Prólogo

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O impasse é palpável.

As duas figuras se observam, medindo cada movimento, analisando cada opção. Ava e Raphael foram companheiros de batalha por mais de cem anos, lutando lado a lado e salvando a vida um do outro inúmeras vezes. Entre eles, há carinho, admiração e, acima de tudo, respeito — o tipo de respeito que só o tempo e as batalhas podem forjar. No entanto, neste momento, tudo parece ter se desintegrado. O que antes os unia agora intensamente os divide, substituindo a camaradagem por diferenças. Diferenças nos objetivos, interesses e intenções.

Ava não pode permitir que Reya tome o controle do Halo. Para ela, é uma questão de humanidade. O mundo está sob a proteção da Freira Guerreira, e ela não permitirá que Reya faça o que quiser com ele. Ela já causou mal suficiente a este mundo e a inúmeros outros, matando pessoas, destruindo famílias, sonhos e esperanças, roubando de todos a livre vontade em nome do que chama de paz. Ava conhece a verdade: viver sem escolha é pior do que estar morto. Então, o que Raphael pensa ou representa é irrelevante. Ela não trairá seu mundo, seu dever, sua família ou a si mesma em prol de uma falsa entidade.

"Por quê?" Ele pergunta, finalmente interrompendo o tenso silêncio. "Por que você iria contra os desejos de Reya? Você não encontrou a paz do outro lado? Ela não lhe deu apoio, amor, compreensão? Não é por isso que ela existe? Você lutou por ela, Ava! Sangrou por ela! Você morreria por ela! Por que está a traindo agora? Por que nos abandonou?"

Ela ri ironicamente, incapaz de conter a amargura. "Ela é um monstro! A paz que ela oferece tem um preço muito alto, Raphael! Eu não permitirei que ela use o Halo para escravizar este mundo como fez com tantos outros! O destino da Freira Guerreira é morrer para que todos os outros possam viver. E mesmo que não haja nenhuma esperança de vencer, a última coisa que minha família verá é eu lutando até o último suspiro para protegê-los."

O homem a encara com uma mistura de pena, compaixão e irritação. "Você ainda não entendeu, não é?", ele diz, com um tom de desespero.

"O quê?", ela responde, confusa, enquanto Beatrice, logo atrás dela, ecoa os mesmos sentimentos.

"Ava Silva está morta. Ela foi morta semanas antes de seu vigésimo aniversário. A representação viva da vontade do Halo é a única coisa que resta. E a vontade dele é servir a sua mestra e criadora. Reya está chamando por você e exige seu retorno. Volte para casa, AGORA!" Ele comanda.

As palavras de Raphael ecoam alto, enquanto uma sensação familiar a envolve. Um desejo desesperado que ela conhece bem, mas não sente há muito tempo. A necessidade de estar ao lado de Reya, de ser e fazer tudo o que ela pede. Sua alma parece ansiar por um comando, uma palavra, um gesto de sua salvadora. É uma força mais forte do que sua necessidade de oxigênio, mais forte do que seu instinto de permanecer viva e até de salvar sua família. Um sentimento que parece ecoar as sensações que a dominam quando está com Beatrice, mas ainda mais intenso. Algo que parece fazer parte do que ela é, trazendo consigo um controle quase libertador de si mesma.

De repente, a compreensão inunda seu peito. Ele está certo. Reya é tudo. Ela mesma existe apenas para servi-la. A vontade da deusa é sua vontade. Não existe Freira Guerreira. Não existe amor. Nem Beatrice. Tudo o que há é Ela. E sua vontade é tão simples que Ava pode sentir lágrimas de felicidade pela facilidade com que pode cumprir esses desejos.

Beatrice precisa morrer. E o Halo, ela mesma, precisa voltar para casa. Para Reya. Agora.

Assim, em um instante, Ava volta sua atenção completa para a mulher atrás dela. Beatrice, confusa, reflete apenas perplexidade em seu rosto, incapaz de qualquer ação contra a mulher que ama. Antes que qualquer palavra seja dita, antes que ela possa compreender o que está acontecendo, a Freira Guerreira ataca. E a espada em sua mão, que antes brilhava com uma intensa luz azul, se mancha com um profundo escarlate de sangue. O silêncio é quebrado pelo choque das cinco mulheres que ainda vivas. Mas Lilith, Mary, Madre Superiora, Camila e Yasmine, feridas, sangrando e caídas no chão, não podem fazer nada além de assistir.

Enquanto isso, o olhar atordoado de Beatrice encontra o de Ava, cheio de dor, angústia e medo. Um encontro que marca o fim de sua conexão, selando o destino que a Freira Guerreira parece tão ansiosa em abraçar. Ela não é mais quem costumava ser. Tornou-se algo diferente. Algo que Beatrice não pode mais alcançar. O sangue que continua a fluir pela lâmina, um aviso brutal de sua nova natureza.

A irmã guerreira cambaleia, segurando sua ferida com uma mão trêmula. Seu corpo está enfraquecido, com dor. Ela sabe que não tem muito tempo, e precisa fazer algo para salvar a mulher que ama, que está desaparecendo rapidamente diante de seus olhos. Precisa tentar algo. Qualquer coisa. No entanto, tudo o que se ouve é o silêncio, interrompido apenas pelo som do seu corpo atingindo o chão.

Ava, alheia a tudo que acontece ao seu redor, afasta-se e caminha em direção a Raphael. Seus passos são lentos e determinados, como se obedecendo a uma força maior do que ela mesma. Quando finalmente seu olhar vago encontra o dele, ele não consegue esconder a expressão de tristeza e resignação. Ele sempre soube que isso estava destinado a acontecer. Ambos têm apenas um mestre, e lutar contra o destino é inútil.

De repente, o tecido da realidade começa a se romper, preparando-se para abrir um portal que os levará de volta de onde vieram. A aura do Halo brilha intensamente ao redor da Freira Guerreira, fundindo-se com o ambiente. No fim, é a vontade dela que guia ambos de volta para Reya, e não o contrário.

Finalmente o portal se abre, engolfando-os em sua mandíbula dimensional. E à medida que o portal se fecha atrás deles, ela encara indiferente o sangue de Beatrice escorrendo no chão, até que ambos finalmente desaparecem, deixando apenas destruição.

O tempo parece se arrastar enquanto ambos viajam através de dimensões.

A sensação de movimento é quase imperceptível, como se flutuassem em um vácuo atemporal. Gradualmente, os contornos do espaço se transformam e se reconfiguram, levando-os a um ambiente familiar. Eles estão de volta ao palácio onde a deusa exerce seu poder e influência. O ambiente está impregnado de energia intensa e misteriosa, emanando de cada parede, de cada objeto. A luz divina envolve tudo e todos que estão lá. Todos são escravos dela e de sua vontade.

Reya, com sua presença imponente, os aguarda no centro de um salão majestoso. Seu olhar penetrante alcança as almas de Ava e Raphael. Sua vontade da deusa permeia o ar, envolvendo-os como um véu invisível. Ambos sabem o que ela quer. Então, enquanto Raphael fica para trás, a Freira Guerreira se aproxima rapidamente para ajoelhar-se diante de sua mestra. O poder do Halo, o poder de Ava, agora amplificado pela presença de sua criadora, flui através de seu corpo, pulsando em sincronia com seu batimento cardíaco.

Finalmente, a deusa estende a mão para ela, que a segura sem hesitação, e nesse instante, a conexão entre ambas se aprofunda, transcendendo a mera obediência. Reya sorri e olha para sua propriedade, sabendo o que está por vir.

Quando Ava se levanta, o brilho intenso do Halo a envolve completamente, transformando-a em uma figura radiante. Ela não é nada além da espada, escudo, palavra e comando de sua mestre, e dedicará sua existência inteira para garantir que todos os seres vivos se submetam ou pereçam de acordo com a vontade de Reya, a começar pelos membros sobreviventes da OCS.

Sombras do destino: Parte I (A Warrior Nun Fanfic)Onde histórias criam vida. Descubra agora