7- Doença

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Ele estava fodido.

Afinal, como alguém poderia lidar com aquilo completamente sozinho?
Talvez alguém pudesse, mas esse alguém não era ele.

Começou com um pequeno desconforto, que evoluiu para uma dor leve, até que, lentamente, se tornasse excruciante.
Sua perna agora possuía uma "falha", como um código se corrompendo, brilhante em verde néon e latejando, anunciando o futuro deplorável que o esperava.
A dor não era a pior parte, o pior era saber o que ele estava se tornando.
Ele sonhava — na verdade, tinha pesadelos — sobre os malditos códigos venerando-o como um tipo de deus, e aquilo lhe dava repulsa como nunca havia sentido antes, como se esse sentimento viesse diretamente do âmago de seu ser.

Agora ele já passava a maior parte de seus dias dormindo, tal qual um moribundo em seu leito do hospital, acordando somente para tomar remédios para amenizar sua dor.
Às vezes, ficava tão dopado que só acordava quando estava à beira da morte por desidratação.

Se eu morrer aqui, quanto tempo demoraria para alguém achar meu corpo? Quanto tempo demoraria para sentirem falta de mim? Eu sequer posso morrer ou apenas me tornarei um código? A última opção é certamente pior.

Pensar não fazia ele se sentir melhor, mas era a única coisa que ele podia fazer além de encarar as rachaduras do teto.
Depois do que pareceram horas, o despertador ao lado de sua cama começou a tocar, indicando que ele poderia tomar mais analgésicos. Levantou-se com um pouco dificuldade, pegou uma cartela de remédios e tirou dois comprimidos, rapidamente enfiando-os em sua boca e sentindo o gosto amargo tomar conta de sua língua antes que pudesse beber a água da garrafinha largada em sua mesa de cabeceira.
Ele se recostou novamente, esperando impaciente o momento em que o remédio faria efeito, até que apagou.

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Era como se estivesse mergulhado em água.
O som de batidas abafadas o traziam de volta à consciência, mas não o suficiente para assimilar o que acontecia ao seu redor.
Ouviu as batidas se tornarem mais desesperadas enquanto uma voz aparentemente longínqua chamava seu nome. Houve silêncio por um curto espaço de tempo, até que, com um rangido, os sons se tornassem mais perceptíveis.

— Max? — Uma voz grave chamou. — Max?! — A pessoa correu até sua cama, sentando-se ao seu lado e pegando seus ombros. — Puta merda, Max, acorda!

Maximus tentou lutar contra as pálpebras pesadas que se recusavam a abrir, mas apenas conseguiu piscar algumas vezes, atordoado, antes de soltar um resmungo de frustração.
Uma mão grande pousou em sua testa, como se sentisse sua temperatura, e a pessoa se levantou, saindo pela porta e sumindo por cerca de cinco minutos.
Quando voltou, Maximus sentiu algo frio e úmido sendo posto contra sua testa.

— Max, por que você não chamou ninguém? — Maximus pôde finalmente raciocinar o suficiente para assimilar de quem era a voz.

— Forever?... — Ele perguntou, ainda de olhos fechados, erguendo uma mão numa tentativa de alcançar o homem.

— Sim, sou eu. — Ele pegou sua mão e guiou-a até seu rosto. — Por que você não me chamou? — Ele reforçou a pergunta.

— Ninguém viria... — O enfermo respondeu, suspirando pesadamente. — Por que você veio?

— Porque senti sua falta. — Forever segurou sua mão ternamente, inclinando-se para dar-lhe um abraço desajeitado. — Eu vou cuidar de você.

— Não tem cura.

— Eu vou achar uma. — O homem soltou o abraço. — Até lá, eu vou cuidar de você.

Maximus gostaria de falar para que ele não perdesse seu tempo com isso, que a Federação já havia constatado que ele teria que conviver com isso, mas ele estava cansado demais para argumentar e, no fundo, queria sim que Forever estivesse ao seu lado.

— Obrigado. — Ele sorriu pela primeira vez em muito tempo.

— Não precisa agradecer.

Em pouco tempo, Forever acomodou-se na pequena casa, trazendo roupas, comida e remédios.
Todas as manhãs, acordava Max e preparava o café da manhã antes de levá-lo para caminhar pela ilha, sempre segurando-o para que não caísse.
Voltavam para a casa e Forever dava à ele um comprimido para dor, deitava-o na cama e ficava conversando com ele por horas à fio.
À noite, Forever levava Max até o banheiro, onde ele timava banho enquanto o homem loiro preparava o jantar. Eles comiam juntos e, por fim, dormiam juntos na pequena cama, com Forever instintivamente abraçando a Maximus de maneira protetora.

Algumas semanas se passaram, as caminhadas fizeram com que Max se sentisse apto a andar sozinho novamente e a alimentação fez com que ele lentamente se sentisse mais forte, até que ele não precisava mais de ajuda para fazer qualquer coisa.
Forever voltou para sua própria casa, mas o visitava periodicamente, atualizando-o sobre suas descobertas sobre a doença e discutindo possíveis curas para sua condição.

— ...eu tenho certeza de que o Cucurucho sabe como curar isso, ele só não quer. — Ele sibilou entre dentes, irritado.

— Tudo bem, Forever. Não dói mais, eu estou bem. — Maximus tentou acalmá-lo.

— Não! Mesmo que não esteja doendo, ainda 'tá aí, e vai te fazer mal! — O homem loiro esbravejou teimosamente, virando o rosto para o lado oposto.

— Bom, se você diz... mas acho que estou bem só com você me visitando de vez em quando.

— Então... eu vou continuar vindo... — Forever virou o rosto para ele novamente, sorrindo. — e vou achar a cura.

— Obrigado. — O homem riu levemente, antes de dar-lhe um abraço de despedida.

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Mais um cap curtinho e atrasado :') mas enfim, espero que tenham gostado.

Ohnanaweek OneshotsOnde histórias criam vida. Descubra agora