cap 4

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Faz alguma coisa. Mas o quê? A não ser que eu arrancasse as chaves do carro das mãos do Howard, não conseguia pensar em nenhum jeito de escapar daquela casa. Finalmente, soltei o cinto de segurança e o segui até lá.

A casa era  normal, como se para compensar a localização. Howard deixou minha mala ao lado da porta e fomos para a sala, onde havia duas poltronas e um sofá de couro. Vários pôsteres de viagem antigos estavam pendurados nas paredes, e o lugar inteiro cheirava a alho e cebola, mas de um jeito bom, é claro.

— Bem-vinda ao lar — disse Howard, acendendo a luz. Um novo pânico me atingiu em cheio, e ele estremeceu ao ver minha expressão. — Quer dizer, bem-vinda à Itália. Estou muito feliz por você estar aqui.

— Howard.
— Oi, luna.

Uma mulher alta com postura de gazela entrou na sala. Ela devia ser alguns anos mais velha que Howard, tinha a pele cor de café e ostentava várias pulseiras douradas nos braços. Estava deslumbrante. E também surpresa.

— sarah — disse ela, enunciando meu nome cuidadosamente. — Você chegou. Como foram os voos?

Fiquei um pouco sem jeito. Será que ninguém ia fazer a gentileza de nos apresentar?

— Bons. Mas o último foi muito longo.

— Estamos muito felizes por você estar aqui.
Ela sorriu para mim, e um silêncio pesado se instalou. Finalmente, eu dei um passo à frente.

— Então... você é a esposa do Howard?
Howard e luna se olharam e quase tiveram um ataque de riso. sarah thompson, gênio da comédia.

Howard só conseguiu parar de rir alguns segundos depois.

— sarah, esta é luna. Ela é a superintendente-assistente do cemitério. E trabalha aqui há mais tempo do que eu.

— Só alguns meses a mais — explicou luna, enxugando os olhos. — Howard sempre me faz parecer um dinossauro. Minha casa também fica nesta propriedade, um pouco mais perto do memorial.

— Quantas pessoas moram aqui?

— Só nós dois. Agora nós três — respondeu ele.

— E uns quatro mil soldados — acrescentou luna, sorrindo.
Ela virou os olhos para Howard, e eu olhei para trás bem a tempo de vê-lo passar o indicador freneticamente sobre a garganta. Comunicação não verbal. Ótimo. O sorriso da luna desapareceu.

— sarah, você está com fome? Eu fiz lasanha.
Então era daí que vinha o cheiro.

— Estou morrendo de fome — admiti.
E não estava exagerando.

— Que bom. Lasanha com pão de alho cheio de alho é minha especialidade.

— Boa! — exclamou Howard, dando um soco no ar, exageradamente triunfante. — Nada como ser mimado por luna.

— É uma noite especial, então achei que deveria caprichar. sarah, acho que você vai querer lavar as mãos, certo? Vou pôr a mesa, nos encontre na sala de jantar.
Howard apontou para o outro lado da sala.

— O banheiro fica ali.

Eu assenti, depois coloquei a mochila na poltrona mais próxima e praticamente fugi para o banheiro. O cômodo era minúsculo, mal tinha espaço para um vaso sanitário e uma pia.

Deixei a água ficar o mais quente que consegui aguentar e esfreguei as mãos com um pedaço de sabonete que estava na borda da pia, para me livrar de qualquer vestígio da viagem.

Enquanto me lavava, tive um vislumbre de mim mesma no espelho e soltei um gemido. Eu parecia alguém que foi arrastada por três fusos horários. O que, para ser sincera, tinha de fato acontecido. Além das olheiras, minha pele, em geral bronzeada, estava pálida e amarelada.

Meu cabelo enfim tinha conseguido desafiar as leis da física. Molhei as mãos e tentei domar os cachos, mas isso só serviu para deixá-los ainda mais desgrenhados. Acabei desistindo. E daí que eu estava parecendo um porco- espinho que tinha acabado de tomar Red Bull? Pais devem aceitar os filhos como eles são, não é?

Do lado de fora do banheiro, uma música começou a tocar e a chama que era meu nervosismo se transformou numa fogueira. Será que eu precisava mesmo jantar? Talvez pudesse me esconder em algum quarto enquanto caía a ficha daquela coisa toda de cemitério. Ou não. Mas meu estômago roncou em protesto e aiii... Sim, eu precisava mesmo jantar.

— Aí está ela — disse Howard, levantando-se.
A mesa estava posta com uma toalha xadrez vermelha, e um rock das antigas, que eu já tinha ouvido em algum lugar, tocava num iPod perto da entrada da sala. Eu me sentei, num lugar diante deles, e Howard fez o mesmo.

— Espero que você esteja com fome. luna cozinha muito bem. Acho que essa é a verdadeira vocação dela. Agora que não estávamos mais sozinhos, ele parecia muito mais relaxado. luna sorriu.

— Nem pensar. O meu destino era morar no memorial.

— Está com uma cara boa. — E com "boa" eu queria dizer deliciosa. Havia uma travessa fumegante de lasanha ao lado de uma cesta de fatias grossas de pão de alho e uma tigela de salada cheia de tomates e alfaces crocantes.

Precisei de toda a minha força de vontade para não atacar a comida. Luna cortou a lasanha e colocou um grande pedaço com queijo escorrendo no meio do meu prato.

— Fique à vontade para se servir de pão e salada. Buon appetito.

— Buon appetito — repetiu Howard.

— Buon appe... sei lá o quê — murmurei.
Assim que todos foram servidos, peguei o garfo e comecei a devorar a lasanha. Eu sabia que devia estar parecendo um animal selvagem, mas depois de um dia inteiro à base de comida de avião, não consegui me controlar.

As refeições do voo pareciam vir em porções miniaturas. Quando finalmente fiz uma pausa para respirar, luna e Howard estavam me olhando, e ele parecia ligeiramente horrorizado.

— Então, sarah, o que você gosta de fazer? — perguntou luna. Eu peguei um guardanapo.

— Além de assustar as pessoas com meus modos à mesa? Howard soltou uma risadinha.

o destino - nle doprêOnde histórias criam vida. Descubra agora