Lia

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09/05/2018


Minha manhã começou como de costume, com o cheiro gostoso do café fresco na cozinha. Minha mãe sempre fazia questão de preparar um café da manhã delicioso para mim. Sentada à mesa de madeira, eu observava as primeiras luzes da manhã invadirem a janela. Era o meu momento tranquilo antes do turbilhão do dia...
   "- Tudo está bem na escola Lia? E suas notas?"
Minha mãe também se preocupa muito com todo o meu histórico acadêmico, ela diz ter muito orgulho de quem me tornei, não teria coragem de decepciona-lá.
   "- Espero que tudo esteja bem Mãe, porque ultimamente estou perdendo a cabeça com a escola, até comentei com Ceci e Iris ontem sobre, elas disseram que eu precisava de um descanso."
   "- Ultimamente acho que todos nós precisamos minha filha..."
Ela disse com uma voz cansada fazendo mais uma torrada com manteiga na frigideira.
   "- Mas e então, como as meninas estão? Elas estão bem? Iris já se acostumou com a nova escola?"
   "- Ontem convidaram ela para o trabalho em grupo, acho que isso já é um início não? E Ceci, bom... Acho que nada de novo, está fazendo seu curso de inglês aos sábados, ficando o dia inteirinho na escola, e dormindo... Acho que por isso não escutamos nenhuma de suas histórias faz tempo."
   "- Ah isso é ótimo!"
Enquanto saboreava o café, meu irmão mais velho, Lucas, adentrou a cozinha. Ele tinha aquele jeito irritante de provocar.
"-Lia, você parece um zumbi de manhã. Vai se atrasar para a escola de novo?" Sua risada ecoou, me provocando.
Rolei os olhos, escolhendo não alimentar suas brincadeiras naquela manhã. Peguei uma fatia de torrada e a ofereci ao nosso fiel companheiro de quatro patas, Max, o golden retriever bagunceiro que sempre estava pronto para receber um carinho.
Após o café, me despedi de minha mãe e de Max e parti para a escola, saindo da minha casa de um andar só com minha mochila cheia de livros e cadernos pesando em meus ombros. Andava a passos rápidos pelas ruas da cidade, com a mochila sobrecarregada. Minha rotina era uma série de aulas, reuniões, atividades do grêmio estudantil e prazos. O estresse era meu companheiro constante no dia de hoje.
Ao chegar na escola já vou direto a sala de aula, preparando os comunicados para quando meus colegas de sala entrarem.
Começo pelos folhetos que a diretoria me entregou no dia anterior, para alertar os alunos sobre o acampamento de verão. O acampamento de verão da escola era um evento anual esperado por todos. Era uma tradição de muitos anos que reunia estudantes de diferentes séries para uma experiência única de aprendizado e diversão no meio da natureza. Os alunos ansiavam por esse período, uma pausa das aulas e uma oportunidade de se conectar com a natureza e seus colegas.
O acampamento era realizado em um local distante, um acampamento nas montanhas conhecido como "Acampamento da Harmonia". Lá, os alunos tinham a oportunidade de participar de atividades ao ar livre, como trilhas, esportes, escaladas e piqueniques. Também havia oficinas educacionais e atividades que promoviam a disputa do grupo, como competições amigáveis e fogueiras à noite.
A cada ano, o acampamento tinha um tema diferente, desde "Explorando a Natureza" até "Aventura e Desafios". Os alunos se envolviam em tarefas de preservação ambiental, aprendiam a trabalhar em equipe e criavam memórias que durariam a vida toda. Era um momento de união, crescimento e diversão para todos, um evento que eu esperava ansiosamente. A primeira vez que tive a oportunidade de ir foi ano passado, mas acabei rejeitando tal passeio pois não conhecia ninguém, mas esse ano é diferente, prometi a mim mesma e a Ceci que iria, para alimentar qualquer tipo de espírito estado-unidense capitalista que vemos em filmes americanos.
Ao chegar  a primeira colega de sala, a agitação do dia começou imediatamente. Na primeira aula anunciaria sobre o acampamento, esperei que todos se sentassem e terminassem de se cumprimentar...
   "-Oi Lia!"
Meu melhor amigo Tyler me cumprimentou com um sorriso radiante, amava aquele sorriso, ele tinha cabelos castanhos e olhos azuis, era alto e participava do time de vôlei da escola. Ele era um dos únicos que me ajudava a domar todos aqueles selvagens em sala de aula, normalmente ele quem chamava a atenção de todos para eu conseguir dar os avisos, então dessa vez não foi diferente.
   "- Oi!"
Eu acenei com um sorriso fechado, e logo depois direcionei meus olhos e meu dedo indicador ao resto da sala, mostrando que era hora de colocar seu cargo em ação.
Na hora o garoto usou as duas mãos e dois dedos para assobiar de um jeito ensurdecedor, na qual era impossível não prestarem atenção. Dito e feito. Em um piscar de olhos, tínhamos a atenção para nós dois.
Em pé diante de todos os alunos na sala de aula, segurando o mini microfone, começo a  falar com um sorriso animado:
   "-Olá a todos! Tenho uma notícia emocionante para compartilhar hoje. Como vocês sabem, nosso tão esperado acampamento de verão está chegando. Este evento é uma tradição querida de nossa escola e um dos destaques do ano letivo. E tenho o prazer de anunciar que o tema deste ano será... 'Descobrindo o Tesouro da Natureza'!"
Um murmúrio de empolgação se espalhou pela sala, enquanto os alunos começavam a cochichar e sussurrar entre si.
Continuei tentando manter a voz cheia de entusiasmo.
   "-Será uma aventura incrível, onde exploraremos as maravilhas da natureza, desde trilhas emocionantes até a observação de estrelas à noite. Teremos atividades educacionais, esportes ao ar livre e, claro, a sempre esperada fogueira noturna com histórias e canções. Este é o momento perfeito para se reconectar com seus amigos e criar memórias que durarão para sempre."
Eu olhei ao redor da sala, vendo os rostos animados e os olhos brilhando de expectativa.
"-Quero que todos vocês se juntem a nós nesta jornada inesquecível. Abrace a oportunidade de explorar a natureza, fazer novos amigos e desfrutar de um tempo longe da sala de aula. O acampamento de verão é uma chance de recarregar as energias, aprender e crescer, e, o mais importante, se divertir. Então, façam suas malas e se preparem para 'Descobrir o Tesouro da Natureza' conosco. Mal posso esperar para compartilhar essa experiência incrível com todos vocês!"
A sala se fez em aplausos e animação, com os estudantes entusiasmados com a próxima aventura de verão.
A primeira tarefa já foi comprida, foi tão rápido, acho que exagerei quando fiquei a madrugada toda treinando, bom agora só faltava o resto do dia. Tenho pensamentos positivos sobre hoje.










QUE DIA HORRÍVEL EU NÃO AGUENTO MAIS!reuniões com professores, discussões intermináveis sobre projetos do grêmio estudantil

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QUE DIA HORRÍVEL EU NÃO AGUENTO MAIS!
reuniões com professores, discussões intermináveis sobre projetos do grêmio estudantil. O dia seguia, e minha lista de tarefas só aumentava. A tarde chegou e eu estava exausta, mas ainda havia mais uma reunião do grêmio estudantil para cumprir.
Sem vontade alguma me direcionei até a sala da segunda reunião do dia. Chegando em frente à porta já aberta, adentro a sala que se encontravam professores e representantes de sala sentados em carteiras organizadas em círculos. Sento-me em um lugar vago entre um professor de artes que até então nunca deu aula para a minha sala, ele tinha os cabelos cumpridos, era alto e tinha uma cara de esnobe, e a minha esquerda havia uma aluna do primeiro ano do ensino médio, com lacinhos na cabeça e um moletom cor de rosa. O começo da reunião tinha o intuito de prepararmos atividades extras e competições na qual a escola oferecia aos alunos. A reunião se estendia além do horário previsto, debatendo eventos futuros e projetos da escola. A pressão estava se acumulando, e a sensação de que precisava fazer tudo perfeitamente estava pesando sobre meus ombros. Olhava para o relógio de cinco em cinco segundos, minha respiração acelerada, minhas pernas em um ritmo constante de sobe e desce, e meu coração a mil, eu mal conseguia respirar. minha  mente estava a milhares de quilômetros de distância. Os gráficos e apresentações em PowerPoint pareciam desfocados, como se estivessem envoltos em uma névoa. A noite anterior havia sido curta e agitada, e a falta de sono a deixava zonza e exausta.
Corri pelos corredores em busca de um lugar para me recompor.
Ela lutava para manter os olhos abertos, mas a pressão na minha cabeça aumentava a cada segundo que passava. meu coração parecia bater descompassado, e a sensação de asfixia se intensificava. Cada palavra que diziam parecia um montão de baboseiras distante e sem sentido.
Finalmente, a pressão se tornou insuportável. levantei-me abruptamente da cadeira, ignorando os olhares confusos e surpresos dos professores e colegas. Meu corpo parecia pesar toneladas, mas a necessidade de escapar daquele ambiente sufocante me impulsionou.
Eu sai correndo da sala de reuniões, as pernas tremendo, e mal conseguiu segurar as lágrimas que ameaçavam escapar. Cada passo era um esforço sobre-humano, mas não podia mais suportar. Eu precisava de ar fresco, espaço e silêncio. A reunião continuou sem mim, enquanto eu, com lágrimas nos olhos e o coração batendo descontroladamente, procurava desesperadamente um refúgio para me recuperar da crise de cansaço avassaladora. Encontrei uma sala vazia e entrei, sem perceber que era a sala de música. Estava tão eufórica que só prestei atenção em uma das carteiras, fui em direção da mesma e sentei na cadeira, deitei minha cabeça na carteira tentando me acalmar, sem me importar em conferir o resto da sala.
Foi quando uma única nota grave e dramática ecoou pela sala, fazendo meu coração pular. Virei-me rapidamente, e ali, diante do piano, estava um garoto magro com cabelos loiros, óculos e olhos castanhos claros.

Ao abrir os olhos, meu foco se direcionou para o garoto logo após a súbita interrupção do piano que ele estava tocando. Ele mantinha uma postura relaxada diante do instrumento, exibindo uma expressão de tédio evidente, e seus olhos estavam fixos em mim, insinuando que a nota grave que ele havia tocado era um chamado direto à minha atenção. Por um breve momento, permaneci perplexa, sem entender completamente o que estava acontecendo, e encarei o garoto.

"- Por que você está chorando?"perguntou ele com indiferença.
"- Não é nada de mais, eu só..."tentei explicar, mas fui bruscamente interrompida.
"- Ah, deixa pra lá, não me interessa."
Como ele ousa? Que falta de educação!
"- Bem, se não te interessa, por que perguntou, afinal?"retruquei, minha voz carregada de rispidez.
"- Você estava me atrapalhando. Este é um lugar dedicado à música. Se quiser chorar, definitivamente não é o melhor lugar para isso" ele disse, já voltando sua atenção para o instrumento.
"- Idiota, se minha presença te atrapalha tanto, por que você não sai daqui? Estou cansada demais para satisfazer seus caprichos tolos!"Afirmei com firmeza, mantendo minha posição.
Dito isso, ouvi apenas o som da porta da sala de música se fechando, indicando que agora estava novamente sozinha.

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