xxvi. TERÇA FEIRA

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(juro que tentei guardar pra postar no dia certo que é amanhã mas vai agora mesmo fds)

Eu e o Otávio conversamos e concordamos em terminar durante o tempo que eu fique na minha cidade, isso doeu, mas ele me entendeu e disse que podia esperar por mim caso eu esperasse por ele, agora estávamos na minha casa acabando de arrumar minha mala, eu e ele estávamos sentados no chão, eu usava um short jeans e uma blusa dele enquanto ele usava somente uma bermuda, seu cabelo estava grande e seu bigode engraçado, eu não queria ir embora, eu não queria terminar, mas eu sabia que era só por um tempo.

— Eu vou sentir sua falta – Ele disse e eu me permiti sorrir.

— Eu não, amei a estética de tirar férias de você!

Ele riu e me mostrou o dedo do meio.

— Você é meio cabaçada das ideias mesmo, puta que pariu.

— E você ama isso – Ele se levantou, depois se sentou na minha cama.

— Nah, amar é algo muito forte, eu diria que gosto só um pouquinho de você, não sei o que você acha disso.

— Eu acho que você é louquinho por mim.

Ele riu e concordou com a cabeça.

— Quem não é?

— Nós vamos nos ligar ou vamos para de se falar? – Perguntei, ninguém queria tocar nesse assunto, mas era necessário.

— Você vai estar livre, quando eu falei esperar, eu quis dizer que tipo, eu sei que meu sentimento não vai mudar, tá ligado? – Concordo com a cabeça – Mas acho que, tipo, se você quiser ficar com alguém e os caralhos, pode ficar, pô, só me avisa se você parar de sentir algo por mim.

— Eu não quero ir embora.

Ele desceu da minha cama e acabou sentando na minha frente, ele abraçou suas próprias pernas e eu imitei ele, mas decidi levar a minha mão ao seu rosto, deixando que ele descansasse seu rosto nela e fechasse os olhos, por algum motivo, a sensação de ter seu rosto quente na minha pele fez com que meus olhos se  encherem de lágrimas, eu não sabia ao certo o que motivou aquilo, mas eu permiti elas caíssem, minha respiração pesou e senti meu coração despedaçado, mas eu tinha que fazer aquilo, eu não queria brigar com a minha mãe e, bem, fizemos um acordo, certo? Eu termino agora, se eu ainda quiser, nós voltamos ano que vem, foi ela que disse, não eu, significa que está tudo bem se voltarmos.

— Você está chorando, pois?

— Não quero te deixar.

— Eu vou estar aqui quando você voltar, bem no local que você me deixou, eu vou estar te esperando de braços abertos, você não tá me deixando, Lu, tá tudo bem.

— Eu não quero ir, eu quero ficar aqui, com você.

— Eu te amo.

— Eu também te amo.

— É isso que importa, nós fizemos bem um para o outro, isso foi suficiente, você não precisa ficar se martirizando, você é muito  dura consigo, Lu, você vai, eu fico, nós vamos ficar bem.

— Eu te amo – Repeti e ele sorriu, depois limpando minhas lágrimas com o seu polegar.

— E eu te amo, minha Vida.

— Eu acho que temos que ir.

Disse enquanto me levantava do chão e ele concordou com a cabeça, nós tomamos o nosso último banho juntos antes de eu ir embora, foi engraçado, eu gostava de lavar o cabelo dele e ele gostava de beijar meu pescoço molhado, seus olhos eram encantadores e o seu sorriso tirava meu fôlego, eu podia morrer dentro dele e morreria feliz, eu abracei seu corpo nu e ele retribuiu o abraço, depois beijando o topo da minha cabeça, Deus, me deixe ficar com esse homem para sempre. Quando saímos, nós nos vestimos rapidamente, eu coloquei uma blusa gola alta preta de manga curta e uma calça jeans cintura baixa branca, enquanto o Otávio vestiu uma blusa preta e uma calça também preta.

— Você é linda – Ele disse e eu ri.

— Não posso dizer o mesmo de você.

— Se eu te der a minha corrente, você usa?

— Quer marcar território, é?

— Sim ou não?

— Lógico que eu uso.

Ele riu e tirou a corrente que usava, depois colocando em mim, ela era fina e bonitinha, podia ser tanto feminina quanto masculina. Depois disso, fomos para o hotel dos meus pais para, por fim, o Otávio nos deixar no aeroporto e nós nos despedimos oficialmente. Durante o caminho todo até o hotel dos meus pais, o Otávio foi com a mão na minha coxa, quando eles entraram no carro, ele segurou minha mão enquanto segurava a marcha. Tocava Chico Buarque no carro, ele colocou porque sabia que eu gostava, ouvi "Jorge Maravilha" inciar e sorri, depois olhando para o meu namorado, que também sorriu.

— Não vale a pena ficar, apenas ficar, chorando resmungando, até quando? Não, não – Cantei e ele riu.

— E como já dizia Jorge Maravilha, prenhe de razão, mais vale uma filha na mão, do que dois pais voando – Completou.

— Você não gosta de mim, mas sua filha gosta – Nós dois cantamos e depois ele riu de mim.

Eu queria morrer, gritar, bater em tudo e chorar, eu não acredito que eu estava apaixonada por alguém como eu estava apaixonada por ele, aquilo parecia impossível para mim antes de conhecê-lo. Quando chegamos no aeroporto, ele estacionou e depois fomos até a área do check in, eu e ele ficamos abraçados enquanto meus pais lidavam com as documentações, eu não queria parar de cheirá-lo.

— Fala comigo – Sussurrei.

— Por que você quer que eu fale?

— Eu gosto da sua voz, eu não quero esquecer ela.

— Você não vai, não é como se a gente nunca fosse se ver de novo, você vai voltar.

— Eu sinto que alguma coisa vai mudar.

— Necessariamente precisa ser uma mudança negativa?

— Eu prefiro não, mas sinto que vai ser e eu não sei como lidar com esse sentimento.

— Se mudar, mudou, tem coisas que não são controláveis, tá ligado? Pelo menos aconteceu.

— Vai ser muito cruel se eu falar que eu preferia nunca ter te conhecido do que ter vivido e ter sentido o que eu senti por ti, mas não ter sido para sempre?

— Nada é eterno, os sentimentos se metamorfoseiam, não significa que é algo ruim, é só diferente, se algo ruim acontecer com nós, pelo menos, um dia, isso aqui existiu, história para contar, saca? Evita pensar nisso de uma forma ruim, Vidinha, nós vamos ficar bem, mesmo que a gente termine, nós vamos ficar bem e é isso.

Eu senti meus olhos encherem de lágrimas, ele tocou no meu rosto e beijou minha bochecha, meu nariz, meu maxilar e deu três selinhos no meu lábios; eu chorava desesperadamente, mas não sentia vergonha, só deixava as lágrimas caírem e escorrerem pelo meu rosto, sentia meu nariz entupir e queimar, mas eu não reprimiria essas lágrimas, notei que ele também queria chorar, tinham lágrimas nos seus olhos, mas ele não queria se permitir fazer isso, provavelmente queria acreditar que isso não era o nosso término, mas isso era sim o fim, mesmo que fosse um fim temporário, alguma coisa estava acabando aqui.

— Vamos? – Escutei a voz do meu pai, olhei para os olhos do Tavin pela última vez antes de me separar dele, analisei seus olhos castanhos, a assimetria do seu rosto que era linda ao meus olhos, os seus lábios, seu bigode mal feito e sua mandíbula marcada.

— Até breve, Otávio – Sussurrei e ele me puxou para um abraço.

Ele encaixou sua cabeça no topo da minha, me apertando contra o seu peito, depois eu me coloquei na ponta do pé e me encaixei no vão do seu pescoço, senti ele sorrir e funguei o local ali, deixando seu cheiro invadir minhas narinas e torcendo para que ele ficasse gravado em mim. Eu queria ficar ali para sempre, mas eu sabia que eu não podia, que eu tinha que ir, então me afastei e ele entendeu o recado, se afastando e ali notei que ele deixou umas lágrimas caírem,  inclusive uma caia pela sua bochecha naquele exato momento, ele enxugou rapidamente, como se estivesse envergonhado ou não quisesse que eu visse ele daquela forma.

— Até mais, Luma.

jorge maravilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora