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A luz suave da manhã invade meu quarto, trazendo um frescor que contrasta com os dias sufocantes que vivenciei quando estudava à tarde. É incrível como acordar com o sol ainda despertando o mundo lá fora faz toda a diferença. A tranquilidade matinal é como uma yoga para mim,(nunca pratiquei yoga), eu prefiro mil vezes esse despertar ao calor agoniante das tardes ensolaradas como os de quando estudava. Levanto-me da cama, determinada a enfrentar o dia que se desenha diante de mim. A primeira parada é a cozinha, onde o cheiro acolhedor do café recém-preparado se espalha pelo ar. Enquanto aguardo a cafeteira terminar seu trabalho, aproveito para adiantar algumas tarefas. O almoço já está na panela, um gesto automático que se tornou parte da minha rotina, especialmente agora que meu pai enfrenta dores constantes na perna. A condição de saúde dele tem se deteriorado, e as visitas frequentes ao médico não trazem boas notícias. O cansaço parece ser o principal vilão, roubando-lhe a energia e o ânimo. Às vezes, é difícil vê-lo lutar para se levantar da cama, mas mantenho a esperança de que dias melhores virão. A casa, que um dia foi repleta de vozes e risos familiares, tornou-se um lugar silencioso. Minha irmã mais velha partiu, seguida pela minha mãe, que, apesar de separada do meu pai, decidiu permanecer até minha irmã mais nova atingir a maioridade. No entanto, essa promessa de cuidado não resistiu ao tempo, e ambas seguiram seus caminhos, deixando-nos para trás. A sensação de abandono é uma sombra constante que paira sobre nós, alimentada pelas percepções distorcidas de quem culpar pela separação da família. Minha mãe e minha irmã mais nova responsabilizam meu pai, sem considerar os desafios que ele enfrenta diariamente. A dor física que o consome parece ser apenas o reflexo visível de um conjunto de desgraças que desmoronaram sobre nossa vida familiar. Cada manhã que começo na cozinha, preparando o café e cuidando dos detalhes diários, é uma demonstração silenciosa de afeto. Enfrentar a solidão e a carga emocional que esse lar carrega tornou-se parte de minha rotina. Mesmo quando as vozes que ecoavam pelos corredores se calaram, eu permaneço aqui, firme na decisão de cuidar de meu pai e de mim mesma.
A ausência de Lia e Iris desencadeou uma sequência de eventos que transformaram minha vida de maneiras imprevisíveis. Lidar com a partida delas não foi apenas desafiador emocionalmente, mas também provocou uma mistura de sentimentos, incluindo tristeza e uma raiva que eu não conseguia ignorar. A sensação de perder o controle sobre as circunstâncias, de ver os pilares da amizade desmoronarem sem minha capacidade de impedir, gerou uma frustração profunda. O vazio que sua partida deixou tornou-se um constante lembrete da falta de previsibilidade na vida e da incapacidade de manter as coisas como antes. O sentimento de raiva, embora difícil de admitir, tornou-se uma parte inegável do meu processo de "superação". Odiar não ter o controle sobre o que aconteceu, odiar a sensação de impotência diante da mudança, odiar a ideia de que não pude segurá-las ao meu lado. Essa raiva, entrelaçada com a tristeza, transformou-se em um combustível para buscar respostas. Perguntei-me repetidamente o que poderia ter feito de diferente, como poderia ter mantido a amizade intacta, mas as respostas permaneciam invisíveis. À medida que o tempo passava, a raiva começou a ceder espaço para a aceitação, mas a dor da perda ainda persistia. No silêncio das noites, quando as memórias das risadas e confidências compartilhadas em ligações ainda ecoavam em minha mente, era difícil não nutrir ressentimento. O desafio agora é encontrar maneiras de seguir em frente, reconstruindo não apenas as conexões perdidas, mas também uma nova perspectiva sobre a amizade e a aceitação do incontrolável. A jornada é dolorosa, mas espero que com o tempo a raiva se transforme em compreensão e que o caminho à frente reserve novas oportunidades para construir laços significativos.
