Dois

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Antônio deslizou de trás do balcão, com um sorriso caloroso no rosto. Em suas mãos, segurava com cuidado um bolo coberto de uma fina camada de geleia de cor roxa. O bolo era lindo, enfeitado com pequenos flocos de coco ralado e enfeitado com jabuticabas brilhantes, que pareciam reluzir sob as luzes. Um aroma doce de se espalhava pelo ar, tornando o bolo ainda mais convidativo.

— Marina, aqui está. — Antônio disse, com um brilho nos olhos enquanto colocava o bolo na mesa entre eles. — Esse foi o bolo que me fez ficar aqui até tarde hoje. Você vai ser a primeira a experimentar.

Observei o bolo com admiração. A decoração delicada prometia um sabor incrível. Não pude deixar de sorrir, sentindo-se tocada pelo gesto de Antônio.

— Que honra, Antônio! — exclamei — Parece incrível, o bolo está lindo!

— Espero que goste. — disse ele com humildade — Não é uma combinação muito comum, coco e jabuticaba, mas espero que esteja bom.

Segurei o garfo com antecipação, observando a fatia do bolo à minha frente.. A fatia revelava camadas tentadoras: a massa de baunilha, a geleia de jabuticaba e uma camada de coco ralado. O aroma doce de baunilha pairava no ar, misturando-se com a fragrância da geleia de jabuticaba e do coco fresco.

Com cuidado, levei o garfo à minha boca, ansiosa para experimentar esse bolo especial da casa. A primeira mordida foi uma explosão de sabores. A massa de baunilha era incrivelmente macia e úmida, desmanchando-se na minha língua. A geleia de jabuticaba revelou sua doçura e um toque sutil de acidez, criando um contraste delicioso com a suavidade da massa.

Um suspiro involuntário escapou dos meus lábios, e meus olhos se encontraram com os de Antônio, que observava com expectativa. Senti uma sensação de calor e aconchego preencher todo o meu ser. Era uma combinação que eu nunca imaginaria se completarem tanto em um bolo. O doce e a acidez formavam uma explosão de sensações na minha boca

— Uau, Antônio, isso é incrível! — Exclamei, maravilhada com a combinação de sabores. — Essa geleia de jabuticaba é tão única, e o coco dá um toque especial. Tem... não sei explicar, gosto de natal.

Antônio sorriu, claramente satisfeito com minha reação. Eu queria demonstrar toda a satisfação que senti ao comer aquele bolo, mas ao mesmo tempo, só queria continuar comendo.

— Você realmente sabe bem o que fazer. — falei enquanto preparava mais uma garfada.

— É muito bom ouvir isso, principalmente hoje que tudo tem ido tão mal. Obrigado, Marina. — agradeceu, sua voz carregada pela emoção.

Repousei o garfo por um instante e encarei Antônio. Eu podia odiar conselhos motivacionais, mas odiava ainda mais que boas pessoas acreditassem serem ruins por causa de outras pessoas.

— Talvez seja porque você tem a coragem que outras pessoas não tem. — falei. — Hoje apareceu uma senhora na loja, que me lembrava muito minha avó, acabei lembrando das receitas que ela fazia nessa época. Ela também não tinha medo, não havia nada que não pudesse ser transformado em um doce.

Antônio parecia realmente atento em me ouvir.

— As avós que cozinham são as melhores. Ela deve ter sido maravilhosa. — Antônio comentou, parecendo genuinamente interessado.

— Ela era. E sempre dizia que a cozinha era um lugar mágico. Ela até tentou me ensinar, mas não herdei seu talento. — Sorri, lembrando das lições dela. — Acho que você entende disso, Antônio. O bolo que você fez é uma prova disso.

Ele sorriu, um gesto gentil que iluminou seu rosto. Com um toque lento e cuidadoso, Antônio se levantou da cadeira de madeira e ajustou seus óculos no rosto. Os enormes óculos redondos eram um traço marcante, e Antônio parecia se sentir mais à vontade quando eles estavam perfeitamente alinhados.

Doce Clichê de NatalOnde histórias criam vida. Descubra agora