Assim que acordei,tomei um banho gelado pra renovar minhas energias,passei meus hidrantes e perfumes,coloquei um shortinho e uma blusinha bem simples,com um biquíni por baixo,por que puta merda viu? Calor do caralho. A única vantagem é que eu e a Naty íamos botar o papo em dia aproveitando esse sol na laje dela.
Assim que cheguei ela já foi logo me puxando pra laje, cumprimentei de longe a tia Sasha que riu quando viu a filha dela me puxando apressada. Tiramos a roupa e ficamos apenas de biquíni,enquanto eu ia passando o protetor solar no rosto,ela colocava a famosa raspadinha alcoólica dela no copo. Naty tagarelava sobre como estava com raiva por eu ter sumido todo esse tempo,porém eu só conseguia prestar atenção em como ela havia mudado.
Naty sempre foi meia bobona,não ligava muito pras coisas,porém esse tempo que passamos afastadas,a gata mudou bastante viu? Criou um corpão,e deixou o cabelo crescer. A branquela tava mais bronzeada e tinha feito algumas tatuagens. Eu e ela colocamos piercing nos seios quando tínhamos 18. Até hoje,morro de medo do pai dela descobrir. Assim como eu,Naty não se dava bem com o pai,mais morava com os mesmo pra cuidar da tia Sasha,ela não andava muito bem de saúde,e alguém precisava estar perto dela o tempo todo.
Ajudei Naty a passar bronzeador nas costas dela,e nos deitamos com a bunda pra cima—Iai,tá fazendo faculdade ainda?—ela sorriu maliciosa e eu revirei os olhos. Naty é a única que sabe dos meus "segredinhos".
—Claro né? É o meu ganha pão—ri enquanto tomava mais um gole da raspadinha—Porra você tem que me ensinar como faz essa sua raspadinha. É uma delicia—
—Ja te ensinei um monte de vez,mais tu nunca presta atenção!—ela revirou os olhos e eu dei língua pra ela
—E o teu lance com os homi daqui? Tá apaixonada por quem dessa vez?—eu ri e ela ficou um pouco vermelha.
—Quero nem saber mais amiga. Vou aproveitar que a mamãe tá melhorando e vou logo me ajeitar pra voltar a cursar enfermagem—ela suspirou pesado e eu assenti. Eu sabia quanto ela queria sair daqui.
A vida na favela não é fácil. Todo mundo acha que é mamão com açúcar,que o crime é facinho. Mais não é saco? A gente só se liga nisso quando acaba vendo os parente morrendo,ou nossos amigos nas droga.—To ligada colega,tô na mesma. Quero mas é curtir,vou aproveitar que hoje tem baile e vou arrumar uma pra me comer gostoso—lambi os lábios e Naty gargalhou alto,certeza que o morro inteiro escutou.
—Vai seduzir com seus dotes de dançarina exótica é? Essa eu quero ver!—
Eu e Naty passamos horas conversamos e brincando ali na laje. Quando finalmente resolvemos sair e percebemos que marquinha ficou 100%. Tomamos banho pra remover o resto do protetor solar,hidratamos o cabelo,secamos,e depois ficamos de roupão na cama dela esperando dar o horário pra nós arrumarmos pro baile.
Debatemos com qual roupa iríamos,e depois de muita discussão,finalmente achamos um look combinando pra irmos.Um detalhe importantíssimo,o baile começava as 22hrs,e como eu e a Naty somos mulheres super organizadas e nada procastinadoras. A gente acabou dormindo e acordamos 21:30.
E foi corre pra lá,corre pra cá. A gente não sabia se ria ou se chorava. Mais no final deu tudo certo,a gente tava super atrasada,mas a gente se conformou e aceitou que tava tudo lascado mesmo.
Ela tirou uma foto nossa e postou no insta dela com a legenda:"O Crime e o Creme",e logo veio gente perguntando besteira. Eu pedi pra ela nem responder,e fomos curtir nosso baile. Fomos a pé mesmo,falando mal da roupa dos outros sem medo nenhum de apanhar.Um pouco antes de chegar lá,já dava pra ouvir as músicas estrondando. E como eu nem tava ansiosa né? Já comecei a dançar na rua mesmo com a Naty com nossos copinhos de 700ml de pura cachaça e felicidade. Naty dava risada de mim,e eu dela. Quem olhasse a cena de longe poderia jurar que já estávamos bêbadas,o que era só uns 50% verdade.
Chegando lá,já fomos abrindo espaço pra dançar. Não sou de me gabar,mas eu e a Naty dançamos muito bem. Ela descia até o chão comigo e sensualizava passando as mãos nos cabelos e pelo corpo. O sorriso no rosto de quem já estava meia alegre pela bebida era completamente nítido.
Quando nossos copos acabaram,ela me chamou pra buscar mais bebida e eu fui.
Estávamos rindo por ter visto uma galera que estudou com a gente,quando seu sorriso foi desaparecendo. Eu perguntei o que estava acontecendo mais ela não conseguia formar uma frase.—Amiga pelo amor de Deus fala comigo, você tá até pálida!—estralei os dedos na frente do rosto dela e ela engoliu em seco.
—Lex,acho que eu acabei de descobrir o por que estão fazendo essa festa toda...—ela não terminou de falar,segui o olhar dela,e lá em cima no camarote estava um rosto que eu achei que nunca mais veria.
Depois de quase 10 anos,eu vi minha mãe toda sorridente abraçar apertado,a braço direito dela.
—É a Medusa..não é?—murmurou Naty,pisquei meus olhos algumas vezes tentando entender se aquilo era real
—É a Kyara—suspirei pesado. Virei novamente pro bar e virei duas doses de tequila. Comprei uma garrafa de vodka e puxei Naty pra pista. Não ia deixar uma bobagem como a volta de Kyara me perturbar.
A "Medusa" como era chamada pelo morro,era braço direito da minha mãe desde sempre,já ficaram lado a lado em muitas invasões,e sempre cuidaram daqui do morro. Minha mãe ficou arrasada quando a Kyara foi presa,já que as duas eram inseparáveis,fez de tudo pra ela ser solta,e pelo visto,por mais que tenha demorado,ela finalmente conseguiu.
Eu vi a Medusa ser presa faltando 2 semanas pro meu aniversário de 15 anos. Não vou dizer que fiquei pior que minha mãe por que seria mentira,eu fiquei em choque é claro,já que ela era da família,mais eu superei bem rápido até,eu acho.
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Lá No Morro
FanfictionEu tinha 15 anos quando vi ela ser algemada e jogada contra o capô da viatura. Eu estava perplexa demais pra reagir,meus olhos insistiram em deixar cair lágrimas que em instantes inundaram o meu rosto. Os olhos dela pegavam fogo pelo ódio,mas quando...