CAPÍTULO 01

249 30 10
                                    


    Joguei o vestido sobre a cama, sentindo uma leve pontada de estresse que irradiava minha nuca por toda a cabeça. Já pensava o quão tola e imatura eu era por ter me enfiado naquilo, sem ter a desculpa de culpar alguém, visto que havia sido EU a pensar a respeito sobre o assunto. Olhei para o meu closet, notando que minha opção de vestidos estava acabando e eu não tinha muitos. Já havia provado cinco dos vestidos que eu acreditava que ia gostar e me dar uma aparência diferente da advogada com um guarda-roupa invejável pra profissão que exigia sempre estar bem vestida. Queria tirar um pouco dessa imagem que eu carregava a muito tempo, pelo menos por hoje, principalmente pelos próximos minutos.

Peguei mais um vestido, esse era branco e longo, marcava lindamente minhas curvas e o decote era discreto, me agradando assim que me vi no espelho. Dei algumas voltas para analisar de todos os ângulos, sendo pega desprevenida pelo alarme que eu tinha colocado para não esquecer.

— Vou me atrasar, que ótima maneira de começar essa loucura — Não tinha nem tempo para mudar ou continuar procurando alguma outra roupa e precisei correr, penteando meu black volumoso com um pente garfo, deixando ele bem soltinho. Não me via com meus cabelos no seu natural a muito tempo e isso me fez lembrar o quão apaixonada por meus cabelos eu era.

Terminei de pegar minhas coisas, o que eu julguei mais importante, alcançando a chave do meu carro e indo para ele. Iria para um evento anual da minha cidade onde muitas pessoas se reuniam para beber, conversar, dançar e se divertir, dentro desse evento, tinha outros que faziam parte da proposta e um deles era o “Speed Dating” ou apenas um encontro que não passaria de cinco minutos. A ideia era audaciosa, sendo que eu acreditava ser impossível fazer alguém se interessar por você em tão pouco tempo, mas apenas deixei meu pessimismo de lado e me joguei naquilo. Não era como se eu estivesse precisando, apenas desesperada porque há exatos dez anos eu não saia ou me envolvia com alguém e sentia que eu deveria tentar, por mim, se não desse certo, apenas iria ignorar e seguir minha vida.

No ensino médio minha mãe vivia dizendo que eu deveria focar nos estudos para realizar meu sonho e ela não estava errada, só conseguir passar na OAB (ordem dos advogados do Brasil) estudando o dobro do que eu imaginava que conseguiria. Todavia, precisei sacrificar boa parte das coisas que eu gostava, incluindo meus hobbies favoritos e minha vida amorosa e agora eu estava tentando me adaptar a minha realidade. Dei a volta atrás do prédio do evento, estacionando bem perto da entrada, arrastando minha bolsinha e tendo cuidado aonde pisar o salto alto. Entrei e observei algumas pessoas espalhadas pelo salão, algumas placas posicionadas estrategicamente indicavam o andar dos outros eventos e entrei onde ficaria o meu, subindo o lance de escadas e posteriormente pegando um elevador. Assim que sair do elevador sentir quando algo, ou melhor, alguém, bateu contra mim, me desequilibrando, mas antes de cair, esse mesmo alguém me manteve em pé, segurando em minha cintura.

— Deveria olhar com cuidado pra onde anda — A voz soou não grosseira, mas como um conselho que eu deveria seguir se não fosse ele que tivesse vindo com tudo pra cima de mim. Meus olhos se fecharam por um segundo e no outro eu estava admirando o desconhecido, pensando comigo mesma o quão bom era suas mãos ao redor da minha cintura.

— Obrigada pelo conselho — Me apoiei nas minhas próprias pernas e me afastei dele, olhando melhor quando já estava numa distância agradável. — Aliás, poderia pôr em prática o seu conselho, evitará desconfortos como esse.

O homem arqueou a sobrancelha, aparentemente surpreso com minhas palavras, dando um sorrisinho de lado. Um sorriso que eu poderia titular de cafajeste se existisse uma enciclopédia sobre isso.

— Bom, você aparentemente estava curtindo e eu também, mesmo que se não fosse por mim, estariamos no chão nesse exato momento. — Ele acrescentou, fazendo uma careta no fim da frase. Apenas tentei ignorar metade das suas palavras para mim mesma, alisando meu vestido que estava amassado pela bagunça que suas mãos haviam feito. — Deixa eu adivinhar, você está indo pro evento de encontro, não é? — agora o seu sorriso parecia desafiador.

Balancei minha cabeça. Não que eu devesse alguma coisa a ele ou fosse me custar dizer que estava ali por causa do evento, mas apenas não queria partilhar de uma informação daquela com um estranho.

— Não, óbvio que não —  Soltei um risinho. Ele me analisou e riu também.

— Bom, cada andar tem de dois a três eventos e esse aqui só tem dois, e eu duvido muito que você esteja ido para um evento de bordado e crochê com várias vovós.

— É um evento muito agradável, não acha? — Me mantive neutra e ele, apenas sorriu.

— Quem sou eu pra julgar, né? — Fiz que sim e ele concordou. — Tenha uma ótima noite de crochê e bordados. — Ele sinalizou e o vi entrar no elevador.

— Começamos com o pé direito, não é mesmo? — Me questionei, dando as costas e caminhando em direção a uma porta de vidro, observando algumas mesas para dois, muitas delas já ocupadas. Assim que entrei fui em direção a um dos funcionários, me situar e escolher uma mesa e me acomodar.
Na mesa que eu escolhi tinha um pequeno bloquinho com os números dos pares, cada pessoa tinha um número, dessa forma tudo poderia ser mais fácil. Era como um jogo das cadeiras, onde eu ficaria sentada, teria uma conversa de cinco minutos e depois isso mudaria e assim por uma hora, no final eu poderia conversar com quem eu tinha interessante e arrumar um encontro que teríamos mais tempos.

Se passou alguns minutos até que um sino tocou e vi as coisas se movimentar. Fui pega de surpresa quando um homem mais velho sentou na mesa onde eu estava, no lado do coração uma plaquinha que indicava seu número, 18.

— Oi, me chamo Marcos — Ele me cumprimentou e em seguida começou a falar, me dando espaço também para falar. Ele era interessante, se não fosse pelo fato de ainda ser casado.

Cinco minutos se passaram e mais um veio até minha mesa, enquanto dava um negativo para o número oito, ele começou a se apresentar.

— É a sua primeira vez aqui? — A voz dele me fez olhá-lo. Ele era um homem negro, olhos castanhos e tinha um canvalhaque bem marcado. Fiz que sim e ele sorriu, falei meu nome e ele o dele, quando finalmente começou a falar, sentir interesse, mas tudo caiu por terra quando disse que seu tipo ideal era mulher que não trabalhava.

Mais cinco minutos e o sino tocou, eu sabia que a mudança ia acontecer. Nos trinta minutos que se passaram minha mente havia mudado sobre não conhecer o suficiente a pessoa em cinco minutos, tive a experiência de conhecer o bastante para meu alerta de perigo me chamar atenção. O número 2 levantou e já fui anotar no bloquinho quando escutei uma voz que já conhecia:

— As vovós não foram legais com você, não? — Ergui o olhar e novamente o desconhecido estava ali em minha frente.

SPEED DATING Onde histórias criam vida. Descubra agora