Cecilie

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09/05/2018

  Mais um dia se inicia com o despertador tocando impiedosamente às nove da manhã. Meus olhos se incomodam com a luz que indica o horário, vindo do aparelho. Nesse exato momento, minha batalha para desligar o mesmo começa, mas ele parece ter desenvolvido uma resistência obstinada do inferno! Faço diversas tentativas, sem sucesso, e ao ouvir o som do meu celular despencando do segundo andar da beliche onde durmo, percebo que a vitória escapou por entre meus dedos.
Minha irmã mais nova, que ocupa a cama inferior, se revira desconfortavelmente, enquanto minha irmã mais velha inicia uma série de resmungos.
"Desligue isso! Provavelmente ainda tenho cinco preciosos minutos de sono. Droga!" - exclama ela, expressando a frustração que todos nós compartilhamos diante do som.
Recupero meu celular do chão e, finalmente, consigo desligá-lo. Ao me dirigir à porta do meu quarto, sou recebido pela luz matinal que atinge meus olhos, forçando-me a fechá-los momentaneamente enquanto adentro o banheiro. Entretanto, minha entrada não é tão suave quanto eu gostaria, já que sinto minha cabeça bater contra algo duro. Após uma reclamação silenciosa, ergo os olhos para descobrir que a porta do armário de madeira sobre o vaso sanitário acabou de se chocar contra minha cabeça. Quem deixou isso aberto?
Por sorte um corte não aconteceu, então escovo meus dentes e penteio o meu cabelo, deixando os fios soltos, pois odeio os mesmo amarrados.
Enquanto enchia minha caneca azul escura com leite, entro no grupo para conversar com as garotas:

                  [          Hoje          ]

Li: Bom dia gente!

Íris: Bom dia Li!

Eu: Bom dia gente!

Li: Aqui está um saco, não vejo a hora de chegar em casa e deitar na minha cama. Essa escola está me matando aos poucos!

Eu: já te avisei, um dia vai acabar perdendo a cabeça Li, tem que descansar um pouco.

Íris: realmente Li, se continuar nessa vai acabar em outra crise de uma semana, lendo livros tristes, escutando a loirinha e vendo edits de pilotos de F1.

Li: EI! Vocês não precisam ficar jogando na cara. Vou começar a fazer brownies apenas para meus amigos da escola também.😒

Eu: você realmente está perdendo a cabeça não? Como tem coragem de dizer uma coisa dessas???😭😭😭

Íris: Já era difícil dividir aquela maravilha com eles, agora nos privar???? Não acha que está exagerando não flor de lótus???

Li: deixem de drama, estava brincando, mas e aí? Como estão vcs?

Íris: Acabaram de me chamar para o trabalho de ciências em grupo. Estou com um pé atrás, mas acho que é coisa da minha cabeça...

Eu: Ah que bom! Assim você já se enturma com a sua sala.

Li: exatamente, fica tranquila, tudo vai dar certo!

Íris: eu realmente espero que vocês estejam certas...

Eu: estou fazendo a lição de casa... odeio física, QUERO QUE ELA EXPLODA E QUE TODAS AS MAÇÃS DO MUNDO COMECEM A LEVITAR PARA NÃO CAIR NA CABEÇA DE NENHUM DOIDO DE NOVO!

Lia: Que o universo te ouça Ceci.

Íris: amém irmãs!

Enquanto as meninas estão na escola, passo meu tempo em casa, dedicando-me às tarefas escolares ou, às vezes, perdendo preciosos momentos que poderiam ser empregados de maneira mais produtiva. Frequento as aulas no período da tarde, e só retorno à noite. Surpreendentemente, o segundo ano do ensino médio se tornou mais cansativo do que aparenta, e a ideia de que este é o melhor período da minha vida me surpreende e, às vezes, assusta.
Depois de dar um gole no meu leite, começo a saga da preparação pro colégio, que começa às 14:00 e se arrasta até às 21:00. Tomo um banho, seco o cabelo, me distraio no celular, depois decido assistir uns episódios malucos de Super Natural na na TV, até virei de ponta cabeça no sofá por abto, volto pro cabelo, onde tento encontrar a playlist perfeita – um mix de K-pop e pop – para dar aquele clima. No meio disso tudo, escolho a roupa e monto um look que, na minha mente, tá digno de tapete vermelho.
No entanto, quando espio o relógio, percebo que já são 13:40. Os portões da escola fecham exatamente às 14:00, e eu tô numa corrida contra o tempo que parece mais um episódio acelerado da minha vida. Estou oficialmente ferrada.
Quando vou pegar as chaves, percebo que a minha não está no chaveiro compartilhado com a minha família. Era só o que faltava acontecer! Meu pai estava no trabalho, minha irmã mais velha e minha mãe também, enquanto minha irmã mais nova foi para a academia praticar seu esporte favorito, jiu-jítsu. Alguém deve ter pego minha chave por engano. Antes de pensar nessa possibilidade, já havia vasculhado a casa toda, indo em direção ao lugar onde guardamos a chave reserva, que por sorte estava dentro da caneca decorativa da sala.
Saio às pressas de casa, e quando estou perto do ponto de ônibus, vejo o ônibus virando a próxima esquina. Paro para respirar e observo ele indo embora.
"O jeito vai ser correr a maratona então", digo para mim mesma, nem percebendo as pessoas do ponto me olhando esquisito, provavelmente pensando que sou uma louca fugindo de um manicômio.
Corro em direção à escola e, por sorte, quando chego, os portões estão abertos. Vou ao banheiro e, ao olhar nos espelhos quebrados por alguma menina rebelde, percebo que pareço uma louca avoada. Bochechas vermelhas, parecendo tomates, toda suada (odeio suar), e sem um dos meus brincos. Droga, era um dos meus favoritos. Deve ter caído enquanto corria a maratona do dia. Tento arrumar os fios de cabelo, mas é em vão.
Ao chegar na sala de aula, meus colegas já estão todos sentados, e o professor de matemática está dando sua aula.
"Licença, professor", digo com um sorriso desastroso.
"Onde estava, Cecilie?" ele pergunta com uma cara suspeita.
"Correndo uma maratona para chegar a tempo da aula do meu professor predileto."
"Falhou miseravelmente. Sente-se, garota. Preste atenção na aula, hein."
"Pode deixar, senhor."
Coloco minha bolsa na parte de trás da cadeira em que me sento. Quando olho para minha direita, Joe e Léo me olham com uma falsa cara de decepção, sussurrando "tinha que ser a Cecilie" os dois ao mesmo tempo ao mesmo tempo, enquanto Nic diz " Cecilie é toda fudida mano". Em resposta mostro a língua para eles. Olho para a direita, e Luca sorri com seu sorriso gigante, acenando para mim. Faço o mesmo em resposta.
Quando percebo, a lousa está inexplicavelmente repleta de letras, o que não faz o menor sentido, considerando que estamos na aula de Matemática! Ao observar meus colegas, todos parecem lidar tranquilamente com os cálculos, enquanto a frustração e angústia de me sentir atrasada me sufocam. Essa sensação não se limita apenas à matemática, ela se estende por todos os aspectos da minha vida. É como se estivesse presa em um constante jogo de tabuleiro, voltando sempre não apenas duas casas, mas um número absurdo delas, tipo mil. A ideia de estar sempre uns passos atrás distorce minha existência, tornando cada aspecto dela uma batalha contra o tempo.
Só quero que o dia de hoje acabe, e ele nem sequer começou.



















Depois de oito aulas e dois intervalos, finalmente estou indo para casa, minha parte favorita do dia! Hoje, tive a sorte de minha mãe ir me buscar na escola, o que significa que vou de carro e escaparei da chuva

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Depois de oito aulas e dois intervalos, finalmente estou indo para casa, minha parte favorita do dia! Hoje, tive a sorte de minha mãe ir me buscar na escola, o que significa que vou de carro e escaparei da chuva.
Enquanto desço as escadas da escola, observo os colegas abrindo guarda-chuvas e colocando toucas, alguns até improvisam usando suas mochilas como proteção contra as gotas. Sem nada para me proteger, apressei-me para sair o mais rápido possível, buscando um cantinho do lado de fora da escola para esperar minha mãe sem me molhar. A cena dos colegas se protegendo da chuva cria um contraste interessante, tornando a minha busca por abrigo ainda mais urgente. Tenho um pavor por chuvas, então, ao ouvir um trovão, dou um salto que resulta em minha queda enquanto caminhava apressadamente pela rua. Parece que todos estavam lá para testemunhar a minha queda. Nesse momento, me encontro sentada no chão frio e molhado, com as mãos apoiadas na rua e meu bumbum dolorido. Um detalhe crucial é que, ao cair, eu estava atravessando a rua, resultando em uma queda no meio da pista onde os carros transitavam!
Ao virar o olhar para a direita, percebo um carro se aproximando rapidamente. A minha mente, atordoada pelo pensamento sobre a reação das pessoas à minha queda, mal registra o perigo à caminho: EU ESTAVA À BEIRA DE SER ATROPELADA! O susto inicial da queda é agora amplificado pela surpresa da minha futura suposta morte.
Fecho os olhos com força, mas os anéis de volta depois de escutar um grito, e a buzina do carro zoar alto. Quando recupero a visão, o motorista do carro me olha com uma cara de decepção que chega a doer sabe?
Me levanto encharcada e fazendo um joinha para o motorista, agradecendo diversa vezes por ter parado.
Vou para a calçada e continuo à espera da minha mãe.

"A ligação de hoje vai render muito assunto" digo suspirando.

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