Capítulo 4

638 88 56
                                    

Kally Fonseca


Fazia algumas horas que o anel da Rachel estava em meu dedo, era engraçado como ele pareceu se encaixar tão bem ali, como se tivesse sido feito para mim. Não sei o que me deu na cabeça quando peguei o anel e selei nosso compromisso de se reencontrar do lado de fora, agi totalmente por impulso, mas não me arrependia. 

Contudo ter aquele anel no meu dedo me trazia um monte de sensações, ele era pesado, não fisicamente, pois era uma peça de joia elegante e confortável, era pesado mentalmente, como um adentro constante que uma parte dela estava comigo, que estávamos atadas, que eu deveria ser uma pessoa melhor e não decepcionar ela a ponto dela desisti de recuperar o anel e nunca mais me olhar na cara, ela preferi perder dinheiro do que me ver novamente.

O selinho trocado ainda mexia comigo, brincando, bêbada, já havia beijado outras mulheres, nada romântico ou profundo, selinho bêbado, beijo sem língua. Eu nunca me envolvi com nenhuma mulher e sempre fui ciente da minha heterossexualidade, mas Rachel me fazia questionar isso. Eu a queria do meu lado, agarrada a mim, queria sentir seu perfume, sua respiração, a doçura de sua pele, ver ela ri e, acima de tudo, provar seu beijo.

De alguma forma eu sentia que aquilo era impossível, Rachel era uma mulher heterossexual (como eu), mãe de dois filhos adolescentes que assistiam ao programa, tinha um nome a zelar e não ficaria comigo em rede nacional. Eu sabia disso e isso me incomodava, engraçado que eu também era uma mulher heterossexual, com uma família e amigos que me assistiam, tão pouco sabia se ficaria com ela em pleno reality, mas pensar que ela jamais ficaria comigo me incomodava.

E do lado de fora? E sem câmeras? Será que um dia eu iria provar do seu beijo? Das suas mãos deslizando pelo meu corpo?

A duvida me consumia e junto da duvida vinha o desejo de ter ela para mim.

- Seus pensamentos estão barulhentos e não me deixam dormir – Rachel disse o mais baixo possível, estávamos todos no quarto já deitados, nós duas de alguma forma que eu nem lembro direito passamos a dividir a cama – No que está pensando? – Ela me perguntou de forma descompromissada e me abraçou de forma totalmente inconsciente sobre minha inquietude ser sobre ela.

- Pensando em coisas inenarráveis – Brinquei, mas no fundo era totalmente verdadeiro.

- Então feche os olhos e conte carneirinhos – Rachel se virou tentando buscar mais conforto na cama, acabou colando mais seu corpo no meu e nossos rostos ficaram perto demais – Quer que eu conte uma historinha para você dormir, neném? – Foi à vez dela de brincar.

- Não – Eu sorri ao ouvir a voz dela zombando de mim, tudo nem era tão doce e gostoso de desfrutar,  me deu vontade de beijar sua bochecha e foi o que fiz, no mesmo momento que ela foi fazer o mesmo comigo, novamente o selinho aconteceu.

- Isso ta virando rotina – Ela disse e riu. Dessa vez eu relaxei ao invés de pirar.

- Gosto de rotina – Foi tudo que eu falei antes de um sentimento de paz me preencher e eu adormecer instantaneamente sendo abraçada por Rachel e com nossos rostos tão perto um do outro.

X

X

Após todos os que tinham função acordar e cumprir suas tarefas foi a hora do encontro na cozinha, aos poucos cada um tomava seu café e os grupos começavam a falar de jogo. A primeira roça já tinha acontecido e eliminado Natalia, agora em poucos dias se daria a nova roça. Eu ainda não me sentia ameaçada, mas temia por Rachel novamente ir parar na berlinda.

- Ela é muito princesinha dondoca – Ouvi Cariúcha falando e nem precisei de esforço para saber que o assunto era Rachel. A implicância com Rachel era muito gratuita, a mulher tinha feito tarefa durante as duas semanas e tentava sempre ajudar as pessoas no cuidado com a casa, é claro que de longe se via que ela não era uma grande cozinheira ou alguém acostumada a limpar uma casa, mas do jeitinho dela atrapalhado ela não se negava a ajudar e fazer as coisas.

- Riquinha mimada. Sempre teve tudo na mão, acha que somos empregados e ela esta de férias por aqui – Foi Jenny que endossou o coro dizendo patifarias. Eu pensei em defender Rachel, mas estaria comprando uma briga desnecessária, já não bastaria uma sendo odiada seriamos duas.

Não defender Rachel me consumiu, o peso do anel me lembrava que eu deveria ter defendido ela, jurei que na próxima eu faria. Totalmente carente e querendo um abraço da minha jornalista fui atrás dela na casinha da arvore, a mesma estava rindo e feliz, totalmente alheia que na cozinha ela estava sendo pauta na boca de pessoas cruéis e invejosas.

- Quero ri também – Falei e me senti ao lado de Rachel, jogando totalmente Andre para longe dela. Eu não conseguia gostar do André, era implicância gratuita, não iria brigar com ele, pois Rachel me odiaria por isso, mas não iria fingir simpatia e muito menos deixar ele colado na minha loira de doces lábios.

Assim que me sentei Rachel segurou minha mão e entrelaçamos nossos dedos, o anel reluziu e não passou despercebido pelo ator a minha frente.

- Esse não é o anel da Rachel? – Ele perguntou curioso e até mesmo com pouco humor.

- O próprio – Rachel afirmou alegre – Mas Kally ficará com ele, tenho certeza que ela cuidará bem e na hora certa vai me devolver – Rachel beijou minha bochecha e foi por muito pouco que não trocamos outro selinho, pois quase que fui beijar sua bochecha também.

- É um anel que parece ser caro – André falou o obvio.

- É um anel valioso que está com uma pessoa mais valiosa ainda – Rachel respondeu e senti meu coração derreter.

Eu não era nenhuma criança, estava ciente dos meus sentimentos e desejos, eu não diria que estava amando Rachel ou talvez nem apaixonada eu estivesse (ainda), mas claramente eu estava encantada por ela e a desejando loucamente.

Encarei André com toda arrogância que consegui, desatei minha mão da mão de Rachel e possessivamente a abracei e a trouxe mais perto de mim, sem deixar de encarar o ator metido a galã, deixando bem claro que eu não iria facilitar a vida dele caso ele tentasse algo com ela.

E a gente vive juntoOnde histórias criam vida. Descubra agora