Capítulo 3 - Sistema

40 9 8
                                    

Bob apanhou as algemas que os guardas lançaram por entre o vão da grade, deslizou o corpo sob a superfície gélida do banco de cimento e com movimentos gentis atou os pulsos de Alex que de forma desesperada chorava e se encolhia.

-Está tudo bem - Disse Bob em um tom aveludado.

Ambos sabiam que a situação estava longe de ser boa, mas Alex se esforçou para acreditar nas palavras de seu advogado.

-Vamos sair daqui.

Bob se inclinou, passou seu braço por cima do ombro da adolescente a abraçando, apertou seu corpo na expectativa de passar segurança. Os guardas formaram um corredor até o ônibus e assistiram em silêncio a assassina caminhar em passos curtos e desajeitados. Sussurros se esgueiravam por entre as fardas, olhares contraditórios se escondiam em rostos militares, alguns furiosos, outros assustados. Mãos trêmulas repousaram sob os coldres, dedos inquietos dedilhavam os gatilhos, como uma dança ensaiada, se preparando para o grand finale. Nash foi levada para o hospital, mas desta vez foi amarrada a cama, como uma insana. O médico lhe aplicou alguns medicamentos que a lançou para o limbo da pseudo consciência, ora consciente porém letárgica, ora Inconsciente. Por três dias Alex vegetou sob a cama, seus olhos cansados deslizaram por cada estria da tinta envelhecida do teto, como se cada fissura lhe contasse uma história, uma linha tênue de vida que se perdeu ao tempo e mergulhou nas profundezas do esquecimento. As paredes não são tão brancas quanto Alex lembrava, manchas escuras lhe causavam mal estar, seriam infiltrações ou marcas humanas? A janela pouco iluminada estava fosca, pois uma fina camada de poeira servia de barreira para a luz. O quarto que outrora era tão familiar, agora lhe parecia um mundo totalmente novo, como se os medicamentos lhe dessem o poder de ver o ambiente com mais clareza. Aos poucos o médico foi diminuindo a dose do medicamento, e Alex foi perdendo a sensação de letargia.

Bob retornou ao hospital quinze dias depois, com outra equipe médica ainda maior. Alex foi levada para a mesma sala de exames, onde passou pelos mesmos testes.

-Senhor Turner - Disse o médico responsável - Posso lhe chamar assim, ou prefere que lhe chame de Doutor?

Bob levantou os ombros, não se importava com títulos.

-Nossas conclusões são as mesmas - disse o médico batendo o dedo indicador sob os relatórios - está garota tem fortes sinais de psicopatia.

-Eu não concordo - disse Bob indignado - Tem algo errado com ela.

-É claro que tem, ela é uma psicopata.

-Não - disse Bob negando com a cabeça - Tem algo a mais.

-Senhor Turner, quem é médico? Eu ou o Senhor?

-Eu sou advogado.

-Exatamente - disse o Médico cruzando os braços e levantando o nariz em sinal de soberba - eu sou academicamente apto para diagnosticar essa garota, e se eu digo que ela é só uma criança fria e psicopata, é isso que ela é.

-Ela tem duas faces, ora está chorando como uma criança, ora está matando como uma psicopata. Como pode a mesma pessoa ter as duas personalidades?

-Psicopatas fingem.

-Psicopatas sentem empatia?

-Não.

-Como podem fingir tão bem algo que nem sabem o que é?

-Senhor Turner, sinto que está tentando justificar o injustificável. As vezes as coisas são tão simples quanto parecem. Ela matou aquelas pessoas porque sentiu vontade.

Bob deslizou seus olhos afoitos pelo rosto pálido do médico. Um homem de aproximadamente 60 anos, pele enrugada, cabelos grisalhos, estatura alta, corpo esguio escondido por um jaleco branco, olhos pequenos com bolsas roxas, curvado para frente, com rugas e manchas espalhadas pelo rosto.

WELCOME TO MY DARKSIDE (Mistério/Suspense/Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora