TRIBO DE DÃ, NORTE DE CANAÃ
Aproximadamente 1.000 A.E.C.Sob a luz da lua, o garoto loiro mergulhou no rio Jordão. Chamava-se Jeno, e, embora estivesse no vilarejo há apenas um mês, sua beleza já era lendária desde aqui até o sul de Bersebá.
Das margens do rio, um garoto de cabelos negros o observava, mexendo em seu colar. No dia seguinte, faria 17 anos.
E — fora da vista de todos — Minho o observava. Ele parecia mais bonito agora que se enamorara pelo banhista noturno. É claro, Minho sabia qual seria o destino do garoto, mas nada podia impedi-lo de amar Jeno. O amor dele, pensou Minho com seus botões, era puro.
— Ele é como uma religião — disse uma voz suave, vindo de trás. Minho se virou e deparou-se com um moreno deslumbrante. — Ele lhe tem verdadeira devoção.
Minho deu um passo em direção ao garoto na margem do rio. Jamais vira um mortal como ele. Seus cabelos reluziam como uma obsidiana. Era tão alto quanto ele e gracioso mesmo quando imóvel. Seus ombros eram delgados e as bochechas aveludadas eram cheias. Ele admirou-se com a intimidade presente em seus olhos negros, como se os dois já fossem cúmplices em alguma forma de travessura deliciosa. Quando ele sorriu, seus pequenos lábios em formato de coração lhe despertaram um tremor inédito.
— Você os conhece? — perguntou Minho.
Este garoto maravilhoso só estava falando com ele porque o flagrara observando Renjun e Jeno. Sua risada era límpida como a água da chuva.
— Eu cresci com Renjun. E todo mundo conhece Jeno, embora ele só tenha chegado à nossa tribo no finalzinho da lua passada. Há algo de inesquecível nele, não acha?
— Talvez — respondeu Minho. — Se é esse o seu tipo...
O garoto avaliou Minho.
— Você veio para cá na estrela gigante que caiu do céu na noite passada? — perguntou. — Minhas irmãs e eu estávamos sentados perto da fogueira e achamos que a estrela tinha o espantoso formato de um homem.
Minho sabia que ele o estava provocando, flertando, mas ficou impressionado com aquela suposição certeira. Suas asas o haviam trazido até ali na noite anterior; e ele perseguia o rabo de uma estrela cadente.
— Qual é o seu nome? — perguntou.
— Meus amigos me chamam de Jisung.
— E seus inimigos, como o chamam?
— Jisung — rosnou ele, cerrando os dentes. Depois, riu.
Quando Minho riu também, Renjun deu meia-volta alguns metros abaixo.
— Quem está aí? — perguntou ele, em direção à escuridão.
— Vamos embora daqui — sussurrou Jisung para Minho, estendendo-lhe a mão.
O garoto era incrível. Imponente, cheio de vida. Ele segurou sua mão e o deixou guiá-lo, um pouco receoso de acabar o fazendo para sempre, de segui-lo aonde quer que fosse.
Jisung o conduziu a um renque de íris mais adiante no rio curvilíneo; depois enfiou a mão no tronco oco de uma enorme alfarrobeira, de onde tirou uma lira. Sentado entre as flores, ele afinou o instrumento de forma intuitiva, com tanta destreza que Minho percebeu que fazia isso todos os dias.
— Você tocaria para mim? — perguntou ele.
Jisung confirmou com a cabeça.
— Se quiser escutar...
Então começou a tocar uma série de notas que se enredavam como amantes, serpenteando como as margens do rio. Milagrosamente, a melodia gloriosa e contínua assumiu a forma de palavras.
Jisung entoou uma canção triste de amor que fez tudo o mais desaparecer da mente de Minho. Concentrado em sua música, ele não dava a mínima para Lúcifer ou o Trono, Renjun ou Jeno. Só havia a canção lenta e impressionante de Jisung.
Será que ele a compusera ali, entre as íris na beira do rio? O que viera primeiro, a melodia ou a letra? Quem o havia inspirado?
— Alguém partiu seu coração? — perguntou Minho, esperando mascarar o ciúme.
Pegou a lira das mãos dele, mas seus dedos eram desajeitados. Nem de longe conseguiria tocar algo tão belo quanto a música que fluíra de Jisung.
Ele inclinou-se, aproximando-se de Minho, baixando as pálpebras enquanto fitava seus lábios.
— Ainda não. — Ele pegou o instrumento novamente e dedilhou uma corda cintilante. — Também não quebraram minha lira ainda, mas todo cuidado é pouco.
— Me ensina a tocar? — pediu Minho.
Ele queria passar mais tempo com Jisung... uma sensação que lhe era estranha. Queria sentar-se ao seu lado e ver a luz do sol brilhando em seus cabelos, memorizar os ritmos graciosos de seus dedos à medida que ele extraía beleza das cordas e da madeira. Queria que ele o olhasse da mesma forma que Renjun olhava para Jeno. E queria beijar aqueles lábios bonitos todos os dias, a toda hora.
— Alguma coisa me diz que você já sabe tocar — retrucou ele. — Encontre-me aqui amanhã à noite. — Jisung olhou para o céu. — Quando a lua estiver no mesmo lugar, você deverá estar no mesmo lugar.
Daí ele riu, guardou a lira novamente na árvore e foi embora, saltitante, deixando um anjo de cabelos negros e olhos verdes loucamente apaixonado, pela primeira vez na vida.
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ola docinhoooos
capitulo curtinho, mas extremamente importante
espero que estejam gostando da história ^^
xo, candy
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Unforgiven - Minsung
FanfictionMinho sabe o que é tormento. Ele viveu mais no Inferno do que qualquer anjo jamais deveria. Seu mais recente martírio se chama ensino médio. E o belo anjo está ciente da ironia nisso tudo, mas não pode deixar de sentir que chegou a hora de também se...