5 - Reencontro

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Crowley foi tomado pelo desespero. Como iria escapar dessa situação? O que era para ser um crime sem defeitos e sem solução, virou uma perseguição em tempo real.
'burro! Burro!' ele dizia para si mesmo enquanto caminhava para casa e batia ambas as mãos na cabeça. Ele não podia ser pego, não sabia quanto tempo tinha até o acharem e invadirem a sua casa. Então ele decidiu que faria algo rápido e depois se preocuparia em pegar o restante de suas coisas. Como ainda ia amanhecer, ele vestiu a roupa de mergulho, colocou uma roupa esportiva por cima, diferente de habitual. Seria fácil reconhecê-lo se usasse os ternos de sempre. Passou protetor solar, pegou o guarda chuva e os óculos escuros. Precisou esperar amanhecer para poder ir até o banco mais próximo, chegando lá, sacou o tanto que pôde de dinheiro em espécie. Se preocuparia em pegar o resto depois. Para sua sorte, estava meio nublado. Voltando para casa, tratou de fazer os preparativos. Arrumou uma caixa com bastante gelo e colocou as bolsas de sangue dentro, era a única coisa que iria levar além da carteira, chaves e protetor solar. O celular podia ser rastreado, então deixou em casa. Pegou o carro antigo que estava com o tanque quase cheio, pois só usava as vezes para caçar fora da cidade, e pegou a estrada. Não sabia para onde iria, ele só seguiu o fluxo sem pensar muito.
Crowley estava com a cabeça cheia. Já fazia mais de cinco hora que estava dirigindo sem prestar muita atenção. Ele estava passando pela região de Heathhall que ficava ao noroeste do reino unido, em direção a Escócia, conhecida por ser uma área mais rural. Havia muitas árvores ao lado da estrada, o que sinalizada que provavelmente haveria muita vida selvagem por ali. De repente, o carro dá um enorme solavanco. Ele bate a cabeça no volante e só não se esparrama no vidro graças ao cinto de segurança. Sentiu o sangue de si mesmo escorrendo pelo rosto. Mal se lembrava como era se machucar e nem sabia que ainda podia sangrar. Logo a ferida foi fechada, graças a regeneração.
Ele Sai do carro para avaliar a situação e exclama:
_MAS QUE DROGAAAA!!
Ele bateu o carro em um animal grande; pelo chifres e pelo tamanho, parecia ser um alce. Toda a frente do carro havia sido destruída, já que ele andava acima da velocidade permitida. O animal não teve chance, estava com o meio do corpo triturado como carne moída. Voltando para o automóvel, ele virou a chave na tentativa de ligar o motor, mas nada acontecia, depois, moveu os restos do animal para fora da estrada, o deixando no acostamento.
Teria que seguir o caminho a pé e abandonar o carro. Apesar de ser forte e rápido, teve um pouco de dificuldade para mover o veículo para fora caminho, mas assim o fez, e conseguiu, mesmo que não ficasse do jeito que queria.Essa parte foi muito difícil para ele, pois tinha muito apego ao automóvel. Ele abriu o porta-malas, tomou algumas bolsas de sangue, enquanto as outras ele deixou na caixa de isopor, dentro da bolsa térmica; por precaução ele também levava o guarda chuva e o protetor solar na mesma bolsa, porém na área externa.
'Não acredito que com tantas habilidades eu não vi a porra de um animal!' ele diz a si mesmo, fechando o porta-malas extremamente irritado.
Ele foi correndo sem rumo; evitando passar pelas cidades ou vilarejos que ele desconhecia, pois nunca tinha andado na área. Como não estava muito quente, as bolsas até que duraram bastante tempo. Mais 4 horas entre caminhadas e corridas se passaram, então ele chega na região de Oban. Um local ainda mais fora de seu alcance, pois já se encontrava na Escócia. Tentou puxar na memória o que aquilo significava, tinha ouvido falar do lugar, mas não se lembrava direito. Ao olhar para horizonte se deparou com água, muita água. Era um enorme lago que fazia uma divisa. Para onde, ele não sabia. Olhando o relógio de pulso que marcava 3 horas da manhã, ele sabia que logo precisaria achar abrigo. Tanto por causa do sol, quanto pelo gelo que não duraria para sempre.

Estava exausto. Uma coisa era correr numa área pequena para caçar ou por mero capricho; outra era correr quilômetros de distancia por varias horas. Explorando a pequena área habitável de Oban, ele vai em direção a água na procura de um deck ou porto. Pensou em ir nadando até o outro lado, mas era algo que ainda não tinha feito desde da transformação e ficou com receio de tentar, ainda mais por não conhecer a região. Não foi difícil achar o lugar, já que era só seguir a água, e pelo horário, não havia ninguém ao alcance dos olhos. Escolheu um barco pequeno que não chamasse muita atenção. Ao entrar, viu que a chave estava na ignição. O que era de se esperar, já que em áreas rurais onde a criminalidade era extremamente baixa, era muito comum as pessoas deixarem tudo a mão, pois não havia com o que se preocupar. Ele desatou o nó que segurava o barco no deck, colocou a bolsa abaixo do painel de controle e ligou o motor. Nunca havia pilotado um barco, mas teria que arrumar um jeito de aprender. Ele se atrapalhou um pouco, mas era quase como dirigir um carro. Traçou o objetivo de chegar do outro lado da costa a toda velocidade, torcendo que a gasolina desse até o final do trajeto. Meia hora depois, para sua surpresa, ele chegou facilmente a costa.
Em terra firme, ele andou e andou, já sem forças, até que avistou o que parecia ser um celeiro. Ele tomou o restante das bolsas de sangue que levava, para recuperar as energias e também não desperdiça-las. Quando o liquido escurecia, era o mesmo que uma comida estragada, o gosto não era bom e só causava náuseas. Deixou as bolsas restantes caírem de qualquer jeito no chão gramado. O celeiro estava com a porta trancada, ele teve que fazer uma leve pressão para arrombá-lo. O lugar era espaçoso, as vacas dormiam tranquilamente. Crowley se esforçou para fazer o mínimo de barulho possível para não assusta-las. Se acomodou no canto onde havia uma pilha de feno. Pela primeira vez, ele realmente adormeceu. Seu cansaço físico e mental eram tão grandes que o seu cérebro simplesmente teve um blackout. Acordou poucos minutos depois com algo lhe cutucando: viu um senhor de idade, por volta dos 60 anos, com a testa bem franzida. Provavelmente era o dono do lugar, pensou. O senhor segurava uma espingarda e Crowley, acabou se levantando subitamente.
_ Calma... calma... eu vim em paz.
_Quem é você e o que faz nas minhas terras?
_Eu me perdi...e... precisava de um lugar para ficar.
_Vire de costas!
_Quê?
_Vire - de -costas
_Tudo bem, tudo bem.
Crowley começou a se virar quando o fazendeiro disse:
_Devagar!
Ele se virou lentamente, nunca tinha levado um tiro de espingarda, nem sabia quais danos causaria, e não era agora que testaria isso. O dono do lugar o apalpou verificando se ele não tinha uma arma. Esvaziou os bolsos de Crowley e tudo o que encontrou foi um frasco pequeno de protetor solar e a carteira. O guarda chuva estava em algum lugar perdido entre o feno.
_Crowley né? -o velho disse lendo a carteira de motorista-
_O próprio.
Abaixando a arma, o senhor respondeu:
_ Joseph.
_Muito prazer senhor Joseph.
_Vamos lá para casa, eu te faço um café.
Crowley colocou as mãos nos bolsos e o capuz na cabeça, pois jaqueta de nylon tinha uma. Sabia que não poderia ficar sem proteção na parte superior exposta e o guarda chuva, mesmo que o encontrasse, com alguém por perto, não poderia usar, já que chamaria muito a atenção. Como era inicio da manhã, o sol ainda não estava a pino, o que ajudou Crowley a sair na claridade sem muitos danos.
Joseph era um homem simples. Tocava a fazenda com sua família desde que se entendia por gente. Ele vivia numa casa grande, que por fora era de madeira e por dentro de alvenaria. O lugar também tinha uma varanda externa bonita com cadeiras de balanço. Os filhos tinham suas próprias vidas, então, eram só ele e a esposa. Abriu a porta e Crowley o seguiu.
_Mary foi comprar coisas no mercado, por enquanto são só eu e você.
Ao dizer isso ele apontou a espingarda para Crowley. Ele foi levado a sala e se sentou no sofá. O senhor se sentou ao lado dele e começou a fazer mais perguntas.
_Porque está aqui?
_Já disse, eu me perdi.
_E esses óculos?
_Eu tenho uma conjuntivite severa. Prefiro evitar contato para que outras pessoas não sejam afetadas. -ele respondeu e aproveitou para olhar o enorme relógio na parede que marcavam 8 e meia da manhã-
A essa altura, era fácil contar pequenas mentiras, pois já estava acostumado. Observou que a casa além de ter muitas fotos em família, também possuía muitos artigos religiosos, ao que parecia, eram muito devotos e isso poderia ser muito ruim para ele. O fazendeiro o observou com desconfiança por vários minutos, o que parecia ser uma eternidade. Depois de uma hora e meia em silencio absoluto, a esposa de Joseph abriu a porta segurando algumas sacolas. Ele se levantou para ajuda-la, enquanto Crowley esperava imóvel. Não sabia como sair daquela situação e o quanto valia se sacrificar para fazer uma rota de fuga.
_Mary, esse é o Crowley, achei ele no celeiro hoje de manhã.
A mulher empalideceu e saiu sem dizer nada, parecia que tinha visto um fantasma. Ela chamou o marido na cozinha e Crowley suspeitou que talvez ela soubesse quem ele era. Usando as habilidades, ele se concentrou para isolar os barulhos externos para ouvir somente a conversa na cozinha.
_É ele!
_Como assim?
_Eu vi no jornal, é o assassino da chacina dos padres!
_Você tem certeza?
_Tenho.
_Bem que eu achei ele muito suspeito.
Ao confirmar que o pior aconteceu, Crowley se vê sem saída. Não poderia ir para fora pois já tinha amanhecido; não podia ficar se não levaria tiros. Ele levou um milésimo de segundo para decidir, mas foi o suficiente para que o primeiro disparo fosse dado. Ele sentiu sua carne se romper e uma dor excruciante invadiu seu corpo. Não teve escolha a não ser sair para fora. O sol, agora mais alto e quente, parecia minar as suas forças, o impedindo de correr instantaneamente e sentiu mais um tiro em suas costas.
_Marry! Pegue a outra arma!
Reunindo forças, conseguiu correr, não tão rápido como de costume, mas conseguiu. O casal foi atrás dele, cada um usando uma arma. Pegaram o carro que estava estacionado na frente e começaram a perseguição. Crowley não sabia quanto tempo mais ia aguentar, mesmo com as roupas, sua pele começou a fazer pequenas queimaduras nas partes expostas e o ferimento parecia não sarar tão rápido e ele não sabia o porquê. Ouviu um barulho de carro se aproximando e mais disparos estavam sendo dados. Infelizmente mais alguns atingiram suas costas e outros as suas perna. Mesmo com muita dor, Ele lutou para continuar correndo. Não queria morrer ainda, por mais amaldiçoado que ele achasse que fosse. Então, ele sentiu o corpo amortecer e teve outro apagão. Estava morto? Era difícil saber, tudo estava escuro e fora de órbita. Quando finalmente sentiu sua visão clarear ele se viu em um quarto, com as cortinas fechadas e se sentou na cama. Sua cabeça parecia que ia explodir e as feridas tinham melhorado, mas ainda sentia alguma delas arderem em seu corpo. Olhou em volta e não viu ninguém, até a porta se abrir e uma figura conhecida sair por ela.
_Aziraphale!
Ele devolveu o chamado um sorriso carinhoso, mas Crowley foi até o canto da parede e gritou:
_Para trás! Não chegue perto de mim.
_Crowley, sou eu Azira...
_Não! Eu sei quem... Eu sei, mas se afaste de mim!!
_Mas...
_Agora!
O padre ficou imóvel sem saber o que fazer.
_Saia!
_Crowley... -disse ele carinhosamente-
_Saia agora!
O padre sai do quarto sem entender, queria ajudá-lo, mas não viu outra opção há não ser esperar. Crowley tentava se acalmar, ele se sentou no canto do quarto; ao lado da cama, com os braços apoiados nos joelhos; enquanto abraçava um travesseiro. Pensou em esperar a noite chegar para fugir, mas foi inútil, porque quando escureceu ainda se sentia fraco e certas feridas continuavam do mesmo jeito. Aziraphale voltou várias vezes ao quarto batendo na porta para ver o estado dele, mas Crowley o expulsava toda vez. Os dias foram se passando e Crowley se sentia cada vez mais esgotado e faminto. Chegou a conclusão de que provavelmente, estava definhando. No terceiro dia, Aziraphale voltou ao quarto decidido a entrar e falar com o seu hospede inesperado, mesmo que ele não quisesse. Não poderia deixa-lo morrer. Ele entrou no quarto sem bater e viu um ser catavélico e pálido sentado no canto.
_ Me deixe ajudá-lo.
Com o rosto entre os joelho, já sem forças, a voz de Crowley saiu rouca e tudo que ele conseguiu dizer foi:
_Sangue.
_Sangue? Como assim, sangue?
Crowley olhou para o homem a sua frente com os olhos fundos e escuros.
_ Eu preciso de sangue.
_ De qual tipo? -Aziraplale não sabia onde iria arrumar sangue para uma transfusão, ele morava afastado a muito tempo. Provavelmente teria que levá-lo a um hospital na cidade vizinha-
_ Me... traga -toma fôlego- um animal... vivo!
Sem pensar muito, Aziraphale foi correndo para fora. Ele morava em um pequeno sítio que ficava próximo a Tobermory. Olhou os animais em volta e começou a pensar em qual deles escolheria. Tinha que ser um animal pequeno e fácil de carregar. Se lembrou que faria um abatimento de galinhas dali alguns dias e pegou uma delas.
_ Me desculpe por isso lolla, você vai para panela mais cedo.

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