I let the melody shine, let it cleanse my mind, I feel free now

160 12 1
                                    

Dentro do avião, que o levaria para seu próximo destino, Noriaki Kakyoin contemplava o tapete de nuvens brancas que a aeronave sobrevoava e o céu azul celeste que parecia infinito.

Estava pensando nos próximos seis meses em que seria o solista da Orquestra Filarmônica da Flórida. O convite foi feito pelo maestro, Dio Brando, um amigo de longa data de seu agente Daniel J. D'Arby.

Pelo que Noriaki ficou sabendo, o maestro estava precisando renovar os ares na orquestra, por isso o convidou para uma temporada tão longa.

O jovem não demorou muito para aceitar a oportunidade, o fato da maioria dos integrantes serem jovens, com uma idade próxima da sua, foi um fator decisivo. Noriaki estava habituado a trabalhar com músicos décadas mais velhos, casados e com filhos criados. O prodígio estava cansado de se sentir deslocado e achou que seria uma mudança, muito positiva, estar entre pessoas da sua faixa etária.

Desde sempre sentia-se sozinho. Quando pensava em amor, a única imagem que vinha na cabeça de Kakyoin, não era uma pessoa ou animal e sim um objeto: seu primeiro violino.

O presente, dado por sua mãe quando ele completara 3 anos de idade, foi feito sob medida, com 38 cm de comprimento e corpo em madeira tingida de verde, a cor preferida de Noriaki.

A memória daquele dia ainda era vívida, ele lembrava com exatidão da felicidade que sentiu, quando tirou o violino do estojo pela primeira vez e percebeu que se encaixava perfeitamente em seu ombro, o tamanho do braço era ideal para segurar as cordas sem dificuldade e o arco era leve.

O entusiasmo foi tão grande, que no mesmo mês o pequeno Noriaki já se arriscava a tocar as músicas mais complexas do livro de iniciantes.

Conforme os anos se passavam e ele crescia, outros violinos o acompanhavam. O tamanho dos instrumentos aumentava gradativamente, mas a cor era sempre a mesma, o violino de madeira esverdeada havia se tornado a marca registrada do prodígio.

Com a prática diária e dedicação total do jovem, durante 18 dos seus 21 anos de vida, tocar violino se tornou algo tão natural e automático quanto respirar.

Noriaki tinha 3 anos, também, quando contou para a família, pela primeira vez, que era um menino. Em sua cabeça isso era óbvio, um fato, mas havia uma desconexão incômoda com o resto do mundo, pois todos, sem exceção, o tratavam como se fosse uma menina. Aquilo o incomodava profundamente.

Tocar violino se tornou seu refúgio e a melhor forma que encontrou para interagir com o mundo. Fosse no palco, interpretando peças musicais complexas, emocionando plateias ou simplesmente estudando em seu quarto, quando tocava violino sentia-se vivo e livre, Noriaki podia ser ele mesmo da forma mais crua e sincera possível.

Aos 14 anos, o prodígio já era tratado como adulto, trabalhava e viajava muito, ganhava o próprio dinheiro e havia terminado o ensino médio antes do tempo. Nenhuma dessas conquistas, porém, o faziam se sentir menos miserável.

A puberdade chegou adicionando uma camada, a mais, de complexidade a sua vida, que já não era muito simples. Seu corpo arredondou, de repente, ele ganhou um par de seios fartos que o incomodavam e chamavam atenção. Noriaki fazia de tudo para escondê-los no dia-a-dia, porém nas apresentações ele era obrigado a usar vestidos e era inevitável mostrar um pouco da sua silhueta.

Sempre que se olhava no espelho antes de um espetáculo, sentia como se estivesse fantasiado. Aquela jovem ruiva que o olhava de volta no reflexo do espelho não mostrava quem Noriaki era. Para piorar, ele não tinha autonomia sobre seus próprios cabelos, era obrigado a deixá-los longos. Nas apresentações os cachos vermelhos ficavam presos em penteados elaborados com milhões de grampos e adornos que lhe davam muita dor de cabeça.

Bitter Sweet SymphonyOnde histórias criam vida. Descubra agora