Capítulo 11

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Kally Fonseca

Quando o elevador abriu na cobertura três pares de olhos nos encaravam de forma muito curiosa, eu já havia visto o rosto deles nas fotos, sabia bem quem eram, mas isso não deixava menos intimidador. Clara, Gabriel e dona Hosana me olhavam ignorando totalmente Rachel ao meu lado, eu imagino que eles haviam sentido saudades dela, mas no momento ela era segundo plano, toda a atenção deles eram voltadas somente para mim, como se eu tivesse sozinha naquele elevador, sendo a presa e eles os caçadores.

Eu não sei se apertava mais a mão de Rachel ou ela apertava mais a minha, ambas as mãos estavam soando, nos duas estávamos nervosas.

- To me sentindo totalmente ignorada, fiquei mais de um mês longe e não ganho um abraço dos meus filhos – Rachel falou quebrando o olhar deles em mim e respirei aliviada, no mesmo segundo nossas mãos foram desatadas por aqueles dois que vieram de forma desesperada se jogar pra cima da mãe, abraçando e a fazendo chorar. Se eu não tivesse colocado minha mão atrás das costas dela ela teria caído para trás com o impacto do abraço deles.

Era um coro de – Mãe, você ta aqui mesmo? Mãe, como você saiu? Mãe, eu pensei que você ia ganhar. Mãe, eu te amo. Mãe ... mãe ... mãe ... – Eu não sei se conseguia esconder meu pânico ao ver os filhos dela a chamando de mãe, era obvio que eles a chamavam assim, ela era a mãe deles, mas novamente meu pânico familiar se fez presente. Como eu iria entrar naquela dinâmica que parecia tão bem construída?

Olhei para frente a mãe de Rachel me encarava, a senhora a frente não desviou o olhar de mim, parecia atenta a cada respirar meu. Era tarde demais para voltar correndo e me esconder dentro da Fazenda na casinha da arvore?

- Você realmente é louca, né? Como pede para sair assim do nada? Se minha mãe não ganhou você podia ganhar. Você é muito louca – Clara disse me encarando logo depois de toda a maratona de beijos e questionamentos entre ela e Rachel, as palavras dela me pegaram de surpresa. Ela estava brigando comigo? Ela parecia esta decepcionada comigo. Como eu podia ter decepcionado ela se ela nem sequer me conhecia? Já comecei mal...

- Clarinha, não julgue, acuse ou xingue uma pessoa. Isso é muito feio – Rachel advertiu no tom mais mãe possível, engoli a saliva a seco, aquela era uma versão nova que eu nunca tinha visto antes. Dentro da casa ela às vezes brigava com Jaque ou Lucas, mas nada parecido com aquele tom que ela usou para falar com a filha. Clara, como boa adolescente, revirou os olhos.

- Mas, mãe - A menina protestou – Ela é doida, como pede para sair assim? Era só continuar, se uma saiu a outra tem que continuar e lutar para ganhar – A menina de dezessete anos brigava comigo e senti meu rosto corar, Rachel me olhou e vi seu olhar me pedindo desculpa, não tinha jeito, Clara estava irredutível e brava comigo.

- Acho melhor todo mundo entrar – A mãe de Rachel disse e pegou uma mala pequena, cada um de nós acabamos pegando uma mala. O apartamento de Rachel parecia lindíssimo e tudo que eu tinha visto até então era apenas a sala, no sofá a famosa gatinha Mimi repousava tal como o bibelô que Rachel dizia ela ser, a gata realmente era linda, combinava com toda a elegância do apartamento.

- Mimi – Ver a gata fez Rachel afasta-se de todOs nós e ir até o felino, que a ignorou solenemente, demonstrando todo descontentamento com a ausência dela. Olhei para o lado despretensiosamente e vi o olhar de dona Hosana ainda cravado em mim, ela me dava uma sensação inexplicável de vergonha e medo, me dei conta que ela havia visto todos os beijos e mãos bobas que passei na filha dela, me senti imediatamente envergonhada e sem muito pensar caminhei bem apressadamente até Rachel, literalmente fugi de sua mãe e fui pegar refugio nela.

E a gente vive juntoOnde histórias criam vida. Descubra agora