Capítulo 6

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-Outro dia difícil, presumo- oiço uma voz calma dizer atrás de mim, fazendo a minha pele arrepiar.

Olho para trás para ver quem era o dono da voz, e lá está ele, com um sorriso encantador e com o meu casaco nas mãos. Carlos Sainz.

O meu coração disparou, e por um momento, esqueci toda a confusão que acabara de acontecer. Ele se aproximou, estendendo-me o casaco com um gesto amável.

-Mais do que imaginas - respondi, aceitando o casaco com um sorriso agradecido.

Sentou-se ao meu lado, e ambos ficamos em silêncio por um momento, contemplando o sereno cenário à nossa frente.

-Às vezes, uma pausa é necessária, mesmo nas noites mais movimentadas - comentou Carlos, olhando para o lago.

-Parece que tens alguma experiência nisso - brinquei, tentando aliviar a tensão.

Ele riu levemente.

- A vida na pista ensina-te a apreciar os momentos de tranquilidade. E tu? O que te trouxe para esta confusão toda?

Suspirei, hesitante sobre quanto compartilhar.

-Problemas pessoais. Coisas que eu gostava de esquecer, pelo menos por esta noite.

-Entendo- disse perdido em pensamentos- se quiseres falar sobre, sou todo a ouvidos, provavelmente não conheço as pessoas.

Ele soltou um pequeno risinho. Respirei fundo, absorvendo mais uma vez o aroma que pairava no ar.

-As vezes estar apaixonada por alguém que não te ama da mesma forma, pode ser um pouco... desgastante- sinto os olhos umedecer. Tento controlar-me-... e tu perguntaste, tipo, talvez se eu fosse mais bonita, mais interessante ou mais engraçada...- senti uma lágrima rebelde escorrer-me pela bochecha- ...talvez ele não tivesse feito o que fez, mas é totalmente falso... faças tudo o que fizeres, isto não tem nada haver contigo.

-Lamento... às vezes, as pessoas não compreendem o quanto são especiais- Carlos disse, escolhendo as palavras com cuidado.

De repente o jardim ao nosso redor pareceu mergulhar numa atmosfera de compaixão e compreensão.

-Às vezes, as cicatrizes que carregamos não definem quem somos; são apenas parte da nossa jornada.- Carlos continuou- O verdadeiro poder está em como escolhemos seguir em frente, abraçando a nossa autenticidade. Eu sei que nos conhecemos pouco, mas vejo uma pessoa incrível à minha frente, e espero que, um dia, possas ver isso também.

As suas palavras tocaram-me profundamente, e, involuntariamente, uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto. Levantei-me rapidamente para disfarçar a emoção que ameaçava transbordar, mas Carlos, atento ao meu estado, percebeu.

Num gesto intuitivo, ele também se levantou do banco e, sem dizer uma palavra, envolveu-me num abraço caloroso. Ficamos ali, naquele momento, onde as palavras se tornaram desnecessárias, e o consolo era transmitido através do simples ato.

No entanto, o breve momento de conexão foi interrompido pela chegada de uma figura feminina que olhava para mim com desdém.

-Interrompo algo- perguntou a mulher. Carlos assim que a ouvimos falar desfizemos o abraço e pude reconhecer a mulher, era a mesma que estava de mãos dadas com Sainz no jantar.

Mas que Merda, parece que me meto sempre em confusão.

- Não, não estás. Rebecca, quero que conheças a Clara. Clara, esta é a Rebecca, minha namorada.- Carlos tentou suavizar a situação, e eu forcei um sorriso, tentando esconder as emoções que ainda estavam à flor da pele.

-CLARAA!- oiço uma voz feminina de longe- ah! Estás aí!

Vejo Kika chegar no momento perfeito, quebrando a tensão que pairava no ar. Rebecca pegou na mão de Carlos e puxou-o dali para fora, sem dizer uma palavra. Fiquei ali parada, observando a cena, ainda a processar o que acabara de acontecer.

Kika aproximou-se com uma expressão confusa.

-Clara, o que aconteceu aqui? Estava tudo bem há pouco.

Tentei sorrir, mas os meus olhos ainda estavam marejados de lágrimas.

-Nada, Kika.

-Ninguém chora por nada- sorri compreensiva- vem senta-te, vá conta-me o que se passou.

Aponta para o banco onde eu e Carlos estávamos sentados. Obedeço.

-Vá conta.

-Tom ligou-me

-e tu atendeste?

-sim

-Meu deus clara esse homem magoa-te imenso e tu ainda tens contato com esse traste.

-Amiga nós estávamos juntos desde os nossos 15 anos, é difícil ok?

Kika suspirou, abanando a cabeça.

-Clara, mereces muito mais do que ele. Mas não é sobre isso que queria falar. Aquele piloto que estava contigo... Carlos, certo? Ele é piloto da Ferrari, Clara. Ferrari! Imagina as oportunidades. E ele parecia genuinamente preocupado contigo.

Suspirei novamente.

-Kika, não quero misturar as coisas. Já tenho problemas suficientes com o Tom, e para além disso ele tem namorada

-Estás a perder uma grande oportunidade, amiga. Parecia que vocês já se conheciam e tudo.

-Isso é porque já nos conhecíamos- ri

-Como assim?- kika franze o cenho.

-Lembras-te da minha primeira noite aqui em que fomos aquela festa?- Kika afirma com a cabeça- bom.. ele era aquele homem com quem eu estava a falar.

Assim que acabei de falar kika levanta-se aos pulinhos e dá um pequeno grito.

-AI MEU DEUS! É o destino Clara Medina!

Ri com o comentário dela, mesmo que ainda estivesse um pouco abalada. A vida continuava, e parecia que, de alguma forma, o universo estava a enviar-me sinais mistos.

LOUCOS DE AMOR- Carlos Sainz Jr.Onde histórias criam vida. Descubra agora