Capítulo 10 - Nora

30 7 3
                                    

O sol desliza por detrás das montanhas, tingindo o horizonte de laranja, enquanto a dama da noite recolhe seu véu negro de seda. A brisa gélida empurra a névoa que repousa sob o galpão, como se a natureza entrasse em contradição, ora cobrindo a carnificina com uma fina camada branca, ora a revelando como cortinas se abrindo em um teatro. Aubrey observa a movimentação policial no topo da ribanceira, de braços cruzados. Uma sensação incomoda a possuiu, como se uma mão invisível apanhasse seu coração e o expremesse diante de seus olhos.

-Parece que encontramos todos os corpos - disse Johnson se encolhendo de frio dentro de seu terno de linho.

-Tem alguma coisa errada.

-Como assim? Acha que tem mais vítimas?

-Sim.

Aubrey tem um sexto sentido certeiro, se algo a incomoda é porque tem coisas ocultas esperando para virem a tona. Essa habilidade a tornou uma excelente investigadora, porém, a inabilidade em compartilhar tal sensação, a impede de prosperar.

-Reúna sua equipe e faça os criminosos falarem - disse Johnson se afastando.

Na delegacia, a equipe digita seus relatórios enquanto trocavam informações e comemoram a vitória. Mas assim que Aubrey entrou na sala, o silêncio se espalhou, como um vírus contagioso.

-Continuem os relatórios - disse a superintendente lançando sua bolsa sobre a mesa - Anna, vamos fazer o interrogatório.

Anna acompanhou a chefe até o subsolo onde encontraram Johnson.

-O homem pediu um advogado e se recusa a falar. A velha está falando, mas nega tudo - disse Johnson - Como o galpão não fica na propriedade deles, precisamos de uma confissão.

Aubrey concordou com a cabeça.

-Façam a idosa falar.

-Sim Senhor - disse Anna.

Aubrey e Anna entraram na sala de interrogatório e encontraram a idosa com um sorriso gentil.

-Olá mocinhas - disse ela.

-Senhora Leonora Esposito. Eu sou a investigadora Anna Madero e essa é a Superintendente Aubrey Cowell.

-Por favor, me chamem de Nora.

-Senhora Nora - disse Anna.

-Apenas Nora.

-Nora - Anna fez uma pausa - creio que saiba o motivo de estar aqui.

-Para ser sincera - disse a idosa com a voz trêmula, como se simulasse ser mais velha - eu não sei.

-Encontramos um galpão com cadáveres humanos atrás de sua casa.

-Ora, mais que coisa horrenda.

-Senhora Nora, já passamos dessa fase - disse Aubrey se inclinando sob a mesa - sabemos que foram vocês. Nós digam sua motivação e quantos corpos ainda faltam ser encontrados.

-O que? Mas que absurdo. Olhe para mim, sou uma idosa.

-Idade não é um fator dominante - disse Anna - a Senhora é perfeitamente capaz de cometer crimes.

-Ser capaz não significa que eu tenha cometido.

-Nós já sabemos que foram vocês - disse Anna - negar só vai complicar a situação. Vocês podem pegar pena de morte.

-Vão matar uma velhinha por algo que não cometeu?

-Pare com esse teatrinho Nora, tem ferramentas suas naquele galpão, não tem a menor possibilidade dos jurados não te condenarem - Aubrey praticamente gritou.

WELCOME TO MY DARKSIDE (Mistério/Suspense/Lésbico) Onde histórias criam vida. Descubra agora