CAPÍTULO 2 - CONTRADITÓRIO

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Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ

Em todos os seus trezentos e três anos, Park Seonghwa nunca teve problemas para dormir, muito pelo contrário, onde encostasse, estaria se entregando a um belo cochilo.

 Naquela noite após a caçada, ele se deitou em sua cama vestindo seus trajes mais leves, algo que poderia ser facilmente comparado a um vestido de mangas longas. Mas sua cama estava anormalmente desconfortável, virava para todos os lados e não conseguia se entregar ao mundo dos sonhos de maneira alguma. Sua garganta estava seca, então ele se levantou para ir à cozinha, em busca de um copo d'água, imaginando que somente a sede poderia ser a causa do seu incômodo.

 Quando abriu a porta, a primeira coisa que fez foi reparar no humano que dormia sentado ao lado dela. As pernas estendidas no corredor estreito e a cabeça pendendo para o lado, dormia tranquilamente, apesar da posição claramente desconfortável, não pôde deixar de rir, colocando a mão sobre os lábios evitando que qualquer som mais alto fosse emitido, não gostaria de ter que ouvi-lo falando caso acordasse.

 Cruzou os braços e encostou as costas no batente da porta, pensando no que fazer com ele até o dia do ritual. Era tagarela e muito destemido, falava tudo o que pensava e parecia não ligar para o fato de que o feiticeiro poderia matá-lo a qualquer momento se assim desejasse. 

 Porém, o Park jamais machucaria um ser inocente, não sem ordens superiores.

 Sequer suportava injustiças e foi por isso que entrou na frente da espada por ele, um ato totalmente impensado e que poderia ter lhe custado a vida, sua sorte é que Mingi estava de bom humor, pois não há motivos para um feiticeiro defender um mortal, uma ação que não possuía argumento, foi quando ele lembrou de um ritual próximo e, pelo menos, o humano não morreria no meio da floresta, com frio e com medo, pois era uma péssima noite para sua alma deixar o mundo dos vivos.

 Ainda encarando Hongjoong, ele se sentiu incomodado pelo rapaz jogado no chão de sua residência. Não era como se nunca tivesse tido contato com as oferendas dos rituais, só que dessa vez era diferente, pois nunca teve que tomar conta de uma delas, ainda mais dentro de sua casa. Ele se perguntava como não lembrou de deixá-lo na gaiola do pátio central, teria sido bem melhor do que tê-lo em seu alcance, perguntando tudo o que queria.

 Bem, foi uma falta de atenção de qualquer forma, no dia seguinte pela manhã seria a primeira coisa que faria, trancar Hongjoong no pátio e colocar algum aprendiz para vigiá-lo, mesmo que ele estivesse sob sua responsabilidade, tinha certeza que o líder ignoraria isso.

 Uma corrente de ar passou por ele, vindo de uma janela aberta. O ar gélido arrepiou sua pele, lembrando-o que ele deveria estar deitado, no aconchego de seus cobertores. Mas no humano, a reação ao vento foi um pouco pior, ele se encolheu e tentou abraçar os próprios joelhos, sua roupa curta pouco o ajudava a se proteger do frio. 

 Suspirou e bagunçou os cabelos loiros, desacreditado no que estava prestes a fazer. Entrou em seu quarto e pegou um cobertor quente e felpudo, que pouco usava. Se agachou ao seu lado e puxou seus ombros para frente, aproximando os corpos, apenas para conseguir passar o pano por suas costas e em seguida, fazer o mesmo dar a volta em seu corpo, praticamente o embrulhando. A expressão de Hongjoong suavizou aos poucos e ele se aconchegou como pode no meio do cobertor. 

 Voltou para sua cama e enfiou a cara no travesseiro, desejando dormir o mais rápido possível. 

Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ

 Um raio forte de sol entrava pela janela, atingindo seu rosto sem muita cerimônia, interrompendo seu sono que custou a conquistar aquela noite.

 Seonghwa demorou a dormir, virando para um lado e depois para o outro, ainda desconfortável. Ele até levantou mais uma vez e foi olhar o humano, com medo que ele tivesse fugido, mas o mesmo ainda se encontrava aninhado no meio do cobertor, dormindo muito bem.

AKASHA • SeongjoongOnde histórias criam vida. Descubra agora