LOUCOS DE AMOR- Carlos Sainz Jr.

Capitulo 1

"Senhores passageiros, última chamada para o voo 325 Lisboa-Londres."

Sem sinal dele, eu mantive a esperança de uma despedida, mesmo sabendo que não era o que ele queria. Talvez seja o medo dele de me ver partir, especialmente por ser sua primeira filha, mas sei que essa é a minha decisão.

-Clara, ele não vem- diz minha irmã.

-Vamos esperar mais um pouco- murmuro, fixando meu olhar na entrada.

-Clara, olha para mim- obedeço ao pedido -Está tudo bem, ok? Vai ficar tudo bem. Ele só precisa de tempo.

Desvio o olhar para a porta mais uma vez, vendo uma miscelânea de pessoas a entrar.

-Tens razão- murmuro com um sorriso forçado.

-Essa é a minha maninha, vem cá, dá-me um abraço- minha irmã tenta me consolar.

-Tu estás a ser muito fofa, quem és tu? O que fizeste com a minha irmã?- tento brincar, mas a emoção transborda em cada palavra.

-Não sejas tonta. Mas, Clara, estás pronta para isto?- ela pergunta com um olhar preocupado.

Respiro fundo antes de responder.

-Não, não estou completamente pronta. Mas é algo que eu preciso fazer. É o meu sonho, Maria. Londres é uma oportunidade para mim, para o meu futuro.

Ela assentiu, segurando minhas mãos.

-Eu sei, eu sei. Só quero ter certeza de que estarás bem, que vais cuidar de ti mesma.

Sinto um aperto no peito ao abraçá-la com força.

-Eu prometo, vou cuidar de mim. E  vamos nos falar o tempo todo, ok?

É difícil conter as lágrimas quando nos separamos. Com um sorriso forçado, pego na minha mala e caminho em direção ao portão de embarque, deixando para trás a minha família, o meu país e uma parte do meu coração que ficará aqui, na segurança e no aconchego do lar.

O anúncio ecoa outra vez pelo aeroporto: "Última chamada para o voo 325 Lisboa-Londres. Passageiros, por favor, dirijam-se ao portão de embarque."

Com o coração pesado e um turbilhão de emoções dentro de mim, dei um último olhar para trás. As imagens da minha família, do meu país, e de tudo o que conhecia tornaram-se borrões enquanto caminhava em direção ao portão de embarque. Cada passo era como se estivesse deixando para trás uma parte de mim mesma, uma parte que estava tão enraizada na segurança e no conforto de casa.

Cada ruído ao redor, cada anúncio ecoando pelo aeroporto, parecia amplificar a distância crescente entre mim e tudo o que sempre conheci. O nó na garganta estava quase a sufocar-me, enquanto uma mistura de ansiedade e expectativa me consumia por dentro. Era como se estivesse a desligar-me, flutuando num espaço vazio entre o que eu era e o que estava prestes a tornar-me.

O meu olhar estava fixo no portão, agora a abrir-se para um novo capítulo da minha vida, trazendo consigo uma onda de determinação misturada com um arrepio de receio do desconhecido. Era a promessa de novas experiências e oportunidades, mas também a despedida de tudo o que sempre soube.

O meu coração batia descompassadamente, ecoando cada batida como um lembrete constante de que agora, mais do que nunca, estava por minha conta. O brilho dos meus olhos molhados refletia a mistura de sentimentos: a tristeza da despedida, a empolgação pelo que viria a seguir e a incerteza de como tudo se desenrolava.

Com uma respiração profunda, dei o último passo pelo portão de embarque, sentindo como se estivesse a atravessar um limiar entre o que foi e o que viria a ser, deixando para trás o familiar para adentrar no desconhecido, com esperança e uma determinação silenciosa a guiar cada movimento.