O cemitério

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Ando pelo extenso cemitério e observo cada pedra esculpida, com nomes e datas diferentes. Nomes de crianças, adultos, jovens e bebês. Retomo meu olhar, forçando minhas pernas a andarem, a me carregarem até meu destino. 

Me ajoelho de frente para o túmulo. Minhas pernas nuas, graças ao short que eu inventei de usar antes de sair de casa e perceber o frio, pinicam em contato com a grama verde e perfeitamente cortada.

Um suspiro cansado escapa de meus lábios antes que eu perceba.

- Sinto sua falta, irmãozinho - sussurrei. - Tudo ficou tão sem graça depois que você se foi.

Abaixei minha cabeça, sentindo meu peito se apertar. O bolo que começava a se formar na minha garganta era quase impossível de engolir.  Sem esforço algum, as grossas e quentes lágrimas começaram a correr pelo meu rosto, caindo e caindo. Meus ombros sacudiam com a força do choro, mas não me conti. Não sei quanto tempo fiquei ali, mas o céu já havia escurecido o suficiente para eu me dar conta de que já precisava ir embora. 

Passei as costas das mãos no rosto e forcei meus joelhos, me levantando. 

Senti uma queimação na nuca e me virei, tentando enxergar no escuro. Meus ombros tensos assim que uma silhueta, aparentemente masculina, começou a caminhar em minha direção despreocupadamente. Disfarcei e, segurando com força a vontade de correr que me preenchia, andei despreocupada (ou tentei). Não evitei me desesperar quando olhei para trás e vi que a pessoa ainda me seguia, mas agora à passos largos. Minha atenção novamente se voltou ao caminho, eu estava desesperada. Pra caralho. 

Com as palmas suadas, me apressei, passei por uma árvore e a saída brilhava, tão perto. 

Parei quando um aperto forte, mas delicado, segurou meu pulso. Meu coração batia forte ao ponto de doer. Minha expressão de terror deve ter sido o suficiente para que ele afrouxasse o aperto e, por fim, me soltasse. Quando ia gritar, meu foco se voltou para as orbes verdes, escuras e perversas. Minha boca, com um "o" que já havia preparado para um grito, se alarga em um sorriso surpreso. 

Não podia ser!

Estática, observei cada detalhe de seu rosto. Estava um pouco mais pálido e sério que há três anos atrás, desde  última vez que nos vimos. 

Devagar, dei um passo em sua direção como se o mesmo fosse um animal arisco, que fugiria a qualquer momento. Como não o vi recuar, dei mais um, me aproximando mais. Enlacei meus braços ao redor de seu pescoço, seu corpo rígido pelo toque repentino; logo senti seus braços fortes rodeando minha cintura com força.

 Puxei seu perfume para dentro das minhas narinas, sentindo seu cheiro familiar de grama, erva doce e algo como menta; era um cheiro verde. 

- Porra - senti-o se soltar de mim e senti a falta de seu toque. Seus olhos me examinaram, e endireitei meus ombros. - Você está - cortei-o.

- Gorda - ri fracamente, abraçando meu corpo - eu sei. 

- Fodidamente linda e gostosa! - sorriu de canto e senti meu coração errar uma batida. - Senti sua falta. - Novamente seus braços me puxaram para si, e quase ronronei com o gesto. 

Se separou para me olhar nos olhos, seus dedos contornando cada traço do meu rosto. Seu toque deixando um formigamento por onde passava, quente e carinhoso. Eu já não tinha controle da minha respiração, estava tão desregulada quanto podia estar. 

Sua mão desceu devagar pelo meu pescoço, os calos me proporcionando inúmeras sensações. Com a outra mão, acariciou meu colo, deixou beijinhos e apertou meu seio, e tive de me segurar em seu antebraço quando minhas pernas ameaçaram falhar. Sua risada rouca reverberou pelos meus ouvidos, fazendo meu núcleo pulsante encharcar. 

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