Garoto Determinado

730 77 189
                                    

🍯

Os músculos tensos queimavam e adormeciam com a mesma frequência dos batimentos cardíacos de Azriel.

O suor descia denso pela pele, reluzindo igual à todos os outros rapazes ao seu redor. Estavam sujos de terra, grama e até mesmo sangue, e ainda assim as garotas que observavam o treino ao longe suspiravam e os lançavam sorrisos tímidos.

Há um tempo atrás, Azriel com certeza apreciaria bastante a atenção. Contudo, naquele momento, apenas conseguia pensar que fingir desmaio era uma saída um tanto eficaz, já que o instrutor parecia se divertir bastante ao ver os rapazes já próximos da falha. Ninguém mais ali contava o número das flexões, já haviam perdido a conta.

O treino era intenso, daqueles que o rapaz sabia muito bem que o deixaria dias dolorido. Contudo, mais uma vez, extrapolava os limites do próprio físico para não fazer feio na frente dele.

Azriel poderia facilmente intitular-se como alguém determinado quando tratava-se de sua imagem diante de Sr. Vanserra. Era inegável que fazia de tudo para impressioná-lo, para manter a atenção dele em sim, para continuar a ter a afeição e admiração dele.

E Azriel nunca na vida se considerara um bom garoto, mas gostava de ser o bom garoto de Sr. Vanserra. Por isso, prezava de maneira nociva sua imagem quando se tratava dele.

Quis rir quando sentiu a sola da bota pesada entre suas omoplatas em meio às subidas e descidas já falhosas das flexões. Por meio centímetro não encostando na base das asas.

Ele pisou com força. Azriel grunhiu trêmulo, mas seguiu com o exercício como se não estivesse prestes a sentir o ombro deslocar. Não seria a primeira vez.

Sr. Vanserra conseguia ser muito maldoso quando desejava. E ainda havia quem dissesse que era o protegido dele. Estava parecendo que exercia algum tipo de privilégio, porra?

Suas sombras agitaram-se. E era terrível quando elas resolviam se comportar daquela maneira em público. Ainda que tivesse melhorado sua comunicação e vínculo com elas, era inegável que em seus momentos de vulnerabilidade elas ainda assim conseguiam sair de seu controle.

Era o que ocorria.

— As mantenha longe de mim. — Sr. Vanserra ordenou. — Não basta controlá-las, precisa domá-las.

Azriel não conseguia focar em nada que não fosse a dor nas costas e a dormência maldita em toda a extensão dos braços. As flexões tornaram-se lentas.

— Mantenha o ritmo.

Azriel tentou puxar as sombras novamente para perto de si, falhando miseravelmente quando a sola da bota pressionou suas costas com mais força.

— Está atrapalhando seus colegas.

O rapaz não precisou olhar em volta para constar que as gavinhas haviam se espalhado por toda parte e que com toda a certeza estavam desconcentrando com estripulias os rapazes focados no exercício.

Somente conseguiu trazê-las de volta para si quando a bota deixou suas costas para pisar novamente no chão, muito perto do seu rosto.

Sr. Vanserra enfim resolveu que era a hora de ir testar a resistência de outro rapaz, andando para longe si.

Durante toda a execução e até o fim do exercício, Azriel martirizou-se por não ter conseguido exercer total controle sobre suas nenéns quando lhe foi exigido. Anotou mentalmente que iria treinar seu controle sobre elas até que seu cérebro escorresse pelos ouvidos, para que nunca mais algo como aquele vexame acontecesse.

Corte de Docinhos de Garoto •LURIELOnde histórias criam vida. Descubra agora