Íris

17 0 0
                                    

09/05/2018


   Acordar se torna um desafio quando se trata de ir à escola às seis da manhã, especialmente em um frio congelante. O inverno não traz alívio a essa rotina, e a simples ideia de encarar as aulas se torna um fardo. Ultimamente, a experiência de permanecer sentada em uma cadeira desconfortável, olhando para a lousa, cercada por rostos desconhecidos, tem sido incrivelmente torturante.
"- Iris!"
O eco do meu nome vem do canto distante da sala de aula, fazendo com que automaticamente gire a cabeça na direção do barulho. Lá estava ele, um garoto de cabelos castanhos e cacheados, Jhon, o representante de sala. À sua volta, o grupo que compunha seu grupo, composto por dois rapazes e duas moças, todos compartilhando a habilidade de parecerem desinteressados durante todas as intermináveis seis horas de aulas. Não posso dizer que foram rudes comigo, afinal, sou a aluna nova que raramente interage com qualquer um deles. Até o momento, minha única interação foi com Jhon, que me conduziu por um tour da escola que claramente nenhum de nós estava gostando.
Quando Jhon e os outros notaram minha atenção direcionada a eles, eles tentaram iniciar um diálogo monótono.
"- E então? Ainda não tem um grupo para o trabalho de ciências? Por que não se junta a nós? Acredito que a senhora Helena não se importaria de adicionarmos mais um membro."
Jhon falou com um sorriso caloroso que havia conquistado a todos durante a eleição para representante de sala. Não posso negar, o rapaz era amigável e cuidadoso com os detalhes, o que explicava sua eleição para o cargo.
"- Jhon está apenas cumprindo seu papel de representante. Ele achou que seria uma boa ideia convidar a aluna nova para se juntar a nós. Afinal, parece que você não se enturmou com nenhum dos outros grupos, certo?"
Diferente do sorriso amigável de Jhon, Catherine, ou "Cat," como todos a chamavam, ostentava um sorriso falso e forçado no rosto. Depois da fala da garota, senti a obrigação de me encaixar em qualquer grupo disponível. Era notório para todos que eu não tinha nem mesmo um parceiro de trabalho.
Antes de responder à pergunta, hesitei por um momento. Será que seria bem recebida pelos outros integrantes? Será que suas intenções eram sinceras? De qualquer forma, eu não tinha muita escolha. Então, com um sorriso tímido, respondi:
"-Pode ser, obrigada..."
Eles retomaram a conversa, e eu percebi que era hora de voltar à minha posição inicial. Virei-me de volta para a frente e continuei mexendo no meu celular.
Entro no aplicativo de mensagens, que se tornou meu único meio de contato com os amigos da minha antiga cidade. É estranho, porque, por mais que eu quisesse, não consegui manter contato com todos. No entanto, com minhas melhores amigas, a história foi diferente. Felizmente, não nos afastamos. Fizemos uma promessa, Lia, Cecilie e eu. Não importaria a distância ou o tamanho dos problemas, prometemos nunca nos afastar. Fizemos esse juramento com os mindinhos no final do nono ano, quando Lia conseguiu uma vaga em uma escola melhor que a nossa.
No primeiro ano do ensino médio, nos encontramos separadas, com eu e Ceci em salas diferentes, e Lia em outra escola. Mesmo assim, ainda conseguíamos nos ver durante os feriados e mantínhamos contato diário por mensagens. Até que minha mãe veio com uma ideia maluca de nos mudarmos para este "fim de mundo". Sério, ao lado da nossa casa, mora um cavalo que vive dando coices em uma penca de moradores. É assustador o quanto aquele bicho odeia seres humanos. Minha mãe me deu essa notícia no final do ano passado, e eu avisei as meninas.
Nós tentamos aproveitar ao máximo o pouco tempo que tínhamos antes de eu partir, cientes de que a distância e a mudança seriam um desafio. Mesmo assim, nossa amizade permanecia forte, alimentada pela promessa que fizemos no nono ano e pela determinação de não deixar nada nos separar.

                   [          Hoje          ]

Li: Bom dia gente!

Eu: Bom dia Li!

Ceci: Bom dia gente!

Li: Aqui está um saco, não vejo a hora de chegar em casa e deitar na minha cama. Essa escola está me matando aos poucos!

Por ligações Onde histórias criam vida. Descubra agora