xxxvii. SÁBADO

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Eu estava deitada de bruços na minha cama ouvindo a música nova do Otávio pela vigésima quinta vez enquanto pensava em nós dois, ele sabia como mexer comigo, eu odiava aquilo. Desde a última vez que eu fui na casa dos meninos, eu decidi me afastar completamente, como consequência, parar de ir para as festas de sexta-sábado de madrugada, eu continuava na Norte, mas evitava até olhar para o Otávio, eu e a Eduarda acabamos nos aproximando com isso, ela me disse que o Otávio mandou mensagem para ela quando terminamos pela última vez, mas ela também mostrou ela negando sair com ele naquele momento porque ela sabia que ele ainda gostava de mim.

A Lia não gostou dessa proximidade entre nós duas, mas eu sabia que ela talvez só tivesse um pé atrás pelo que já aconteceu. De qualquer forma, a Eduarda me disse que ele falou mal de mim quando me viu com o Daniel, dizendo que eu tava usando ele para esquecer o que nós vivemos e, mesmo que fosse verdade, eu confesso que me irritei, não é algo que se deva sair falando por aí.

Eram onze horas da noite, a Lia foi dormir na casa de um menino que ela tava saindo, então eu estava sozinha, consequentemente fiz o que sempre fazia quando estava sozinha, vestida com uma bermuda e um moletom do Otávio que eu não devolvi, mas hoje tinha um adicional, eu ouvia uma música que era sobre mim, ou melhor, sobre nós dois, eu não sabia ao certo como me sentia sobre ela, mas eu acho que não ficava feliz.

Ele já tinha escrito outras músicas sobre mim, "conga la conga", por exemplo, e tinha a "ruas", mas nenhuma tinha me deixado tão incomodada quanto essa, por que ele escreveu uma música invés de conversar comigo? Não que eu quisesse conversar com ele, mas, se ele se sentia dessa forma, por que ele não veio falar comigo sobre? Talvez eu também não tivesse ido falar com ele, mas não consigo imaginar um cenário em que eu iria expor isso para todo mundo.

A campainha tocou, levantei da minha cama e abri minha porta, seguindo até a cozinha e olhando pelo olho mágico, algumas pessoas não morrem cedo.

Abri a porta e ele sorriu para mim, como se estivesse tentando ser educado, mas eu não queria isso, eu não queria vê-lo.

— E aí – Ele disse.

— Oi – Respondi.

— Queria falar com você.

— Sobre?

— Você ouviu minha música nova?

— Sim.

— Eu queria saber o que você achou dela.

— Te garanto que você não quer saber.

— Você acha que ela ficou ruim?

— Não.

— Você gostou dela?

— Por que você quer saber?

— Eu posso entrar? – Neguei com a cabeça.

— O Daniel não gostaria disso.

— Então eu vou entrar para provocar ele, tá ligado.

E, como disse, foi entrando pela casa, eu me senti envergonhada e tímida, eu estava usando uma roupa dele, tinha meses que ele não entrava na minha casa e tinham meses que não ficávamos sozinhos no mesmo ambiente. Eu fechei a porta e ele abriu a geladeira, tirando a jarra de suco de laranja e colocando em dois copos, depois me entregando um deles e foi seguindo em direção ao meu quarto, eu segui ele e, como eu sou idiota, eu tinha esquecido de desligar a música dele que, antes de eu me levantar, estava tocando no meu celular, ele olhou para mim e sorriu, eu me sentei na cama do seu lado e pausei a música que estava tocando no meu celular.

— Eu sei que não estamos nos falando, mas essa música tem um potencial de ser grande, você gostaria de participar da criação do clipe?

— Na parte criativa? – Ele confirmou com a cabeça.

— Eu gosto de mim pelas suas lentes, as minhas melhores fotos da Norte sempre são tiradas por você.

— Nós dois juntos? De novo? Você acha que é uma boa ideia?

— É só um projeto, não to pedindo para voltar, além de que, se você não quiser, é só dizer e eu procuro outra pessoa, mas eu gosto das suas fotos e da sua forma de retratar as emoções pela fotografia, você é uma das pessoas mais artísticas e inteligentes que eu conheço, Luma, você sabe como expressar o que você quer.

— Eu não acho que eu seja tão boa assim.

— Mas eu acho.

— Eu vou só filmar ou vou dirigir também?

— Os dois, eu quero que você crie a parte criativa, escolha minha roupa, como vai ser meu cabelo, tudo. Como eu falei, você é uma das pessoas mais artísticas que eu conheço, eu quero ser uma mera marionete nas suas mãos.

— Você tá bêbado? – Ele riu e confirmou com a cabeça.

— Você acha que eu teria coragem de olhar para você e pedir isso sóbrio?

Bom ponto.

— Eu não acho que seja uma boa ideia ficarmos sozinhos, de verdade.

— Por que? Meu charme é tão irresistível assim? – Eu ri e dei um soco fraco no seu braço.

Sim, Otávio, seu charme é muito irresistível, pensei, mas decidi não falar nada.

— Nós já conseguimos ser apenas amigos uma vez, nós conseguimos de novo.

— Nós nunca fomos apenas amigos, Otávio.

— Bem, para tudo se tem uma primeira vez, né? É só você parar de ficar gostosa usando roupas minhas que eu paro de tentar flertar com você.

Senti minhas bochechas corarem e ele riu.

— Eu já falei coisas piores sóbrio para você ficar com vergonha de algo que eu falei bêbado.

— Bom ponto.

— Você fica linda usando minhas roupas, eu não lembrava como elas ficavam boas em você.

— Nada de flertes, Otávio, eu e você estamos comprometidos.

— A única ficante que eu fui fiel foi você, minha filha, eu to solteiro.

— Você não presta.

— Eu presto por quem eu quero.

— Isso não existe.

— Você vai aceitar ou não gravar meu vídeo?

— Você vai ficar flertando assim caso eu aceite?

— Só se você quiser, por quê?

— Eu não quero.

— Sem flertes então.

— E nada de ficar bêbado quando você for me ver.

— Eu faço o que você quiser.

— Ok, eu aceito gravar seu vídeo.

jorge maravilhaOnde histórias criam vida. Descubra agora