Entre Dois Mundos

CAPÍTULO 8 - Kimchi e lágrimas

CAPÍTULO 8

KIMCHI E LÁGRIMAS

MALU SEO-ARI

Uma enxurrada de incertezas e questionamentos imediatamente invadiram minha mente, deixando-me desnorteada e sem uma resposta clara sobre o que fazer. Cogitei, num turbilhão de pensamentos, a possibilidade de intervir ou simplesmente assistir a tudo de forma passiva. Era como se estivesse jogada em meio a um labirinto confuso, sem sinalização ou trilha a seguir.

Senti-me verdadeiramente perdida, incapaz de discernir a melhor escolha diante do caos que se desdobrava diante de meus olhos. Com um desesperado desejo de escapar dessa situação angustiante, tentei de todas as formas me afastar daquela porta, desejando me distanciar de tudo o que clamava por uma decisão imediata.

No entanto, o destino pareceu sorrir malignamente para as minhas tentativas de escapar do inevitável. Ao fazer um movimento desajeitado, acabei esbarrando violentamente na lixeira próxima a mim, um barulho alto que reverberou pelo ambiente. A colisão inesperada foi como um despertar repentino para minha presença, revelando-me de forma incontornável e inegável.

Naquele momento, fui forçada a encarar a realidade de frente. O estrondo repentino da lixeira se tornou um lembrete indesejado de que não se pode escapar do dilema que nos cerca. Não havia como ignorar mais a necessidade de tomar uma atitude diante do que testemunhava. A vida havia jogado o seu dado e, mesmo relutante, eu sabia que não poderia mais me esquivar da responsabilidade que agora pairava sobre mim.

— Quem está aí!? - Yuju gritou.

Tentei correr para longe, mas a porta foi violentamente aberta por Yuju, me encarando de cima a baixo e sorrindo de maneira incrédula.

— Eles nunca te disseram que é feio ouvir atrás da porta? - ela olhou para suas unhas, com um ar de desprezo e descontração.

— Eu não estava...

— Poupe-me dessa desculpa, estrangeira. - ela disse com desdém. — Se esse assunto sair daqui, eu sei exatamente quem procurar primeiro. - Yuju me empurrou pelo ombro e saiu do local.

— Isso é de família? - perguntei para Leehi enquanto eu apontava para a sua irmã que desapareceu pelo corredor, e a mesma sorriu pequeno dando ombros. — Leehi, você está bem? - me aproximei preocupada perguntando.

— E é comum para vocês, estrangeiros, agirem dessa forma, Seo-Ari? - ela perguntou, sorrindo levemente enquanto limpava as lágrimas obstinadas.

— Bem, isso depende. - respondi com um sorriso leve, aproximando-me dela com cautela. — Quer conversar? - encontrei incerteza em seus olhos, mas surpreendentemente, ela aceitou. Sentamos em uma mesa afastada, observei seus dedos inquietos, como se a situação fosse tragicamente cômica. Eu estava ali por ela, embora tivesse vários motivos para não me importar com tudo aquilo. Mas algo em mim dizia que havia um ser humano quebrado dentro dela, suplicando por ajuda e desejo de ser ouvido. Já testemunhei essa vulnerabilidade em Leehi algumas semanas atrás, e sei que jogar contra ela seria injusto. Ela parecia desconfortável, mas ao mesmo tempo, não queria que eu a deixasse sozinha. Porque acredito no poder da empatia e do perdão. E acredito no potencial de mudança de cada pessoa, inclusive Leehi.

— Vou começar te pedindo perdão, Seo-Ari, pelo mal que te causei, tenho plena ciência das minhas atitudes passadas com você e me comove sua atitude comigo. - suspiro pesado. — Não se ache tanto, ok? - tentou brincar e eu apenas nego com a cabeça sorrindo. — Não espero que me perdoe, tão pouco consigo acreditar que ainda está aqui comigo. Sinto muito mesmo por absolutamente tudo que você passou, por minha causa. "Paguei" pelas minhas atitudes no castigo, e reconheço tudo que fiz… - ela se silencia juntando coragem. — A minha briga com você não tem muito haver com o Jungkook, tudo aquilo foi só a ponta do iceberg gigantesco que me encontro hoje. Minha família é um pouco caótica e o meu pai um governador oportunista que trabalha com o pai do Jungkook, minha mãe faz tudo que pode pela minha pessoa, e a alguns anos eu descobri que tenho uma irmã fruto de uma traição por parte do meu pai...