O Fim de Uma Era (e o Início de Outra)

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[Aviso de Gatilho: Este capítulo contém menções a um suicídio (o ato não acontece, mas comentado e descrito brevemente). Se você se sente desconfortável com esse assunto, recomendo não ler esse capítulo.

Caso você esteja passando por uma fase difícil ou tenha pensamentos suicidas, recomendo entrar em contato com o Centro de Valorização da Vida (188) e, no geral, coma bem, faça exercícios e tente fazer o que você gosta]

     Jonathan Blackwood despertou com muita dor de cabeça. A sua cadeira estava fria como um sorvete de frutas vermelhas. A primeira coisa que viu foi sua escrivaninha, organizada como nunca. Confusão cruzou sua mente. Jonathan sempre fora desorganizado. Desde que sua esposa, Isabella, faleceu há 2 meses, suas maneiras bagunceiras se intensificaram.

     Entretanto, o queixo de Jonathan caiu (metaforicamente) quando percebeu gotas de sangue na madeira. O vermelho estava mais escuro, contudo permanecia vivo, logo a carnificina fora recente.

     Jonathan se levantou rapidamente, respirando na mesma velocidade. Tocou o próprio rosto, buscando por feridas abertas. Não encontrou nada, portanto foi checar o resto da cabeça.

     Apalpando as laterais da cabeça, sentiu uma fenda à direita. Não apenas uma fenda. Um buraquinho molhado. Trazendo as mãos à visão dos olhos, sangue manchava a ponta dos seus dedos.

     Os olhos de Jonathan se arregalaram. Agarrou a gravata com a mão limpa, engolindo em seco. Lentamente, ele se afastou da escrivaninha e, posteriormente, do escritório. Jonathan sempre acreditou que fazer movimentos bruscos enquanto ferido catalisava a perda de sangue.

     O escritório ficava no andar mais alto do hotel. Fora do cômodo, Jonathan clicou no botão do elevador. Não esperou muito e o portão de ferro se abriu.

     Duas mulheres estavam na cabine. Elas claramente queriam ir para um andar inferior, porém o andar do escritório de Jonathan Blackwood sempre era prioridade do meio de transporte.

     – Por que viemos aqui, Mary? – reclamou a mulher com cabelos loiros, mais alta e visivelmente mais velha que a outra – Este lugar cheira a morte.

     – Fiquei sabendo que esse elevador prioriza o escritório do fundador – respondeu a outra mulher, dos cabelos escuros e olhos amendoados. Provavelmente de algum país da Ásia.

     A mulher loira bufou. Jonathan pediu licença para entrar, entretanto elas não pareciam ouvi-lo. Ele entrou do mesmo jeito. Elas não perceberam a sua presença.

     – Foi bem triste, não é, Ellie? – comentou Mary, olhando para os próprios pés.

     – Ele que quis assim – Ellie tirou um leque do bolso do casaco e passou abaná-lo em frente ao seu longo pescoço – Se matar por conta de uma esposa como aquela... onde já se viu? A velha sempre tinha aquela carranca e se vestia como uma vampira perua.

     Jonathan encarou a mulher. Não sabia de quem ela estava falando, todavia ele sentiu a sensação desse suicídio ter algo a ver com ele.

     O elevador começou a perder luz. As mulheres tornaram-se tensas. Jonathan agarrou o portão de ferro do elevador em um impulso nervoso.

     Ele sentiu alguma coisa tocar sua mão livre. Dedos suaves surgiram da escuridão e deslizaram dos seus próprios dedos ao seu pulso. A mão agarrou seu pulso.

     Jonathan segurou um grito. O aumento dos batimentos cardíacos catalisava a perda de sangue. Entretanto, ele sequer sentia seu coração bater.

     Um arrepio atingiu sua pele. Sussurros baixos em seu ouvido. Sedutores, até.

     – Boa tarde, querido – cochichou Isabella, em todo o seu esplendor.

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