0.1

8 0 0
                                    

Noite
09/05/2018


"Aí, BIIIIIIIIIIII!!! Só ouvi o som da buzina; pensei que fosse uma harpa desafinada de algum anjo iniciante. Jurava que já estava no paraíso. Mas, quando olhei para cima, só vi um cara me encarando com uma expressão carrancuda. Pode acreditar?

Ceci contava indignada sobre o incidente ocorrido minutos antes, ligou para mim e Lia imediatamente ao chegar em casa, seu cabelo ainda respingava devido à chuva.

"Harpa? Anjo? O que te fez pensar que você iria para o paraíso, querida?" Perguntei, provocando-a.

"Aí vai começar..." Lia sussurrou, com a mão na testa e uma expressão frustrada enquanto fazia anotações da lição de casa.

"Fofolete, olha aqui! Se não estivéssemos em ligação e sim cara a cara, o soco iria acertar em cheio na sua FUÇA, entendeu?"

Comecei a rir, e Lia também. As ligações noturnas após um dia cheio na escola eram uma tradição diária. Amávamos desabafar e compartilhar detalhes sobre nossos dias, incluindo dificuldades, momentos felizes e tristes.

"Como está indo o trabalho, Íris? Eles são legais?" Lia perguntou, interessada em conhecer meus novos colegas.

"É, como tá indo?" Ceci se juntou à pergunta.

"Bem, ainda não conversei muito com eles. Acho que vou esperar até que precisem de algo, aí eles me chamam..."

"Tenta conversar com algum deles. Amanhã pede o número e cria um grupo", sugeriu Ceci.

"Já tenho o número de um deles, mas... Sei lá, acho melhor esperar."

"Se você se sentir mais confortável assim, faça o que achar melhor." Lia.

"É verdade..."

"Bom, vou esperar... E você, Lia? Como foi seu dia?"

"Ah, normal..."

"Hmmm, tá..." Ceci olhou para a tela e depois para a TV, convencendo-se, enquanto eu apenas concordava com a cabeça e mordia os lábios. Mas Lia... ela...

"EU MENTI, MEU DIA FOI PÉSSIMO!" Lia gritou, pegando o celular com desespero. "Eu chorei."

"Calma, chorar faz bem. Pelo menos você teve um momento só seu, e não com várias pessoas ao seu redor", tentei acalmá-la. No entanto, ao ver sua expressão mudar, percebi a tristeza evidente.

"EU CHOREI NA ESCOLA", disse Lia.

"Vixi", Ceci não estava ajudando.

"Olha, acontece, Lia, principalmente quando você carrega o peso de tantas coisas e guarda tantos sentimentos. É por isso que sempre falamos para você desacelerar um pouco, ou dar uma pausa."

"É verdade, Li, você tem que relaxar."

"É impossível. Eu tenho tanta coisa para fazer, para tomar conta, administrar, sabe? Antes eu amava tudo isso, mas agora parece demais."

"Algo mais aconteceu?" Ceci perguntou.

"Sim, conheci um garoto muito mala. Ele não tinha um pingo de vergonha na cara."

"E qual homem não é mala hoje em dia, flor?" Ceci opinou.

"Concordo."

"Realmente, mas esse era o babaca master." Lia completou, "Sem um pingo de educação ou sentimentos. Me viu chorando e pediu para eu me retirar da sala, porque não era um 'lugar adequado' para essa ação. Poxa, eu estava chorando, tem lugar adequado para isso?" Ela ficou quieta por um tempo e completou, "Na verdade, tem sim, a minha cama. Mas fazer o quê? Acontece. Se eu visse alguém chorar, nunca que eu pediria para ela se retirar do lugar."

Por ligações Onde histórias criam vida. Descubra agora