•BLACK SKY/CÉU NEGRO• [NOVEL]

38- Apartamento

Talvez por alguns segundos, ou talvez por um tempo, nem Chu Si nem Sa'e falaram.

Um silêncio tão cara a cara nunca havia acontecido entre eles antes, então pareceu durar muito, muito tempo.

No entanto, foi errado dizer que nenhum deles sentiu nada. Naquele momento, as últimas décadas começaram a se agitar, como cinzas voando depois que algo caiu no chão empoeirado.

Na verdade, foi muito surpreendente que Sa'e Yang um dia fosse influenciado por outros. Só o fato de “ele ter tomado a iniciativa de expressar os seus próprios pensamentos” já era bastante surpreendente.

Independentemente disso, ele ainda tinha um jeitinho típico de falar.

Eu... eu... eu... eu... cada frase dele sempre teve muitos "eus".

Se ele tivesse ouvido isso trinta anos atrás, e Sa'e Yang tivesse olhado para ele com tal olhar, talvez Chu Si tivesse ficado comovido por um segundo e suavizado um pouco.

Mas, infelizmente, isso não aconteceu há trinta anos.

As paredes que ele poliu durante tantos anos seriam, afinal, muito mais fortes do que eram quando ele era mais jovem.

Chu Si baixou o olhar e ergueu-o novamente um momento depois com uma expressão calma nos olhos. "Então você ficou porque estava infeliz."

Sa'e Yang disse: "Porque você não estava feliz."

Chu Si não discutiu com ele sobre essa frase e parou por um momento antes de falar. "Faz muito tempo que não sou feliz, Sa'e Yang. Depois que completei quatorze anos, basicamente nunca mais fui feliz. As coisas que você fez foram apenas um punhado de fogo em cima de tudo..."

Ele queria dizer que se alguns problemas não tivessem suas raízes resolvidas, seria impossível que eles mudassem e que não havia necessidade de Sa'e se forçar a ficar. Mas as palavras giravam na ponta da sua língua e, por alguma razão desconhecida, ele não as pronunciou.

Talvez Sa'e Yang só se sentisse um pouco infeliz hoje, e amanhã não se sentiria mais infeliz. Depois que ele se sentisse melhor, seria apenas uma questão de tempo até que ele partisse, sem a necessidade de informar a alguém.

Mas talvez não tenha sido só por isso...

Sa'e Yang olhou para Chu Si por um momento e de repente falou. "Quando eu disse que tinha um motivo para ficar, você ficou um pouco feliz."

Chu Si: "...Com que olho você viu isso?"
Sa'e Yang dobrou dois dedos e apontou-os para si mesmo. "Com ambos."

"..." Chu Si olhou para ele sem expressão, soltou um "você não viu" e se virou. Ele ampliou diretamente o frame do vídeo, reconfirmou que o prédio embaçado era realmente o que ele reconheceu e puxou seu comunicador para se conectar ao canal de Tang.

Ele parecia muito ocupado, ocupado a ponto de não ter tempo de prestar atenção em ninguém.

O lado de Tang conectou-se muito rapidamente. "Executivo."

"Onde você está?" Chu Si perguntou.

"Na entrada da Torre Leste. Acabamos de fechá-la, e os andarilhos estão se revezando para cumprimentar nossos vários parentes, amaldiçoando tudo que está à vista, o que é bastante trágico." Tang reclamou, arrastando suas palavras.

Chu Si: "Você trabalhou bastante."

Tang: "Contanto que meu corpo não trabalhe muito, estou bem."

Chu Si: “...”

"Ah, certo, Executivo, você disse antes que poderia haver alguns grandes movimentos." Curiosamente, Tang perguntou: "Que movimentos?"

Chu Si disse: "Eu estava prestes a falar sobre isso. Na gravação de vídeo que Carlos Black me deu, eu vi-"

Enquanto falava, ele sentiu o cabelo de sua nuca sendo cutucado duas vezes por alguém. Além de Sa'e Yang, que estava atrás dele, quem mais poderia ser?

Chu Si franziu a testa, inclinando a cabeça. "Tire sua mão."

Tang: "Ah??? Que mão?"

Chu Si falou: "Eu não estava falando com você."

Tang: “Ah.”

Sa'e Yang acrescentou preguiçosamente uma frase atrás dele. “Executivo, até o seu tom de voz é mais animado.
Claramente, você está um pouco mais feliz."

Chu Si: “Cale a boca.”

Tang: "???"

Chu Si ficou com tanta raiva que quase riu. Ele esfregou as sobrancelhas e disse a Tang: "Esqueça, leve Le Pen e todos para o Forte Central. Vou me conectar ao canal do grupo daqui a pouco, não é conveniente para mim falar agora."

"Sem problemas." Tang primeiro respondeu ao pedido anterior e, em seguida, disse ignorantemente: “Por que não é conveniente para você falar agora?”

Porque havia alguém atrás dele que não conseguia manter as mãos afastadas.

Chu Si desligou imediatamente e virou-se para Sa'e Yang: "Saia, preciso fechar a escotilha."

Sa'e Yang apoiou o queixo: "Então feche, não vou descer."

Chụ Si: "..."

Ele estava com preguiça de discutir com esse bastardo e apertou o botão de controle, fazendo a escotilha zumbir e fechar. Ele pilotou a aeronave para decolar, virou-a e voou na direção oposta do Forte Central.

"Pra onde você está voando, Executivo?" Sa'e Yang olhou para a tela da cabine.

"Seu antigo covil", disse Chu Si friamente.

"A Prisão Espacial?" Sa'e Yang aceitou prontamente o termo "velho covil" e acenou com a cabeça, endireitando-se e esticando o pescoço e os ombros.

Seus passos ainda eram tão silenciosos quanto antes, mas Chu Si podia sentir que ele estava entrando mais fundo na aeronave. “A aura de Sa'e Yang” que permeava a cabine finalmente diminuiu um pouco.

Somente quando Chu Si se moveu ele percebeu que estava mantendo os ombros tensos.

Ele liberou uma mão para esfregar o ombro e observou novamente aquele frame de vídeo pausado. Quando seu olhar pousou naquele prédio embaçado, ele entrou em transe por um breve segundo.

Esse já foi um lugar com o qual ele estava muito familiarizado. Afinal, ele passou dos oito aos quatorze anos lá... aquele era o apartamento que Jiang Qi morou.

Mas como isso poderia ter aparecido nesse vídeo?

Esse apartamento sem dúvida não existia mais. Pouco depois de Chu Si entrar no sanatório, todo aquele prédio de apartamentos foi incluído na nova lista de planejamento urbano e foi demolido.

Mais tarde, Chu Si foi ver os edifícios recém-construídos, que estavam longe do que estava originalmente lá e definitivamente não eram o que era mostrado na tela.

Quando Chu Si viu o frame pela primeira vez, ele quase pensou que estava tendo alucinações. Depois de confirmar várias vezes, sua confusão só se aprofundou.

Talvez fosse apenas uma ilusão dele, mas ele sentiu que eventos originalmente confusos e não conexos estavam lentamente sendo interligados. Embora ele não conseguisse encontrar uma conexão clara entre eles agora, algumas coisas foram sendo reveladas gradualmente.

Uma forte intuição o impulsionou a encontrar aquele fragmento e dar uma olhada no apartamento que não poderia ter aparecido, mas ainda assim apareceu.

;)