Prelúdio: Welcome to your life

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Eu não sou louco.

Harry Potter repetia para si mesmo, durante todo o seu julgamento.

Eu não sou louco.

Porém, todos acreditavam que ele era.

Harry decidiu, então, se aproveitar disso. Se todos achavam que ele era maluco, louco, uma aberração, então ele agiria como tal. Após várias perícias, o juiz determinou que Harry Potter não entendia a ilicitude dos seus atos no momento que foram praticados.

Clinicamente insano.

Harry preferia o manicômio do que o reformatório, honestamente.

Seus tios foram indiciados por maus tratos.

Seu caso ficou famoso no país inteiro — até internacionalmente, afinal, a mídia era como um abutre.

Fazer um peru recheado requer tempo e paciência, além de uma certa premeditação. É preciso matar o peru na véspera, deixá-lo de molho na salmoura por toda a noite, depois, Harry conhecia uma receita de recheio de batata que era simplesmente divina. Você apenas precisa de batatas, manteiga, ovos (apenas a gema), uma cebola, os órgãos do peru, salsinha, azeitona preta, noz moscada, pimenta e sal. Era só rechear o peru com isso, costurar e deixar no forno.

Infelizmente, os seus tios não ficaram muito felizes ao ver o filho deles servido na mesa de jantar.

Desde então, a sua vida foi ladeira abaixo.

Ele tinha apenas quatorze anos quando tudo isso aconteceu, era véspera de natal. Ninguém acreditou quando os carros da polícia pararam na frente da casa número 4 da Rua dos Alfeneiros.

Antes, Harry sonhava em ser salvo durante toda a sua infância, que algum dia algum parente dos seu pai apareceria para levá-lo embora e ele finalmente teria roupas do seu tamanho, um quarto de verdade e brinquedos novos. Harry parou de sonhar quando completou doze anos.

Ninguém iria salvá-lo.

Ele estava sozinho no mundo.

Odiava seus pais por terem morrido e o deixado sozinho com os Dursleys, odiava os Dursleys por serem péssimos tios, e odiava Duda por ser um adolescente cruel.

Foi por isso que Harry planejou o seu assassinato.

Foi por isso que ele fez com crueldade.

Não havia nada como a sensação de um coração ainda batendo em suas mãos.

Por isso, ele não era louco. Harry sabia exatamente o que estava fazendo quando torturou, matou, abriu, recheou, assou e serviu seu primo na mesa de jantar para seus tios se deliciarem com o banquete.

Ele não era louco.

Apenas... perturbado, talvez.

Agora, ele tinha um quarto de verdade, tinha roupas do seu tamanho e não fazia mais tanta questão dos brinquedos. Harry Potter era um preso de comportamento invejável. Ele não discutia, não tentava fugir, não era violento. Era como uma sombra, sempre invisível, fazendo da sua presença a menor possível.

Harry era capaz de fazer coisas inexplicáveis.

Ninguém entendia como os outros detentos o obedeciam como se ele fosse o Flautista de Hamelin, ninguém entendia como ele parecia perfeitamente sóbrio após doses cavalares de medicamentos, ninguém entendia como ele escapa de suas restrições e aparecia em lugares proibidos aos detentos.

Era como... magia.

Harry estava vivendo uma ótima vida, se perguntassem sua opinião. Ele se divertia atiçando os outros malucos ou enlouquecendo os seus carcereiros. Ele não fazia questão de sair, tinha tudo que sempre quis dentro daquelas paredes e fonte infinita de diversão — loucos são imprevisíveis, afinal.

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