OS HERDEIROS DA CASA DO DRAGÃO

Capítulo VI

Diferente do dia anterior, a manhã estava cinzenta e relativamente fria. Condições agradáveis para uma atividade fora das muralhas do castelo.

As carruagens cinzas da Casa Targaryen, cujo transportavam o rei e toda sua família, estavam fortemente protegidas pela Guarda Real para prevenir eventuais problemas. A comitiva era grande: quase toda a corte acompanhava o rei Viserys para uma semana inteira de caçada a javalis nas Terras da Coroa. Um grande acampamento seria montado para que todos obtivessem o conforto necessário dignos de suas posições sociais.

Aemond agradeceu mentalmente aos deuses por não precisar cavalgar naquela curta viagem. Embora treine desde a infância, seu corpo ainda possuía limites, e o conhecia muito bem para afirmar que seria inviável tal atividade. Dormira pouco e bebera muito, e até agora ainda sofria as consequências de seu ato irresponsável. Sua cabeça latejava ao menor ruído, e só de estar em uma carruagem em movimento significava uma série de barulhos constantes que agravava sua indisposição.

Geralmente era Aegon o responsável por tamanha fama, mas Aemond chegara ao limite na noite anterior. Embora não teria sido sua primeira opção, a decisão de abandonar o banquete em busca de descontar suas frustrações através do sexo era a mais cordial e educada que poderia encontrar no momento, porque se dependesse de sua vontade maior a cabeça de Cregan Stark estaria separada do corpo naquele exato momento.

Só de pensar no bastardo junto de Visenya naquele maldito banquete fazia seu sangue ferver. Aemond nunca teve dúvidas sobre seus sentimentos, nem procurou negá-los. Sabia que o que experimentara ontem fora a sensação corrosiva do ciúme. Entretanto, surgira tanta mágoa, ressentimento e raiva ao longo dos nove anos em que esteve longe dela que agora era impossível demonstrar alguma coisa além daquele misto de sentimentos ruins. E graças aos acontecimentos de ontem, estava mais ressentido e rancoroso do que nunca.

Aemond cerrou os dentes e fechou o único olho. Pensaria melhor sobre aquilo mais tarde, quando não estivesse mais sofrendo com as consequências de ingerir muito vinho. O latejar diminuiu, e então Aemond tornou a abrir o olho para contemplar a cena disposta diante dele.

O príncipe dividia a carruagem com Aegon, Helaena, Alicent, Otto e mais duas criadas. O local era grande o suficiente para comportar todos, porém com os vestidos de Helaena, sua mãe e das criadas, Aemond via seu espaço para mover as pernas ser um pouco limitado.

— De quem foi a brilhante ideia de movermos a corte inteira para o meio de uma floresta para caçar animais selvagens? Quero dar um soco no rosto do miserável — reclamou Aegon de seu assento.

— Minha — respondeu Otto tranquilamente.

Aegon disparou um olhar irritado para o avô, mas manteve-se em silêncio depois disto.

— E com qual objetivo foi feita esta caçada? Já não teríamos um torneio para celebrar o dia do nome de nosso pai? — Helaena bordava um pequeno lenço de algodão e estava sentada ao lado de Aegon. Aemond ocupava o lado esquerdo do irmão mais velho, de modo que o primogênito ficou entre os dois.

— Houve um acidente que desabou parte da estrutura da arena. Seu avô sugeriu que fosse realizada uma caçada para o seu pai e ele considerou uma boa ideia — Alicent, como sempre, vestia-se ricamente em tons de verde. O vestido continha um brilho incomum que imitava escamas de cobra nas mangas e no busto; seus cabelos marrom avermelhados estavam presos em um complexo penteado que os deixava totalmente presos, porém algumas madeixas emolduravam o rosto da rainha — Isto me lembra de quando houve aquela caçada ao cervo branco para celebrar o segundo dia de seu nome, Aegon.

— Sim sim, conheço bem a história — retrucou Aegon com um gesto de impaciência — E no final o único cervo que encontraram foi um marrom que no final foi abatido.