Capítulo IV

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O vestido de Visenya era magnífico. As costureiras de sua mãe realmente haviam se superado naquele modelo.

Inteiramente preto, acinturado, levemente rodado e de gola alta. O tecido era tão grosso que Visenya não sentira a eventual queda de temperatura da transição do dia para a noite. Como a Fortaleza Vermelha fora construída sobre a Colina de Aegon e esta por sua vez ficava de frente para a Baía da Água Negra, era mais comum ainda esta transição ser notável entre os habitantes do castelo por conta da brisa marítima. Não fora o caso da princesa.

O diferencial estava nas costas. O enorme dragão de três cabeças que fazia parte dos estandartes da Casa Targaryen fora bordado em fios de seda vermelha, de modo que o brasão reluzia à luz amarelada de tochas e velas espalhados pelo salão. Seus cabelos foram presos em um elaborado penteado a base de tranças que levou um tempo considerável para ser feito, mas tal paciência valeu muito a pena.

Sua companhia, notou a própria princesa, estava sendo bastante disputada por todos os futuros lordes dos Sete Reinos, que representavam as ilustres Casas naquele banquete — duas vezes mais grandioso que o do dia anterior. O motivo para tal empenho, no entanto, causava uma sensação de amargura na jovem. Era de conhecimento geral que Visenya já estava na idade de casar, e sendo a primogênita da herdeira do Trono de Ferro, as coisas tendiam a ficar um pouco mais acirradas. Ninguém estava interessado em Visenya de verdade. Ao invés da princesa, viam um meio de acesso ao poder da Casa Targaryen. Sentia-se desconfortável naquela celebração, como se estivesse rodeada de abutres famintos e ela fosse a carne fresca disponível.

Sentiu outro homem aproximar-se de sua presença. Visenya suspirou mentalmente e preparou-se para mais um período de dança e cortejo enfadonho. Porém, ao virar-se, teve uma agradável surpresa.

Um jovem aparentemente um pouco mais velho que ela, de feições gentis, cabelos longos e escuros até a altura dos ombros e olhos cinzentos estava diante da princesa. Ao contrário do olhar de muitos, estes não demonstravam nenhum brilho predatório ou ganancioso. Para Visenya, tal visão foi um alívio.

— Você é Cregan Stark.

O jovem pestanejou. Visenya tratou logo de se explicar:

— Os nortenhos possuem um modo único de se vestir, e até onde sei apenas a Casa Stark veio representando o Norte.

Ele olhou para as próprias roupas e depois sorriu.

— Fico lisonjeado que minhas roupas cativem seus olhos, princesa.

— Não foi minha intenção ofender — desculpou-se Visenya.

Cregan balançou a cabeça.

— Não ofendeu. Para dizer a verdade, é bom ver que consigo me destacar no meio de tanta... excentricidade.

Visenya imediatamente entendeu o que Cregan estava tentando dizer. O estilo dos nortenhos era relativamente mais simples que dos nobres do resto de Westeros. Homens da Campina, de Dorne, do Vale, do Oeste e das Terras Fluviais costumavam usar as mais finas sedas e tecidos ricos e bordados. O norte, no entanto, pouco se importava com demonstração de riqueza; viviam na região mais próxima da Muralha, e era uma necessidade vestir-se adequadamente para sobreviver em uma terra tão hostil.

— Veio me convidar para dançar, senhor Stark?

— Apenas se for de sua vontade, princesa. Não desejo que se sinta obrigada a ser cortês.

Visenya deu um singelo sorriso e passou seu braço esquerdo por baixo do direito de Cregan.

— Pelo contrário; somente esta breve conversa foi mais revigorante que todas as danças desta noite.

OS HERDEIROS DA CASA DO DRAGÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora