xi. SÁBADO

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Acordei sozinha pela primeira vez desde que eu e o Otávio voltamos a nos falar, eu ainda conseguia sentir o cheiro dele no meu travesseiro, ele foi embora sexta de noite para ir para uma batalha e, consequentemente, foi para casa para ver os meninos, avisar que estava de vivo e me deixar um pouco em paz, algo que eu não sentia necessidade já que ele era uma boa companhia e cozinhava bem, além de sempre fazer questão de limpar tudo.

Uma vez, ele me confessou que se sentia feliz quando limpava a minha casa por mim, quase como se fosse um presente, que ele não sentia vontade de fazer isso na própria casa dele, mas, na minha casa, ele sentia prazer de limpar e cozinhar para mim e, bem, confesso que eu também gostava disso, eu gostava de ter alguém para cuidar de mim, principalmente se essa pessoa era ele.

Tomei banho rápido e notei que ele tinha esquecido o seu dois em um, que era shampoo e condicionador, na minha casa, ri lembrando nele e como o seu cabelo era cheiroso, depois me sequei, calcei uma havaiana branca, vesti um vestido branco longo reto simples tomara que caia e fui para a faculdade ter aula de francês, mas não tomei café da manhã, eu não sentia fome nenhuma.

Quando cheguei na aula, vi a Lia, ela usava uma calça jeans skinny de lavagem clara e uma regata com uma alça larga preta, a Eduarda, que usava uma saia calça wide leg rasgada de lavagem escura e um cropped dos racionais, e a Raissa, que usava uma saia longa rosa e um top de faixa branco; elas conversando e, por algum motivo, eu nunca tinha notado que a Eduarda fazia aula de francês com a gente.

— Oi – Falei com um sorriso tímido. A Eduarda fechou a cara quando me viu.

— E aí, seu namorado fez café da manhã para você hoje? – Raissa perguntou rindo, a Lia fez uma expressão de confusão e eu senti meu rosto queimar de vergonha.

— Pera, a Luma tá namorando e não contou para mim? – Lia perguntou rindo.

— Eu não to namorando – Falei rápido – O Tavin é um amigo.

— Um amigo que dorme na casa dela – Raissa falou rindo.

— Vocês já ficaram? – Eduarda perguntou.

— Uma vez – Falei, eu lembrava que ela e ele tinham conversado ou conversavam –  Mas já tem um tempinho considerável, se é o que você quer saber.

— E por que ela iria querer saber? – Lia perguntou.

— É que eu não sei se ele comentou, mas nós estamos ficando – Eduarda disse e cruzou os braços um pouco desconfortável.

Senti meu corpo ser eletrocutado no mal sentido, eu fiquei assustada, que merda, ele definitivamente era problema, eu não acredito que acreditei na possibilidade de ele ser alguém confiável, e o pior, tínhamos marcado de sair depois da minha aula.

— Meu deus, não, ele nunca mencionou isso, desculpa, sério, eu vou parar de falar com ele! – Falei rápido nervosa, Lia e Raissa estavam confusas e deveras desconfortáveis com a situação.

— Relaxa, você pode ser amiga dele, mas, você sabe, nós somos amigas, só tô te avisando para, sei lá, não acontecer nada de novo.

— Tá bem, desculpa, sério – Falei mais uma vez e ela concordou com a cabeça.

O professor de francês, que na verdade era um acadêmico de letras em francês, entrou na sala e começou a organizar os seus materiais para iniciar a aula.

— Tenho que ir – Eduarda falou – A aula de vocês já vai começar pelo jeito.

Depois que ela falou isso, ela saiu imediatamente da sala, ai notei que ela não era da nossa turma.

— Ué, por que ela tava aqui se ela não vai fazer aula de francês? – Raissa perguntou, mas, pela sua entonação, notei que ela tinha desconfianças dos motivos.

— Para marcar território e assustar a Luma – Lia respondeu – E você, Luma, deveria ficar de olho nela e nesse menino aí, você gosta dele e a Eduarda não é confiável. Ela faz parte daquele grupo de pessoas que estuda em colégio particular até o nono ano e, no primeiro ano do médio, troca para um militar para ter cota.

— Odeio esse tipo de gente – Raissa murmurou e cruzou os braços.

— Não liga para Eduarda, eles nem devem estar conversando mais.

— Eu e ele não temos nada – Falei – Ele pode fazer o que ele quiser, nós somos só amigos.

Acho que se continuássemos nesse assunto, eu choraria, eu realmente estava gostando dele, não estava? Ele me tratava bem e cuidava de mim, mas eu devia prever que ele não sentia nada do que eu estava sentindo, a Raissa tinha razão sobre me impedir de contar para ele sobre meus possíveis sentimentos.

A aula foi tranquila, mas eu não conseguia me concentrar direito, minha mente estava presa no que tinha acontecido mais cedo, ele dormiu na minha casa enquanto ficava com a Eduarda? E se ele também fizesse isso com ela? Qual eram as chances de eu ser a única que ele ia para casa, limpava, cuidava, cozinhava e dormia junto?

    Eu nem podia julgá-lo, nós não tínhamos nada, nós éramos só amigos, por que, para mim, conversar tanto com ele parecia algo tão íntimo?

Minha cabeça girava, sentia que iria explodir de tanto estresse e de um sentimento que eu não sabia ao certo o que era, eu só me sentia mal. Levantei rápido e fui no banheiro, meu estômago estava revirando, comecei a andar mais rápido para chegar no banheiro a tempo, me ajoelhei próximo a um dos vasos e vomitei, era uma sensação horrível, meu peito doía muito, minha cabeça também, eu podia jurar que ia morrer.

— Lu, você tá bem? – Era a Raissa, eu estava sentada no chão da primeira cabine, não demoraria muito para ela me encontrar já que eu nem fechei a porta – E aí, o que rolou?

— Vomitei – Falei sentindo as lágrimas invadindo meus olhos, eu queria gritar, mas não queria vomitar de novo.

— Você transou com camisinha? – Confirmei com a cabeça – Você comeu alguma coisa estragada? – Neguei com a cabeça – O que você tem então?

— Acho que eu to apaixonada.

Ela se agachou e riu, com a sua risada, eu acabei rindo também, depois abracei as minhas pernas.

— Acho melhor eu te levar para minha casa – Concordei com a cabeça.

Ela se levantou e estendeu a mão, me ajudando a levantar, eu lavei a mão e a boca, depois ela me guiou para o seu carro e me deixou lá para pegar as nossas bolsas na sala. Eu sentia vontade de chorar, mas eu também sabia que isso não adiantaria nada, eu me sentia perdida, eu gostava dele, agora era oficial.

jorge maravilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora