Capítulo 1 - Nash

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Uma fresta de luz se esgueirou por baixo da porta e deslizou pelo piso perfurando o breu noturno como uma faca afiada. O ruído da dobradiça da porta despertou Alex de seu sono profundo e fez seu corpo esfriar. Sons abafados de passos pesados se aproximaram lentamente, como uma fera a espreita se preparando para o bote. Alex se encolheu sob o colchão ficando em posição fetal, puxou o cobertor sob a cabeça como se o frágil tecido tivesse o poder de lhe proteger e esperou. De repente sentiu o cobertor levantar e seus pés esfriaram. Um corpo pesado repousou sob suas pernas e se esfregou sob seu corpo como uma cobra quente se enrolando em sua vítima. Alex empurrou o cobertor para cima e por entre seus seios surgiu uma cabeça humana horrível, com olhos vermelhos arregalados, pele esbranquiçada, cabelos desgrenhados, lábios finos, sorriso largo com dentes afiados.

-Shh - o demônio Sussurrou.

Uma mão esquelética deslizou pelo peito de Alex, as unhas marcaram seu pescoço e de repente sua boca foi tapada. Alex tentou gritar e se soltar, mas seu corpo não respondia, como se estivesse envenenada ou acorrentada. De repente o despertador tocou, Alex deu um salto da cama caindo sentada ao chão, sua respiração densa e seu coração acelerado davam uma leve sensação de desmaio.

-Foi só um pesadelo - Sussurrou aliviada.

Duas batidas na porta lhe tirou do devaneio.

-Levanta filha, desce para tomar café.

Seu pai sempre a acordava, mesmo sabendo que o despertador lhe era suficiente. Alex saltou do chão, tomou um banho demorado com a cabeça em baixo da água quente, na espectativa de afastar os flashs insistentes de seu pesadelo horrendo. Vestiu uma roupa confortável, camiseta, calça jeans e tênis. Lançou a bolsa nas costas e desceu as escadas pulando os degraus e esbarrando nos quadros.

-Bom dia papai.

-Bom dia filha, dormiu bem?

Andrew estava diante do fogão, mexendo o ovo na frigideira com uma colher de pau.

-Não, tive um pesadelo.

-Sinto muito.

Andrew virou o corpo em direção a filha, virou a frigideira sob o prato e esperou o ovo deslizar lentamente. O sorriso abandonou o rosto de Alex enquanto seus olhos percorriam os hematomas nos olhos de seu pai.

-O que houve?

-Está tudo bem - Ele respondeu virando as costas para a filha.

-Ontem o Senhor não estava com essas marcas.

-É uma doença.

Não parecia se tratar de uma doença.

-Que doença?

-Pare de fazer perguntas - disse Andrew de forma ríspida - Coma e se prepare pra sairmos.

Alex sentiu uma energia pesada envolta de seu pai, um ressentimento que lhe era familiar, como se de certa forma ele a culpasse por sua "doença". Ela quis prolongar a conversa, mas temeu o rumo que levaria, então apenas se calou e ocupou sua boca com o pão aquecido que lhe foi oferecido.

O caminho até a escola foi silencioso, como um animal se Rastejando pelo corredor do matadouro, muitas palavras não ditas se chocando no ar causando mal estar e preocupação. Assim que estacionou diante do prédio, Andrew se inclinou sob sua filha e beijou sua testa com amor.

-Tenha um bom dia.

Alex apenas sorriu, saltou do carro e lançou a alça da bolsa sob o ombro.

-Não esqueça que hoje não vou conseguir vir buscá-la.

WELCOME TO MY DARKSIDE (Mistério/Suspense/Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora