Tryna make ends meet, tryna find somebody then you die

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Havia pelo menos um mês, que Muhammad percebera.

Em uma quarta-feira chuvosa, Polnareff lhe deu uma carona para casa, em seu Mazda vermelho, depois do dia particularmente cansativo de ensaio.

Logo que entraram na primeira avenida se depararam com um enorme engarrafamento. Em vez de reclamar, Polnareff suspirou e ligou o rádio. Se tinha uma coisa interessante sobre o francês é que ele sempre dava um jeito de ser feliz, não importava qual fosse a adversidade, para Avdol isso era reconfortante.

Após alguns anúncios do locutor, a música The Sweetest Taboo da cantora Sade, começou a tocar. A batida rápida preencheu o carro e a voz suave da cantora logo se fez presente.

"Ahh, eu adoro essa música!" o francês sorriu e apertou o botão no rádio para aumentar o volume, batucando o ritmo no volante em sincronia perfeita, enquanto cantava junto acompanhando a letra.

"You give me, you give me the sweetest taboo
You give me, you're giving me the sweetest taboo
Too good for me"

Naquele dia, ele estava particularmente bonito, usava uma camisa social preta, a manga comprida dobrada até seus cotovelos, que deixavam seus antebraços fortes aparentes.

Jean-Pierre sempre foi muito atlético, na época da faculdade ele fazia parte do time de esgrima e sempre gostou muito de se exercitar, o que fazia sentido, já que percussão mexia bastante com o corpo todo e ele precisava de condicionamento para aguentar várias horas tocando.

Seus cabelos claros e muito lisos estavam presos em um rabo de cavalo e a franja emoldurava seu rosto anguloso. Distraidamente ele passou a mão por ela e tentou prender atrás da orelha, enquanto se virava para olhar Avdol.

O coração do egípcio acelerou, quando os olhos azuis do francês o fitaram com interesse.

"A gente tinha que ir a um karaokê com o pessoal da orquestra, ia ser tão engraçado. Imagina o maestro cantando, sei lá, uma música da Madonna?" E ele gargalhou.

"Eu pagaria pra ver isso" Muhammad riu também imaginando a cena "Mas jamais conseguiria, eu mesmo, puxar alguma música, não sou tão afinado cantando como você é"

"Tá louco? Eu já te ouvi cantando no chuveiro e você tem a voz linda, para de show!"

Por um tempo na faculdade eles foram colegas de quarto, então se conheciam mais intimamente, o que não ajudava nada na situação em que Avdol se encontrava.

Durante sua vida adulta, o egípcio teve alguns rolos tanto com mulheres quanto com homens, mas nada sério, nunca tinha namorado. Estar apaixonado agora, pelo seu melhor amigo, era complexo. Por mais que soubesse que Polnareff também era bissexual, não significava necessariamente que corresponderia ao seu sentimento.

"Bem, no chuveiro é diferente, na frente de outras pessoas acho que eu morreria de vergonha."

"Não quero saber, fica preparado que quando a gente for eu vou te puxar a força pra cantar a música mais besta que eu encontrar no catálogo, tipo Walking like an Egyptian."

Os dois riram, Polnareff sabia que o amigo achava aquela música frívola e que ele já tinha ouvido muita piada, sem graça, de várias pessoas falando que ele não 'andava com um egípcio'.

"Ah é? Se for assim vou te obrigar a cantar La vie en rose" Avdol também sabia que Jean-Pierre não aguentava mais as pessoas falando sobre esta música, quando lhe perguntavam sobre sua nacionalidade.

"Touché, mon cheri. Touché"

Os dois sorriram um para o outro, Jean voltou a sua atenção para o trânsito e andou um pouco mais com o carro.  Ao passar a marcha, a mão do francês esbarrou na coxa de Avdol e o rosto do egípcio queimou de vergonha.

Bitter Sweet SymphonyOnde histórias criam vida. Descubra agora