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15 de outubro de 1990.
Berlim-Alemanha; 8:00 am.

Já se passaram cinco dias desde de que Seo Changbin havia sido enviado para sua missão em Berlim,na Alemanha.
O moreno não descansou um minuto sequer: passava noites em claro,pelas ruas; analisando o comportamento das pessoas e arquitetando planos para completar sua missão.
Após três dias na cidade,ele já conhecia cada lugar,e já até sabia o padrão comportamental de algumas pessoas,com isso,foi possível arquitetar o seu plano.
Ele decidiu começar com a parte mais fácil: implantar provas no banco de dados alemão para incriminar a CIA dos delitos que ele vai cometer posteriormente. Mais fácil, não porque é algo simples,mas sim porque Sabotar um projeto científico na sede de pesquisas da Alemanha é muito mais chato e complexo que isso.
O museu nacional alemão (que faz parte do acervo do banco de dados) realizará um evento beneficente,e o plano de Seo é se infiltrar e sem ser percebido,implantar evidências falsas.
Como tudo está planejado e pronto,só resta a Changbin esperar a hora de agir.
Voltando ao presente,o moreno se encontra sentado na mesa do lado esquerdo da cafeteria,tomando seu macchiato sagrado de cada dia, observando o lugar ao seu redor.
Havia se tornado um hábito de seo,ir todos os dias no mesmo horário até essa cafeteria/livraria. Não só dele,na realidade. Seo tinha reparado que o menino loiro que chamou sua atenção naquele dia,também tinha ido todos os dias da semana,exceto esse. Enquanto terminava seu café,Changbin pensava no motivo do menino não ter aparecido. Talvez ele fosse mesmo um turista como ele havia pensado anteriormente,nunca se sabe.
O moreno se levanta,se encaminhando até o caixa.
-Com licença Ju,eu vim pagar -O moreno faz menção de abrir a carteira.
-Ah sim,mas receio que não seja preciso! O senhor veio aqui a semana toda! Posso deixar esse na faixa! -Ju, a simpática balconista responde, enquanto limpa a superfície do seu local de trabalho.
-Tem certeza? -pergunta um receoso Changbin.
-É claro! Tenha um bom dia! -A menina se vira,e vai atender um cliente que havia chegado há pouco.
Seo então,passa na mesa para recolher suas coisas,e se encaminha para a porta de saída,tentando colocar um amontoado de papéis na capa do notebook.
“Cara,eu realmente acho que aquela atendente está dando em cima de mim,não é a primeira vez que isso acontece…”
Ele estende uma das mãos até a maçaneta e a empurra,mas aparentemente a porta está emperrada.
“Regula a força Changbin,regula a força.”
Ele dá um passo para trás e a empurra novamente.
-AH! - grita uma figura,caindo a sua frente.
-AI!  -Seo reclama,devido ao choque do impacto.
Agora todos os seus pertences se encontravam espalhados pelo chão. Por deus,se ele perder algum papel importante seo vai cometer seppuku¹.
-Oh Deus,me perdoe. Você está bem?-diz Changbin, claramente preocupado por ter machucado alguém,agora, estendendo seu braço para ajudar a pessoa que derrubou a levantar.
-Ah sim,estou bem! -diz a figura,massageando suavemente o lado da cabeça. Provavelmente ele bateu ali.- eu também deveria ter prestado atenção! Você está bem?
-Claro,estou sim. -Seo confirma,se abaixado para juntar suas coisas. O menino faz o mesmo.
Enquanto junta os papéis,ele repara na pessoa que havia derrubado. Era o menino que sempre se senta do lado oposto ao seu na cafeteria. De perto,ele não conseguiu deixar de reparar em quando suas sardas eram lindas. Elas formavam uma espécie de constelação.
Changbin termina de recolher seus materiais.
-Essa caneta é sua? Não acho que seja minha -O menino balança no ar uma caneta da hello Kitty,
-Ah, é minha sim -Seo afirma,pegando a caneta. Ele repara nas unhas pintadas do menino a sua frente,que se levanta instantaneamente depois disso.
O moreno faz menção de sair,se encaminhando até a porta,agora aberta,mas antes que o faça,sente um toque leve nos seus ombros.
-Ei,eu reparei que você vem aqui todo dia,né? -pergunta o loiro.
Changbin não sabe o que sentir sobre isso,mas responde:
-Ah sim,esse lugar é ótimo e silencioso.. você também vem aqui todo dia né?
-Venho,venho sim! Eu só me atrasei um pouco hoje.. Sou Felix a propósito,Lee felix.
-Eu sou Seo Changbin, é um prazer! -O moreno sorri, retirando-se do local e finalmente começando a caminhar na rua.


15 de outubro de 1990.
Berlim-Alemanha; 7:50 am.

Lee felix não dormiu essa noite. Na realidade,ele não dormiu a semana inteira. Sentado num banco dentro da estação de trem,o menino repassa o plano que criou na sua cabeça.
Seus cinco dias de estadia em Berlim foram mais do que agitados,eles foram caóticos.
O plano de Lee consiste em se infiltrar num evento beneficente que será promovido pelo museu nacional alemão e instaurar um pandemônio lá,assim podendo pegar alguns itens e implantar as evidências de roubo e fraude que lhe foram passadas. Ele teve muita sorte em descobrir isso assim que chegou,pois conseguiu pensar muito bem no que fazer.
O espião loiro já passou todas as informações e coisas necessárias para a ação para Han Jisung,um hacker profissional da CIA,que preparou tudo e vai o auxiliar na hora dia da missão.
Agora só resta a Lee esperar,e isso não é nada agradável,ficar sozinho com seus pensamentos não é legal.
Lee se enrolou com a recepcionista do hotel de manhã (ela não conseguia compreender seu sotaque australiano) e acabou perdendo o primeiro trem do dia.
Ele havia desenvolvido o hábito de ir todas as manhãs em um café específico,para comer e ler livros,fingindo ter uma vida normal. Ele acabou reparando que um homem em específico sempre estava lá no mesmo horário que ele, provavelmente procurando uma fuga da rotina agitada.
“Imagino se ele está lá agora…”
Sentado,seus pensamentos vagam. Vão até suas irmãs e voltam ao dia que chegou nos Estados Unidos. Ele pensa no Chan,pensa no seu último namorado,pensa em como seria bom não precisar fazer tudo isso.
O trem chega.
Felix respira fundo e entra,surfando por entre um mar de gente. Ele odeia do fundo do coração pegar o trem cheio. São tantas conversas,tantas pessoas,tantas emoções.. ele não consegue processar tudo ao mesmo tempo,isso o irrita.
Lee morde o interior da bochecha,na esperança de desviar a sua atenção.
Ele não consegue.
Ele escuta com atenção as pessoas conversando em alemão,ele não entende quase nada. Há crianças chorando. Há vendedores no trem.
Isso o faz querer chorar. Mas antes que ele possa,Felix se vê respirando aliviado,caminhando por uma rua deserta em direção ao café,que sempre foi seu destino.
“Ainda bem,mais um segundo naquele trem e bye bye Felix.”
O loiro finalmente chega até a porta da cafeteria e a puxa para abrir.
A porta está emperrada.
Ele faz menção de puxar novamente,mas antes que isso aconteça,a porta se abre violentamente,o fazendo cair no chão e derrubar sua maleta.
-AH! - Felix exclama,assustado com o impacto repentino
-AI! - Uma figura a sua frente reclama da dor.
Sabe-se lá como, Felix bateu sua cabeça na porta,e está latejando de dor.
-Oh Deus,me perdoe. Você está bem?-diz a figura que a sua frente,com uma expressão preocupada.
-Ah sim,estou bem! -Felix murmura,massageando suavemente o lado da cabeça que bateu.- eu também deveria ter prestado atenção! Você está bem? -Felix fala enquanto sente algo o puxando para cima.
-Claro,estou sim. -O homem confirma,se abaixado para juntar suas coisas. Lee inconscientemente o acompanha.
Em meio a papéis e material de escritório,Felix repara na pessoa ao seu lado. É aquele homem,que sempre se senta do lado oposto a ele na cafeteria.
Ele tem músculos impressionantes,na opinião de Lee. Devem ter dado muito trabalho para serem construídos,mas caem bem nele.
-Essa caneta é sua? Não acho que seja minha -Pergunta Felix,enquanto balança no ar uma caneta da hello Kitty,
-Ah, é minha sim -Ele afirma,pegando a caneta.
Felix repara nas suas mãos. Uau.
O moreno faz menção de sair,se encaminhando até a porta,agora aberta,mas antes que o faça,Lee em um impulso,toca seu ombro.
-Ei,eu reparei que você vem aqui todo dia,né? -pergunta, então.
“Eu fui muito direto pra uma conversa casual? Não sei interagir com as pessoas.”
-Ah sim,esse lugar é ótimo e silencioso.. você também vem aqui todo dia né?-Replica o moreno,com um sorriso gentil.
-Venho,venho sim! Eu só me atrasei um pouco hoje.. Sou Felix a propósito,Lee felix.
-Eu sou Seo Changbin, é um prazer! -O moreno sorri, fechando a porta cuidadosamente enquanto sai.
Felix então,se encaminha para sua mesa habitual,esperando ser servido, enquanto lê um trecho de um volume de Nicolau Maquiavel.
“Todos veem o que você parece ser, mas poucos sabem o que você realmente é.

Nota de rodapé:
¹Seppuku era uma forma de suicídio tradicional do Japão feudal e, ao longo da história, foi utilizado pela classe guerreira japonesa (samurai) como uma forma de morrer de maneira honrosa e servindo ao seu mestre.



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