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13/02/2020

______Lia______

Ao abrir os olhos, sinto o peso dos meus próprios ombros

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Ao abrir os olhos, sinto o peso dos meus próprios ombros. Cada manhã é uma batalha, e o café da manhã é regado não apenas pelo aroma do café, mas também pelos olhares cautelosos dos meus pais.
Enquanto saboreio cada gole do café, a necessidade de independência grita dentro de mim, mas as amarras que me mantêm próxima de casa são fortes.
O trabalho temporário na biblioteca do senhor Beto, um morador do mesmo bairro, é meu refúgio. Entre as estantes de livros, mergulho em narrativas que transcendem as fronteiras da minha vida cotidiana.
A faculdade de Relações Internacionais é meu farol, uma luz que me guia através das incertezas. Cada dia, ao seguir para a biblioteca, percebo a dualidade: o anseio por liberdade e o receio de desapontar aqueles que tanto temem pela minha partida. Minha jornada está apenas começando, e cada passo é um ato de resistência contra as correntes que me prendem, enquanto busco definir meu próprio destino.
Com a bolsa tiracolo e o casaco lilás contrastando com a camiseta branca, saio de casa após destrancar a porta. Max, com seus olhos expressivos, parece ansiar por uma saída. Às vezes, tento levá-lo para passear, mesmo quando o cansaço da faculdade me atinge.
A rotina se desenha com o trabalho pela manhã, onde encontro conforto entre estantes de livros e o apoio de Beto, o senhorzinho de idade que não tinha mais tal disponibilidade com o trabalho braçal da pequena livraria do bairro, então por sorte me encontrou. A faculdade preenche minhas tardes, e essa dualidade entre trabalho e estudo se tornou uma fonte de satisfação. Cada passo, cada compromisso, são pequenas vitórias na jornada em busca da independência tão desejada.
Ao chegar à livraria e notar que ainda está fechada, percebo que o senhor Beto se atrasou. Sem hesitar, tomo a iniciativa de abrir a loja. Organizo o caixa, passo o pano em algumas estantes e reposiciono livros que se deslocaram no último dia de venda. Assumo as responsabilidades da manhã, tornando a livraria um espaço acolhedor antes da chegada dos primeiros clientes.
Desde que cheguei, uma garotinha de marias chiquinhas, acompanhada por sua mãe, escolheu um livro de colorir. Dois garotos do ensino médio exploraram os mangás e HQs com entusiasmo. Uma estudante me abordou, buscando informações sobre o livro indicado por seu professor de literatura. A livraria se enche de histórias e descobertas, criando um ambiente onde as palavras ganham vida.
Ao se aproximar do horário de almoço, percebo que o senhor Beto ainda não chegou desde a manhã, causando preocupação. Quando estou prestes a sair e fechar a loja, o antigo telefone de fio do estabelecimento toca, interrompendo o silêncio e deixando um ar de mistério no ar.
Ao atender o telefone, escuto uma voz desconhecida perguntando por Lia. Ao confirmar minha identidade, a voz revela ser a filha do senhor Beto, trazendo notícias alarmantes.
"Ah, querida, sou eu. Infelizmente, meu pai não pôde ir à loja hoje devido a complicações decorrentes de seu AVC", diz ela.
Surpresa e preocupada, questiono: "Não fazia ideia disso. A situação é grave?"
"Por enquanto, ele não responde. Está inconsciente, querida", responde ela, deixando-me atônita com a notícia sobre a saúde do senhor Beto, que sempre enfrentou caixas de livros sem nunca reclamar.
"Bom, Lia, se não for pedir muito, poderia fechar a loja por hoje?"
"Mas é claro. Desejo melhoras ao senhor Beto e espero vê-lo novamente rapidamente."
"Eu também, querida. Obrigada mesmo por compreender."
"Imagine, forças a todos da família!" Desejo antes de desligar o telefone, deixando um sentimento de solidariedade e preocupação no ar.
Enquanto fecho a loja, a preocupação com o senhor Beto paira sobre mim, tornando o retorno para casa silencioso e reflexivo. Ao chegar em casa, na cozinha, preparo o almoço deixando a mesma com aroma do macarrão com almôndegas, trazendo consigo lembranças das refeições compartilhadas com a família.

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