Capítulo 1 | Alto preço

348 46 4
                                    


Fixei meu olhar na bancada de frutas, todas com aparências irresistíveis e sedutoras, mas minhas atenções se concentraram especialmente nas maçãs, com suas vibrantes cores vermelhas.

Algumas moscas zumbem ao redor, pousando de vez em quando, mas o gorducho do  vendedor está tão ocupado tentando paquerar uma mulher que não se dá ao trabalho de enxotá-las.

Sei que terei apenas uma chance; se for pega, talvez nunca mais vejo a luz do dia,mas isso é melhor do que o destino que me aguarda se voltar para casa de mãos vazias.

Caminhei cautelosamente até a bancada, o coração batendo forte no peito, escolho com cuidado as frutas enquanto observo se o comerciante nota algo. Espero até que não haja pessoas muito perto para agir e num movimento ágil, agarro três maçãs grandes e começo a correr, esbarrando no vendedor e fazendo uma das maçãs cair no chão.

  — EI!!! SUA FILHA DA PUTA!, DEVOLVA ESSAS MAÇÃS! — ele gritou, e pelo tom da sua voz percebi que estava me perseguindo. Mas eu era mais rápida e ágil. As pessoas ao meu redor colidiram comigo; algumas perdiam o equilíbrio e me xingavam, enquanto outras simplesmente seguiam seus caminhos, indiferentes a uma ladra de rua desde que não fossem eles a serem roubados.

  — VOLTE AQUI SUA VAGABUNDA E DEVOLVA O QUE ROUBOU! — o homem continuava a gritar, mas não me atrevi a parar.

Precisava afastá-lo o suficiente da banca para que meus irmãos pudessem reunir um bom número de frutas.
  Corro por dois quarteirões até que finalmente não ouvi mais seus xingamentos.

Então diminui a velocidade e olhei para trás justo a tempo de vê-lo dar meia-volta e retornar pelo caminho que havíamos corrido. Ele balançava os ombros e gesticulava com raiva; sua camisa velha e manchada exibia uma grande marca de suor nas costas. Sabia que lhe dei muito trabalho e prejuízo hoje, mas  nada comparava ao que ele encontraria ao voltar — ou melhor, ao que não encontraria, já que provavelmente Many e Jim haviam feito uma boa limpa.

  — Tenha uma boa vida, seu desgraçado miserável — murmurei para mim mesma enquanto jogava a maçã para o alto e a pegava novamente.
Depois de algum tempo observando o vendedor desaparecer na esquina, volto a caminhar. As ruas estão abarrotadas de gente, o que proporciona um ótimo lucro, já que a maioria não percebe minhas mãos se esgueirando até seus bolsos e bolsas, pegando qualquer coisa que encontre: carteiras e, às vezes, um celular, que é uma raridade por aqui, pois neste buraco um celular é um luxo que muitos não podem se dar,e quando tem,não ficam dando sopa por aí.

  Sinto-me eufórica ao encontrar um celular aparentemente novo e sei que, se eu o levar para a Boca, conseguirei um bom dinheiro. Quem sabe até consiga comprar sapatos novos para a Penny,ou trocar aquela bermuda de Jim.

  Com os bolsos cheios, decidi voltar para o ponto de encontro, uma casa velha e abandonada onde Many e Jim me esperam.

  — O que conseguimos hoje?

pergunto assim que me aproximo.

  Many levanta um grande saco marrom que parece pesado.

  — Oito maçãs, quatro goiabadas e duas batatas grandes que eu peguei em outra barraca — diz com orgulho.

  Acaricio seus cabelos negros carinhosamente. Many sorri e coloca o saco nas costas.

  — Eu peguei as batatas — Jim diz tomando a frente, e eu acaricio seus cabelos também.

  — Sem ciúmes, Jim. Agora nós temos que ir.

  — Está bem, vou buscar as meninas lá dentro.

  Jim entra na casa enquanto eu espalho os objetos pelo chão, tiro o dinheiro das carteiras e as deixo de lado. Infelizmente, o celular tem senha, mas com certeza alguém na Boca saberá o que fazer.

Proving sinOnde histórias criam vida. Descubra agora