Capítulo 7 - Até Logo

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Brown passou a semana ensaiando seu encontro inevitável com o advogado, pois estava ciente que o desfecho dessa trágica novela dependia dele. Suas noites banhadas a whiskey envelhecido e cigarros com odor fétido, se emendaram aos dias tornando seu semblante caído e mórbido. Sua esposa já não lhe fazia perguntas, pois já estava ciente que não receberia respostas. Seu filho se tornou um fantasma de seu passado, pois a insistência de contato que antes era unilateral, agora é compartilhada. Sua rotina se modificou, encaixou em uma atmosfera fria, regada por solidão e álcool. De repente a vida envelheceu diante de seus olhos, Brown entendeu a metáfora do daltonismo, pois começou a ver o cinza profundo da desesperança. De certa forma ele aceitou a morte, ainda que estivesse vivo. 

O dia da reunião finalmente chegou. Bob foi pontual e as nove horas da manhã estava sentado diante de Brown no consultório do psicólogo. 

-Muito obrigado por vir. 

Bob balançou a cabeça de forma positiva com uma expressão neutra. Brown abriu a primeira gaveta da mesa, retirou um envelope beje e lançou diante do advogado. 

-O que é isso? 

-Abre - disse Brown fazendo um sutil momento com a cabeça em direção do envelope. 

Bob abriu o envelope e arregalou os olhos pois nunca tinha visto aquela quantia de dinheiro. 

-Está me subornando? 

-É claro que não - disse Brown - Estou te contratanto. Assim você não pode dizer o que sabe, pois é sigilo entre advogado e cliente. 

-Não é assim que funciona. 

-Mas agora vai ter que ser. 

-Doutor Brown, me perdoe a indelicadeza, mas somos adultos e sabemos a gravidade da situação. Não posso me envolver em algo desta magnitude. 

-Vamos pular todo esse bla bla bla de falar bonito. Agora você tem dois clientes envolvidos e não pode criar provas contra nós. 

Bob balançou a cabeça de forma negativa e antes que pudesse formar um argumento foi interrompido. 

-Além do mais, sua cliente tem mais a perder do que qualquer um de nós - disse Brown levantando o queixo com ar de superioridade - Nós temos o réu primário. Acha que ela vai escapar do júri desta vez? Ela vai pegar a pena de morte por um desgraçado que mereceu o fim que teve. 

-Não tem como justificar um crime com outro. 

-Nós erramos em não verificarmos a índole das pessoas que contratamos? Sim. Erramos em não averiguar a denúncia da Nash? Sim. Mas ela resolveu o problema por todos nós e agora é o fim, não tem razão para levar isso para frente e destruir a vida dela. 

-Está admitindo que cometeu o erro maior? 

Brown engoliu a seco, apertou os punhos furioso, não estava preparado para assumir nada. 

-É claro e por isso tenho interesse em negociar o silêncio da Nash.

Bob se ajeitou na cadeira, por mais antiético que a situação lhe parecia, as palavras do psicólogo atingiram seu coração. Ele não estava disposto a condenar a própria cliente, não estava disposto a condenar sua filha a morte outra vez. 

-Qual sua proposta? 

-Vamos aumentar as visitas para uma vez por semana. Ela poderá descer para o pátio todos os dias, sem algemas, junto com os demais pacientes, mas terá supervisão por questões óbvias. Terá acesso a tudo que desejar. 

-Tudo o que? - Bob perguntou. 

-Qualquer coisa que ela quiser, o hospital vai fornecer. E assim que concluir o ensino médio, o hospital vai financiar um curso de psicologia na universidade que ela quiser e puder fazer online. E eu me comprometo a ensinar tudo o que sei sobre psicologia e comportamento humano. Parece justo? 

WELCOME TO MY DARKSIDE (Mistério/Suspense/Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora