Quatro

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Acordei seis minutos antes do despertador tocar, eram 7: 24 da manhã. Os raios solares invadiam as cortinas do quarto, tingindo o quarto com tons de dourado. Estiquei o braço até a cortina, para averiguar como estava o clima. O céu parecia limpo e o clima estava convidativo, me senti aliviada. Alcancei o celular na mesinha de cabeceira, e uma mensagem de Antônio me arrancou um sorriso.

Antônio: Olá, Marina! Espero que esteja tão ansioso quanto eu! Estou muito animado!!

Marina: Bom dia! 😊 Estou muito animada!! Acho que vamos ter um dia maravilhoso!

Pensei em como ele escrevia como um senhor de idade, e um sorriso brotou dos meus lábios. A simplicidade e a gentileza de suas palavras me fizeram sentir que estava prestes a embarcar em algo verdadeiramente especial. Foi reconfortante saber que ele estava tão ansioso quanto eu para o nosso dia juntos, e o calor da mensagem aqueceu meu coração naquela manhã promissora.

Retirei os cobertores e levantei da cama. Quando entrei na cozinha, fui recebida pelas cálidas luzes douradas do sol que já invadiam a janela. Debaixo do balcão, alcancei a garrafa de café que trouxera da casa da minha mãe quando me mudei. Ela estava desgastada e com inúmeras marcas de uso, mas cada arranhão contava uma história, e aquela garrafa era parte de minhas memórias de infância.

Com a garrafa pronta, peguei o coador de pano e o posicionei sobre a abertura da garrafa. Com destreza, medi as colheres de pó de café e as coloquei no coador.

O vapor da água fervente preencheu o coador, liberando o aroma rico e reconfortante do café recém- passado. À medida que a bebida escura enchia a garrafa, a pontada de insegurança começava a preencher minha cabeça. Será que nos daríamos tão bem? O que exatamente eu esperava de Antônio?

A lembrança de Pedro invadiu meus pensamentos. A simples menção ao seu nome me causava arrepios. Quando começamos tudo parecia perfeito, e não havia outro lugar no mundo que eu gostaria de estar. Os dois queriam ganhar a vida com ilustração e logo após o ensino médio, sentíamos que juntos poderíamos ganhar o mundo. Até que finalmente eu ganhei. E isso foi a maior ofensa que eu poderia ter feito a ele.

Nos meus piores pesadelos, os gritos e as ofensas ecoavam na minha cabeça. Aparentemente eu não poderia me destacar mais que ele, e assim a proposta escapou pelos meus dedos. Tinha medo do que as pessoas poderiam se tornar. O quão é saudável conhecer uma pessoa intimamente?

Meus pensamentos se tornaram um emaranhado de incertezas enquanto eu terminava de passar o café. A pressão dos meus dilemas passados e a antecipação do que o dia traria pareciam formar um nó apertado dentro de mim. Eu sabia que estava exagerando, que talvez estivesse criando expectativas que não eram realistas. O que realmente sabia sobre Antônio? Nada além daquela noite na padaria e de algumas mensagens trocadas.

Ao pegar a xícara de café e sentir o calor reconfortante em minhas mãos, me dei conta de que estava prestes a embarcar em uma jornada completamente incerta. Não sabia o que esperar, nem mesmo que tipo de envolvimento teríamos. Uma voz no fundo da minha mente me lembrava que o amor não acontece de um dia para o outro, que as histórias de conto de fadas raramente se tornam realidade. E, no entanto, lá estava eu, com o coração acelerado de entusiasmo, ansiosa para ver o que o dia me reservava.

Com um suspiro, dei um gole no café e decidi que, por mais incertas que fossem as coisas, valia a pena tentar. Eu não podia deixar minhas inseguranças do passado ditar meu futuro. Este era um novo capítulo, um novo começo, e eu estava determinada a enfrentá-lo com um coração aberto. As incertezas eram apenas parte do jogo, e o que quer que acontecesse, eu estava disposta a vivê-lo intensamente.

Meu coração que já batia forte durante o trajeto até a rodoviária, parecia prestes a sair do meu corpo quando cheguei, olhava para os lados. Fiquei procurando por seu rosto familiar entre as muitas pessoas que ali estavam. As movimentações das pessoas para as festas de final de ano começavam a ficar intensas, à medida que a data se aproximava, o que fazia com que o galpão de tijolos vermelhos ficasse mais cheio. Algumas filas já se formavam nas plataformas de embarque.

Doce Clichê de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora