Cela

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Merda! Me pegaram.

Com a garrafa de whisky firme contra meu braço, corro para fora da loja sem olhar para trás. Com a mão livre, cubro minha cabeça com o capuz do meu moletom e continuo a correr. No meio da rua sem iluminação, vejo as luzes piscantes azul e vermelhas. Arregalo os olhos assim que ouço a sirene da viatura sendo ligada e, com muito esforço, forço minhas pernas a correrem mais rápido.

Abro a garrafa enquanto minha pernas queimam e tomo um grande gole. Engasgo e derramo metade; minha garganta queimando pelo líquido e pelo ar frio. Tomo mais um gole, e, com um aperto no coração, atiro a garrafa para trás, sem virar meu rosto. Um derrapar de rodas e o motor sendo desligado fazem meu coração bater mais calmo.

Sorrindo continuo o caminho, mas minha felicidade não dura muito, pois grandes mãos rodeiam meu corpo e uma voz masculina e rouca fala em meu ouvido:

- Peguei! - Me debato, tentando, em vão, me livrar de seu aperto.

Minhas mãos são algemadas, e enquanto um braço eu segura meu fino pulso, sou virada para ele, meu capuz é tirado brutamente da minha cabeça. Seu rosto, em pura confusão, está com uma careta. Atiçando, repuxo minha boca, lhe oferecendo um sorriso de canto e um levantar de sobrancelhas.

- Não acredito que estava perseguindo uma garota! - Abro a boca em um perfeito "O" e piso em seu pé com força. - Ai, desgraçada - puxa o cabelo da minha nuca, fazendo com que meu couro cabeludo arda.

- Ai, não faz assim que eu fico fraca - olhei em seus olhos.

- Meu Deus, onde eu me meti? - Olhou para o céu. - Vem, você vai passar a noite na delegacia - começou a me puxar em direção à viatura. Tentei protestar, mas ele era mais forte. - Vamos, garota, não temos a noite toda.

- Quero ver seu distintivo - bati o pé no chão. Recebi um revirar de olhos - vai que é um sequestro - dei de ombros.

Com a mão livre, ele pegou algo no bolso, uma carteira, e abriu-a. Mostrou sua foto, e eu ri.

- O que é engraçado? - tombou levemente a cabeça para o lado, o gesto quase imperceptível.

- Cracudo, muito cracudo! - Comecei a gargalhar. Fechei os olhos e me inclinei, a barriga doendo. Sem querer, soltei minha risada de porco e senti minhas bochechas queimarem. Ajeitei minha postura, e agora foi sua vez de rir.

Desferi um chute forte em sua canela, e ele quase caiu. Parou de rir, me olhou feio e guardou seu distintivo. Me pediu minha identidade, e eu neguei.

- Não temos a noite toda, garota - repetiu, e esticou a mão, abrindo e fechando a palma virada para cima.

- Se me soltar, eu posso pegar no bolso da minha calça - sorri abertamente.

- Por que não pensei nisso? - Coçou a cabeça, fazendo drama.

Mordi a língua para evitar lhe dar uma resposta nada gentil, mas me virei o máximo que podia e empinei a bunda para ele. O mesmo me olhou em dúvida, um finco entre suas sobrancelhas.

- Você não queria minha identidade? - Perguntei com uma leve inocência. - Pegue-a, já que não posso - de costas, me segurei para não rir.

Sua mão deslizou para dentro do meu bolso traseiro. Maldita hora em que que vesti uma calça moletom super larga. Não encontrando, partiu para o outro bolso e rapidamente tirou sua mão de lá, puxando minha identidade com a ponta dos dedos. Seus olhos correndo pelas minhas informações assim que me virei.

- Dezenove aninhos, senhorita Madero - um leve tom de interesse.

- Fico feliz que saiba ler - ácida, sempre fico assim quando tocam no meu sobrenome.

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