0.5 (2

4 1 4
                                    

“O amor é uma força, uma energia, que se manifesta
Na alma como um sentimento de lembrança de algo
Que a alma já teve, mas perdeu.” -Platão.

16 de outubro de 1990.
Berlim-Alemanha; 7:30am.

Felix para ofegante,na frente da cafeteria de sempre, após uma corrida bem longa. Ele fez o caminho que normalmente faz de trem a pé,partindo do pressuposto de que isso aliviaria sua ansiedade,e de que seria até melhor,por não precisar pegar o trem junto de pessoas desconhecidas.
O menino tira o casaco,pois agora,mesmo no frio,seu corpo inteiro está quente.
O sino toca quando ele passa pela porta e seu humor instantaneamente melhora ao adentrar o lugar vazio que cheira a livros e biscoitos.
Ele gostava daquele lugar, era tranquilo e aconchegante, e ele podia se perder na leitura sem ser incomodado.
Lee se dirige à mesa do canto,colocando seus pertences numa das cadeiras e se sentando em outra. Ele tira um exemplar de “Crime e castigo” de Dostoiévski da sua maleta.
“Nossa, faz tanto tempo que quero terminar esse livro. Eu parei no capítulo seis…”
Ele comia o mesmo brownie de sempre,dessa vez,acompanhado de um expresso,que ele achava que combinava bem com o clima sombrio e intenso do livro.
Lee se esqueceu de como se identificava com o personagem principal em uma quantidade preocupante.
Ele se perguntava se ele seria capaz de fazer o mesmo, se ele teria a coragem e a audácia de desafiar as leis da sociedade dessa forma.
Felix vira a página e lê um trecho que o fez arrepiar:
“Não há crime, e os seres humanos não são culpados de nada. É assim que deve ser, pois tudo é uma questão de quem é mais forte. É assim que deve ser, e não de outro modo!.. Eu queria me convencer disso e não consegui!.. E como é difícil, como é difícil se convencer disso!.. E como é fácil matar alguém, na prática!.. Como é fácil, como é fácil!..”
Lee sentiu um calafrio na espinha, como se ele tivesse acabado de cometer o crime junto com Raskólnikov.
Ele se perguntou se seria capaz de viver com a culpa, se ele conseguiria escapar da justiça, se ele encontraria algum sentido na vida depois de tirar a de outra pessoa.
Como? Como esse livro consegue ser tão absurdo e tão identificável?
O menino estava tão absorto no livro que não percebeu que alguém se aproximava da sua mesa.
-Ah com licença… eu estou atrapalhando?
O loiro levanta os olhos do livro,reparando no homem parado em sua frente. É ele,Seo Changbin,o homem que normalmente se senta do lado oposto da cafeteria e que acabou trombando com ele no dia anterior. Ele veste uma camiseta social e calças pretas,com um sobretudo cinza por cima. A única coisa colorida em sua aparência é o copo de café que segura.
-Ah não,de jeito nenhum! Precisa de algo? -Replica Lee, levantando uma sobrancelha, curioso.
-Na realidade eu só queria saber se posso sentar com você hoje! É um pouco repentino,mas reparei que você lê o mesmo tipo de livros que eu e.. não sei. -O moreno diz, bebericando um gole de café.
-Ah sério? -Um sorriso ilumina o rosto de lee no mesmo instante. -É claro! Eu nunca tive ninguém disposto a falar dessas coisas comigo…
Seo dá um pequeno sorriso enquanto coloca a bolsa em uma cadeira vazia,se sentando ao lado do loiro.
-Crime e castigo, não é? -Pergunta Changbin,esticando o pescoço para olhar a capa do livro. -É sua primeira vez lendo?
-Ah,sim! Eu comecei a ler faz muito tempo, mas nunca terminei.
-E o que está achando? -Pergunta Changbin,se ajeitando na cadeira.
-Ele é muito interessante! E eu me identifico muito com o protagonista,haha!Eu estou muito curioso pra saber o que vai acontecer com ele,tipo,ele acabou de confessar um crime! No geral eu estou gostando bastante de como o autor explora todos esses temas.-O menino para para respirar -Ai,falei de mais?
-Não! De jeito nenhum. -Seo balança a cabeça - Já que está gostando tanto,vou te acompanhar na leitura -De dentro da sua bolsa,o moreno tira um exemplar de um livro de fantasia: “Percy Jackson e o ladrão de raios”. - Não é muito culto,eu sei! E se encontrar algo interessante aí,me fale!
Felix balança a cabeça em afirmação.
-Ah e antes de voltarmos a ler,eu precisava te perguntar uma coisa -Felix morde um pedaço de brownie. -Eu sei que é meio repentino então..
-Sim? -Seo assente.
-Você aceitaria sair comigo,tipo,hoje?-Questiona Lee,falando muito rápido.
-Hoje a noite? -Confirma seo.
“cara isso não foi uma boa ideia…eu sempre sou muito direto”
-É. Eu sei,foi do nada,mas você parece ser tão legal e não sei.. queria me distrair um pouco,sabe?
-Na realidade seria ótimo!
-Sério? -Lee reafirma, surpreso
-Sim! Me passa seu número e a gente combina direitinho o que vamos fazer!
“ainda bem,não ia saber onde me enfiar…”
Felix puxa o celular de dentro do bolso e eles trocam números.
Voltando à leitura,ele inicia o capítulo sete do livro. Não que ele vá conseguir efetivamente ler,já que vai ficar devaneando com o que pode acontecer mais tarde.

1990Onde histórias criam vida. Descubra agora