Capítulo 6

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Kally Fonseca


Eu já havia entendido que estava nutrindo sentimentos por Rachel que iam muito além da amizade, mas era totalmente consciente que esses sentimentos eram unilaterais e impossíveis, afinal de contas ela era uma mulher madura, linda, inteligente, culta, bem vivida, rica e jamais iria querer algo comigo, ainda que eu fosse homem, não teria chance nenhuma com uma mulher como ela. Sendo mulher então seria impossível, mas isso não ia me afastar dela e nem me impedir de tirar todas as casquinhas possíveis, se um dia ela me mandasse parar eu jamais iria continuar, mas enquanto ela me deixasse eu iria curtir ao máximo tudo.

Voltei com ela para sede e ela parecia melhor, me senti uma idiota por ter feito ela chorar, mas acabei que consegui reverter e agora ela parecia realmente bem. Como minha avó sempre dizia,  chorar faz bem.

- Quer que eu faça um bolo para você? – Perguntei já sabendo a resposta. Eu tinha realmente duvidas se Rachel tinha mesmo cinquenta anos, pois a aparência era mais jovem que a minha e sua alimentação era péssima, ela vivia de comer frutas, leite, queijo, pão e bolo. Era pior que criança, mas enquanto André era o chato que a obrigava a comer coisas saudáveis eu era a que mimava com bolos.

- Eu quero – O olho dela brilhou igual de uma criança de dez anos – Vou te ajudar – Rachel era uma negação na cozinha, sua ajuda se limitava a separar os ingredientes e untar a forma, mas eu fingia que isso era muito importante e novamente igual uma criança ela acreditava e se sentia útil.

Fizemos o bolo juntas enquanto eu cantava as musicas que ela ia me pedindo, eu amava a forma que ela me olhava enquanto eu cantava, devo dizer que nem minha mãe quando estava viva ou meu pai pareciam tão encantados ao me ver cantar.

- Você não deveria a alimentar com bolo – André disse meio rabugento quando nos viu na cozinha, ele era realmente chato, mas Rachel gostava dele então eu era obrigada a aturar.

- Deveria sim – Rachel protestou fazendo bico. To dizendo, às vezes ela era uma mulher poderosa e decidida, às vezes só uma criança mimada e, eu, estava apaixonada por ambas as versões.

- Se você comesse mais açúcar não seria tão rabugento – Rachel acrescentou de forma ainda fofa, ela com toda certeza foi uma criança mimada, o que explica sua alimentação ruim, acho que todo mundo sempre olhou para a carinha de anjo dela e deixava ela fazer tudo. Se aos cinquenta anos e mãe de dois filhos ela parecia uma fadinha, imagina quando era realmente uma criança? Jamais julgaria a mãe dela por ser tão permissiva.

- Eu me cuido – André protestou. Vi Rachel se segurando para não dar uma resposta atravessada, eu já a conhecia bem demais, tinha cem por cento de certeza que se ela não fosse extremamente educada e gostasse dele falaria sobre o fato dele fumar tanto. André deu um beijo no topo da cabeça de Rachel e sentou ao lado dela, por mim ele não deveria ter ficado, mas quem sou eu pra expulsar.

Continuei esperando o bolo ficar pronto e a conversa com André era sempre chata, ele falava coisas sem muito sentido, mas Rachel parecia o acompanhar e gostar daqueles assuntos. Por alguns minutos observei eles. Será que era isso que ela curtia? Será que Andre seria quem iria roubar seu coração dentro da Fazenda e bem na minha frente? O pensamento me fez arrepiar e senti meu ombro cair, para minha surpresa Rachel estava atenta a mim e percebeu tudo.

- O que foi, minha linda? – A voz de Rachel doce e destinada a mim me deu vitalidade e senti meu ombro se posturar novamente e um ar de confiança me preencher, ainda que conversando com ele ela estava atenta a mim, tanto quanto eu conhecia ela, ela parecia me conhecer e percebeu que eu havia ficado triste mesmo sem eu dizer nada.

E a gente vive juntoOnde histórias criam vida. Descubra agora