minha postura fria. Afinal, não adianta tentar fazer parte de algo em que serei invisível.

Decido não me juntar a eles à mesa. Não tenho interesse em tentar participar de uma conversa que não me incluirá. Prefiro me afastar, buscando um canto da sala onde posso ficar sozinha. Observo-os de longe, como uma espectadora solitária em um teatro familiar.

Enquanto eles continuam rindo e compartilhando histórias, sinto um vazio se instalando em meu peito. Por fora, sou bela e fria. Por dentro, sou apenas uma moça triste e desamparada, ansiando por amor e aceitação. Mas sei que não encontrarei isso aqui, não com eles.

Respiro fundo, tentando reunir forças para enfrentar mais um momento de solidão.
Decido me afastar da sala de jantar e buscar refúgio em algo que me traga paz e conforto. Talvez um livro, uma música ou até mesmo uma caminhada solitária pela natureza. Enquanto me afasto, uma pequena chama de esperança se acende dentro de mim, lembrando-me de que a beleza e a bondade que existem em meu interior são preciosas, mesmo que não sejam reconhecidas por aqueles ao meu redor.
Mais uma vez, me encontro deitada na cama, com os pensamentos atormentados e o estômago vazio. Não é a primeira vez que isso acontece, nem será a última. É triste, mas já se tornou uma rotina em minha vida.

Evito sentar à mesa com meus parentes, pois sei que serei ignorada, como sempre acontece. Não suporto a sensação de ser invisível, de não ser ouvida ou valorizada. Prefiro me abster, mesmo que isso signifique passar fome.

Enquanto me preparo para o sono, sinto uma mistura de tristeza e raiva dentro de mim. Por que sou tratada assim? Por que não sou digna de amor e aceitação? São perguntas que ecoam em minha mente e não consigo encontrar respostas.
Fecho os olhos com um suspiro cansado. Talvez os sonhos me tragam um pouco de alívio desta realidade dolorosa. Mas, no fundo, sei que a batalha para encontrar meu lugar no mundo e ser amada está apenas começando. E eu estou disposta a lutar por isso, mesmo que signifique seguir em frente sem o apoio daqueles que deveriam ser minha família.

Não sei exatamente por quanto tempo fiquei adormecida, mas desperto aturdida ao perceber Teresa ao lado da minha cama, segurando uma bandeja.

- Nana, o que faz aqui a essa hora? Deveria estar descansando - pronuncio com uma voz sonolenta.

- Eu notei que não jantou e não poderia permitir que minha querida florzinha fosse dormir de estômago vazio, correto? - ela sorri genuinamente. - Trouxe algumas frutas, bolos e suco de maracujá natural, pois sei que você não aprecia refeições pesadas no jantar. - Coloca a bandeja delicadamente sobre meu corpo e acaricia meus cabelos loiros. - Por favor, coma e não se preocupe, mais tarde eu virei recolher tudo.

- Agradeço-lhe, Nana. Agradeço por ser a mãe que nunca tive.

- De nada, minha Sory - e ela se retira.