Ser um assassino de aluguel era fácil.
— Tu usa essa cantada com todo mundo que flerta?
Elu provoca, e eu rio. Essa sempre dá certo.
— Tá funcionando?
— Muito — ê atendente pisca — Saio daqui quinze minutos. Se importa em esperar?
— Com prazer.
Eu pego meu cappuccino e sento na mesa de fora. Era uma coisa simples: agir amigável num espaço de tempo em que não desse para tal pessoa compartilhar muitas informações sobre ele, se livrar do alvo, e ganhar a grana. Mamão com açúcar.
Exceto quando a vítima parece uma pessoa gentil. Essas são as mais difíceis.
São raros os momentos em me pego me perguntando: porque eu ainda faço isso? Claro, o motivo óbvio é a dívida infinita que aquele denominado pai me deixou. E aquele chefe criminoso insano que exige que eu trabalhe igual um condenado até pagar tudo.
Mas eu conseguiria fugir. Será?
Ê atendente sai da cafeteria e senta ao meu lado. Viajei por tanto tempo assim? Não posso abaixar a guarda desse jeito...
— Desculpa a demora, tive que trocar de roupa.
— Sem problemas. Quer ir para outro lugar?
— Na real eu queria saber de você. Vamos ir devagar? — ele coloca a mão na minha.
Era uma pergunta normal. Se eu fosse mais profissional, falaria sim, manipularia ele para deixar eu levá-lo para casa e acabaria o trabalho. Mas essa porra é muito mais fácil quando o alvo é um dito filho da puta. Esse não era. Esse era uma pessoa que demonstrou interesse em mim. Não só pelo meu corpo, parece que elu viu algo mais. Como se ele estivesse me vendo como uma pessoa. Alguém com sentimentos, uma personalidade e opiniões. Então eu enrolo.
— Pode ser — tento meu melhor agir normalmente.
E nós conversamos. Ele pergunta de mim, não consigo lembrar a última vez que perguntaram de mim sem motivos exteriores. Porque raios alguém quer esse anjo morto? E a solidão some momentaneamente e eu me perco nesse joguinho, nessa fantasia de vida normal.
Quando fica muito tarde, ele diz que tem que voltar para casa cedo. Pergunto se ele mora sozinho, ele diz que sim, e faço uma coisa que nunca fiz antes: eu conto. Eu conto tudo. E falo para ele tomar cuidado, digo para fugir, recomendo lugares, e por fim dou o meu contato caso precise de ajuda. Gostaria que tivesse tido um beijo de despedida.
E vou embora torcendo para ver elu de novo.
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Quem te conta?
Historia Cortacontos, crônicas e histórias curtas sem nexo e sem necessariamente conexão. apenas um teste de escrita de um escritor novato